quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Finalmente Mestre!!!

                Pessoal, 2016 está nos deixando e como muitos outros anos, este teve coisas boas e más! Uma das coisas boas foi a defesa da dissertação de Mestrado, realizada em 17/10, um dia após meu aniversário!
                Durante todo o ano de 2015 e de 2016 estive imerso na pesquisa e na escrita deste trabalho, e confesso, sinto-me muito feliz ao dar à luz a este tão dificultoso filho! Cada dia foi de luta, tendo que estudar, trabalhar, apresentar relatórios e ainda as constantes idas e vindas entre o Icó e Fortaleza para as aulas, para as reuniões com o Orientador.
                Mas consegui! E quero compartilhar com vocês o resultado, segue o Link para acesso a minha dissertação: As ações de extensão na construção de uma universidade sertaneja. http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/21106.
                 RESUMO:  A extensão universitária tem papel fundamental na formação plena dos estudantes em face da capacidade que ela tem de retroalimentar o ensino e a pesquisa. Por meio dela a Universidade pode levar o conhecimento que está sendo produzido em suas pesquisas para a sociedade. Tais ações quando aplicadas por uma universidade que está inserida no Semiárido, trazem em si a possibilidade de transformar a realidade desse lugar e contribuir para o seu desenvolvimento, não só na formação de pesquisadores, professores e técnicos para atuar na região, como também influenciando diretamente nos aspectos socioculturais do território no qual se insere. O Instituto de Estudos do Semiárido (IESA), uma unidade acadêmica da Universidade Federal do Cariri (UFCA), localizado no Campus Icó, desenvolve atividades que buscam pesquisar e conhecer melhor as dinâmicas do semiárido e privilegiando a atuação social na busca de um desenvolvimento sustentável. O objetivo deste estudo é compreender as percepções e as representações geradas pela implantação de um campus universitário em uma cidade do semiárido nordestino por meio dos Projetos de Extensão desenvolvidos no âmbito da Universidade.Para tanto foram realizadas entrevistas com os estudantes extensionistas, utilizando técnicas de Análise do Discurso para apreender os sentidos que a Extensão assume nas falas dos entrevistados. Por fim, utilizando conceitos como o de Cultura Organizacional de Schein e o Paradigma da Complexidade, presente nas obras de Morin, apresentar os pontos em que a extensão universitária e seus impactos internos e externos à instituição contribuem para a construção de uma Universidade Sertaneja em Icó. Desse modo essa pesquisa trará contribuições às discussões sobre a Avaliação de Políticas Públicas de Ensino Superior, por meio da abordagem da Extensão Universitária, e sobre o caráter da expansão do Ensino Superior para o sertão nordestino.
                     Espero que gostem ! Boa Leitura!

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Dica de Livro

E aí galera, na boa? Esses dias estive lendo um livro bacana: O príncipe de Westeros e outras histórias. Acho que como eu muita gente chegou a esse livro pelo título, afinal, George Martin escrevendo mais sobre o universo de Game of Thrones, atrai fãs da saga como mel atrai moscas...
Mas vejam só o livro é uma grata surpresa! Uma coletânea excelente com textos de autores conhecidos no Brasil (Neil Gaiman, o Martin) e outros nem tanto, mas todos muito bons!
 O prefácio de Martin, apresentando o livro como uma reunião de histórias de cafajestes vale muito a pena!!!
Cada texto leva a lugares diferentes: um mundo fantástico, uma metrópole agitada, uma cidade perdida no interior, nos apresentando a beberrões, ladrões, falsários e mais uma enorme coleção de gente desajustada e boa!
O ponto fraco, vejam só, é o conto que deu nome ao livro, uma compilação requentada de um personagem de Westeros, que pode ser lida quase que com as mesmas palavras no "O mundo de Gelo e Fogo".
Vai por mim, esquece o príncipe de Westeros e embarca na viagem com os demais contos. Você não vai se arrepender! Se ainda não leu, vale a pena!

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O que terminei de ler...




Terminei de ler A Guerra do Fim do Mundo, de Mário Vargas Llosa. Duas palavras: Livro Maravilhoso! Quem já leu Os Sertões, de Euclides da Cunha, com certeza já sentia o potencial de se romancear a história de Canudos, seus personagens únicos, seu mundo mítico e fabuloso, onde o catolicismo popular, o imaginário do sertanejo e as reminiscências dos contos medievais mesclam-se para dar àquela gente simples, uma fé inabalável, uma certeza capaz de vencer a tudo, de impelir ao maior sacríficio, que foi lutar até o fim por sua “Jerusalém” de taipa.
Dois personagens me chamaram a atenção: João Grande, o ex-cangaceiro que convertido ao Bom Jesus comandou até o fim os guerreiros do Arraial e o anarquista escocês Galileo Gall.
Detenhamo-nos no escocês. Em sua vida lutara por quase toda a Europa Ocidental de fracasso em fracasso, fugindo de prisões, escapando a morte e por fim vindo parar em Salvador. Na velha cidade colonial, que em fins de século XIX, procurava colocar-se no caminho do progresso, Galileo tem uma vida errante e sem sentidos. Não há um movimento revolucionário no Brasil, ao qual possa aderir e prosseguir em sua luta por um mundo melhor!
No entanto, a certa altura toma conhecimento da derrota das forças federais no Sertão da Bahia pelos homens de Antonio Conselheiro. Isso chama a sua atenção. Procura inteirar-se dos fatos. Busca testemunhas, pessoas que tenham ido a Canudos e que possam lhe fazer um retrato do que ali ocorria; Munido das informações que colheu, toma como destino juntar-se aos sertanejos, e unido a eles fazer a sua revolução: Gall vê em Canudos a sua revolução, a luta contra a ordem opressora, a busca pela união e igualdade de todos os homens em uma sociedade  mais justa!
Gall vê apenas o que quer. Mesmo quando próximo ao arraial, em contato com os sertanejos, ignora o verdadeiro sentido da luta e continua seguindo para a sua idealizada Canudos. Buscando desesperadamente morrer em Canudos, não pelo Bom Jesus e pelo novo mundo, esperando por Dom Sebastião, mas pelo seus sonhos revolucionários, que viam em Canudos novos Communardes. Creio que procurando, encontremos ainda hoje, os Galileos Gall, lutando por utopias, não porque sejam impossíveis de serem realizadas, mas porque sua leitura equivocada da conjuntura, acaba enredando-os ainda mais nas próprias quimera, afastando-os da vida real, do mundo real.
Quanto a João Grande, Llosa o torna o herói de Canudos, o incansável  comandante da rua, o antigo cangaceiro feroz, personifica, o crente ideal de Canudos, que nunca perde a Fé e que luta até o fim contra as forças do governo. Seu ultimo ato, o massacre de inocentes que desejavam entregar-se é entendido como um ato misericordioso, uma vez que caídos ali, à bala, aqueles crentes iriam para o céu, ao passo que entregues ao Governo, era quase certo a morte por degola, o que na crença dos seguidores do Conselheiro, representava a condenação ao inferno.  Seu destino, revelado nas últimas linhas do livro não deixa de ter sua poesia: um oficial do corpo policial baiano, que há anos  o perseguia, quer saber o que aconteceu ao Comandante da rua, travando este diálogo com uma das velhinhas feitas prisioneiras;
“ – Quer saber do João Abade? – Balbucia sua boca sem dentes.
 - Quero – assente o Coronel Macedo – Viu-o morrer?
A velhinha nega e faz estalar a língua, como se chupasse algo.
 - Escapou então?  
A velhinha volta a negar, cercada pelos olhos das prisioneiras.
– Subiram-no ao céu uns arcanjos – diz, estalando a língua – Eu os vi.”
Aqui termina o livro. Não poderia imaginar um melhor final para o livro e para o personagem.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Sertão do Ceará: reflexões ao viajante

            Saia de Fortaleza e vá para o interior do Ceará. Esteja preparado. Você vai , na maioria das vezes sair do século XXI e, se tiver sorte, mergulhar num ambiente que lembra as últimas décadas do século XX, ou, se der azar, parar no meio do século XIX. E você nem precisou do Delorean, de um buraco de minhoca ou outra parafernália qualquer da ficção científica.
         Se você tomar a BR-116 e seguir rumo ao Sul do estado você em pouco mais de 150 quilômetros vai se surpreender pela mudança na vegetação. A caatinga assoma soberana até onde a vista alcança. Se você estiver em um automóvel  com ar condicionado (acredito ser muito difícil que você não utilize um) desligue o ar e baixe os vidros. O calor sufocante vai assustá-lo. Nada da brisa fresca do mar, o vento que vem até você é seco e quente, como se tivesse vindo de uma fornalha. Pare o carro. Desça e pise no solo às margens do asfalto(em alguns lugares talvez não consiga, porque as cercas de arame farpado que acompanham a estrada às vezes seguem rente, colado a elas) . O solo estala, crepita sob seus pés. No céu sem nuvens, de um azul brilhante você pode avistar pontos pretos que parecem estar fixos na abóbada celeste. São aves de rapina que do alto batem com o olhar as caatingas em busca de alimento. Siga viagem. Aqui e ali você verá casinhas. De todos os tipos, de todas as cores, de tijolos vermelhos, de tijolos brancos, umas rebocadas, outras não, casinhas de barro. Algumas estão semidestruídas, algumas por terem sido abandonados pelos moradores, outras porque os moradores diante das dificuldades da vida abandonaram o cuidado com elas. Se estiver viajando após o meio dia verás, em muitas dessas casas, as portas e janelas abertas e redes multicores estendidas na sala, nos alpendres e o povo a sono solto...
                Nas cidades você vai encontrar uma ou duas ruas concentrando o comércio, onde as grandes redes de loja disputam espaço e clientes com as lojinhas locais, prédios antigos, a depender da vontade do povo e do governo, bem ou mal conservados, uma igrejinha numa praça... O trânsito é caótico, motos(muitas motos), carros, ônibus, bicicletas e pedestres todos parecem contradizer a lei da física que diz que dois lugares não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. O Pau de Arara (pelo menos pelas manhã) é o senhor absoluto das vagas nas ruas do centro. Chegam cedinho trazendo quem mora na zona rural para fazer compras “na rua”, como dizem os sertanejos,  ficam até o meio dia e retornam para os distritos e sítios abarrotados de gente, animais e os mais diversos produtos. Aqui a Internet é lenta,  TV aberta só por parabólica (se você não quiser assistir um único canal) e salário mesmo, só dos aposentados e dos servidores públicos. A política local é dividida em duas facções, não importando os partidos, que apenas se adequam às especificidades locais.
                   Capitalismo? É um vernizinho jogado por cima das relações patriarcais e de compadrio que predominam de verdade na região. Socialismo? É um nome bonito pra assistencialismo do governo aos pobres. E no cardápio você tem ainda uma religiosidade marcadamente material, observada nos breves e escapulários, nas mantilhas das beatas, nas promessas aos mais diversos santos (oficiai ou não), nos ex-votos... Um caldo cultural no qual veio juntar-se, primeiro as Igrejas Evangélicas, com seus shows da Fé e seu proselitismo exacerbado, depois, coisa dos últimos anos, os alunos e professores dos Campi universitários que pululam no interior, crescendo vertiginosamente como o mato e os buracos das estradas abundam depois das chuvas.

                     E chuva? Chuva é festa! Tudo se transforma! É molecada correndo na rua alagada chapinhando no lamaçal, é o povo dentro de casa correndo com baldes e bacias pra impedir que as goteiras inundem as casas. A caatinga se cobre de verde, o clima se torna ameno, quem se acostumou a ver o semiárido como uma terra estéril, seca, não o reconhece quando da temporada de chuvas! São lagoas que surgem do nada, já com peixes nela! É milho, feijão batata e outros produtos agrícolas sendo negociados nas calçadas, pontos de ônibus, nas praças! A vida, tão dura, tão bruta, parece que nesses tempos se amansa e justifica o porquê do Sertanejo se apegar tanto a ela!