2018
já começou. Os partidos burgueses buscam costurar um nome de consenso para as
eleições, sendo que mesmo estas, diante da conjuntura, não parecem estar
garantidas. Diariamente as redes sociais e a grande mídia testam nomes que vão
desde as velhas caras (Alckmim, Serra) passando pelo que rotulam como novo
(Dória), caricaturas (Hulk), além do velho flerte com a direita fascista
(Bolsonaro). Os partidos iniciam as estratégias para descolar a sua imagem do
impopular governo Temer, não porque tenham desacordo com o mesmo, mas porque
precisam apresentar-se às urnas como diferentes.
À
esquerda, observamos um processo tímido de reorganização das lutas dos
trabalhadores, que sofre constantes freios da direção majoritária, ainda
desejosa de canalisar as insatisfações para as urnas, garantindo o retorno ao
governo do PT. Por vezes esse freio beira a traição, como nos atos nacionais do
dia 05/12, quando diversas centrais recuaram da greve geral. Uma inesperada
reação das bases obrigou a CUT e as demais centrais a irem as ruas, fazendo com
que os atos fossem maiores do que o esperado! No entanto, a experiência dos
trabalhadores com essas direções precisa avançar mais, para que haja mudanças
profundas nas estruturas sindicais, bem como, em muitas categorias, ainda são
atomizados os movimentos de oposição que possam se colocar enquanto alternativa
de direção.
Este
panorama é o que assistiu ao lançamento da Plataforma Vamos, que no segundo
semestre levantou discussões programáticas com vistas a elaborar um programa de
esquerda para ser apresentado às eleições de 2018. Apesar de ser uma iniciativa da FPSM, apoiado pelo
MTST, os debates do Vamos se mantiveram a nível de Vanguarda. Foi um importante
momento de discussão, de aproximação dos diversos setores e correntes de
esquerda, mas não conseguiu se tornar um movimento mais expressivo.
No
entanto, um dos frutos dessas discussões foi pautar o nome de Boulos, como
possível candidato em 2018. Para alguns, como alternativa à Lula, caso a
justiça burguesa dê seguimento ao golpe e o impeça de disputar as eleições.
Para outros como o candidato à esquerda do PT, aglutinando a importante base
social do MTST aos demais movimentos, correntes e partidos da esquerda.
Mas,
a candidatura de Boulos é realmente positiva para construção de uma alternativa
para a esquerda, a esquerda revolucionária? Para responder a essa pergunta é
preciso responder a uma outra, por que os revolucionários participam de
eleições?
De
acordo com a tradição bolchevique, que ficou registrada nos primeiros
congressos da III Internacional, as eleições se mantinham como espaço tático de
atuação dos revolucionários, uma vez que as massas proletárias permaneciam com
ilusões a respeito do parlamento e processo democrático burguês, tornando a
atuação dos partidos revolucionários importante na medida em que se pudesse
faze a denúncia dessa democracia e atuar como revolucionários dentro das
estruturas parlamentares burguesas.
Dito
isso, voltemos para a primeira pergunta. É preciso entender não só a figura do
camarada Guilherme Boulos, como também as suas posições. Boulos, dirigente do
MTST, em São Paulo, começa a se projetar nacionalmente a partir das
manifestações de Junho de 2013. Estar a frente de uma organização que congrega
milhares de trabalhadores, notadamente da periferia, em uma luta pelo direito à
moradia, credenciou Boulos a dialogar com amplos setores da esquerda. O Vamos
nasce desse diálogo.
Apesar
de apresentar posturas bem mais avançadas do que o PT e do que os partidos
reformistas em geral, provavelmente, reflexo de suas bases, Boulos nunca se
colocou abertamente contra a tática reformista. E mesmo quando seu nome começou
a ser colocado como candidato da esquerda, este sempre fez a ressalva de que
tendo Lula como candidato, ele não lançaria o seu nome.
Em
outras palavras, não há, por parte de Boulos, desejo de se contrapor ao
reformismo, independente do que sua base possa desejar. O máximo eu se pode
esperar dele é que se comporte como uma das viúvas do lulismo, sendo candidato
se e somente se, Lula não concorrer. Acredito ser algo muito frágil para que a
esquerda brasileira possa apoiar-se e construir toda uma tática de atuação
eleitoral.
O
correto neste momento é buscar construir um nome dentro das nossas fileiras. Um
lutador que se coloque resolutamente contra o reformismo e além disso um nome
que possa fazer com que a própria disputa contra a US, dentro do PSOL, possa
ser realizada de forma qualificada.
Devemos
ainda levar em conta que o próprio Boulos, apesar de toda a especulação e dos
convites, não se filia ao PSOL e reafirma que sua candidatura só faz sentido se
Lula não puder ser candidato
Concluindo, Boulos é
um bom nome, pelas possibilidades de diálogo com sua base, por ser um nome que
poderia trazer uma repercussão enorme, pelas lutas que o mesmo encabeça. No
entanto, a vanguarda não pode atrelar-se novamente ao reformismo. Sabemos o
duro preço que pagamos pelo regime reformista de Lula e do PT, e não podemos
ser os responsáveis por uma reedição do Lulismo, com outra cara. É nas lutas
que mudaremos esse país. No entanto, a arena eleitoral não pode de forma
alguma, ser abandonada pelos revolucionários.