terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Em 2018, vamos ou não vamos?

2018 já começou. Os partidos burgueses buscam costurar um nome de consenso para as eleições, sendo que mesmo estas, diante da conjuntura, não parecem estar garantidas. Diariamente as redes sociais e a grande mídia testam nomes que vão desde as velhas caras (Alckmim, Serra) passando pelo que rotulam como novo (Dória), caricaturas (Hulk), além do velho flerte com a direita fascista (Bolsonaro). Os partidos iniciam as estratégias para descolar a sua imagem do impopular governo Temer, não porque tenham desacordo com o mesmo, mas porque precisam apresentar-se às urnas como diferentes.
À esquerda, observamos um processo tímido de reorganização das lutas dos trabalhadores, que sofre constantes freios da direção majoritária, ainda desejosa de canalisar as insatisfações para as urnas, garantindo o retorno ao governo do PT. Por vezes esse freio beira a traição, como nos atos nacionais do dia 05/12, quando diversas centrais recuaram da greve geral. Uma inesperada reação das bases obrigou a CUT e as demais centrais a irem as ruas, fazendo com que os atos fossem maiores do que o esperado! No entanto, a experiência dos trabalhadores com essas direções precisa avançar mais, para que haja mudanças profundas nas estruturas sindicais, bem como, em muitas categorias, ainda são atomizados os movimentos de oposição que possam se colocar enquanto alternativa de direção.
Este panorama é o que assistiu ao lançamento da Plataforma Vamos, que no segundo semestre levantou discussões programáticas com vistas a elaborar um programa de esquerda para ser apresentado às eleições de 2018. Apesar  de ser uma iniciativa da FPSM, apoiado pelo MTST, os debates do Vamos se mantiveram a nível de Vanguarda. Foi um importante momento de discussão, de aproximação dos diversos setores e correntes de esquerda, mas não conseguiu se tornar um movimento mais expressivo.
No entanto, um dos frutos dessas discussões foi pautar o nome de Boulos, como possível candidato em 2018. Para alguns, como alternativa à Lula, caso a justiça burguesa dê seguimento ao golpe e o impeça de disputar as eleições. Para outros como o candidato à esquerda do PT, aglutinando a importante base social do MTST aos demais movimentos, correntes e partidos da esquerda.
Mas, a candidatura de Boulos é realmente positiva para construção de uma alternativa para a esquerda, a esquerda revolucionária? Para responder a essa pergunta é preciso responder a uma outra, por que os revolucionários participam de eleições?
De acordo com a tradição bolchevique, que ficou registrada nos primeiros congressos da III Internacional, as eleições se mantinham como espaço tático de atuação dos revolucionários, uma vez que as massas proletárias permaneciam com ilusões a respeito do parlamento e processo democrático burguês, tornando a atuação dos partidos revolucionários importante na medida em que se pudesse faze a denúncia dessa democracia e atuar como revolucionários dentro das estruturas parlamentares burguesas.
Dito isso, voltemos para a primeira pergunta. É preciso entender não só a figura do camarada Guilherme Boulos, como também as suas posições. Boulos, dirigente do MTST, em São Paulo, começa a se projetar nacionalmente a partir das manifestações de Junho de 2013. Estar a frente de uma organização que congrega milhares de trabalhadores, notadamente da periferia, em uma luta pelo direito à moradia, credenciou Boulos a dialogar com amplos setores da esquerda. O Vamos nasce desse diálogo.
Apesar de apresentar posturas bem mais avançadas do que o PT e do que os partidos reformistas em geral, provavelmente, reflexo de suas bases, Boulos nunca se colocou abertamente contra a tática reformista. E mesmo quando seu nome começou a ser colocado como candidato da esquerda, este sempre fez a ressalva de que tendo Lula como candidato, ele não lançaria o seu nome.
Em outras palavras, não há, por parte de Boulos, desejo de se contrapor ao reformismo, independente do que sua base possa desejar. O máximo eu se pode esperar dele é que se comporte como uma das viúvas do lulismo, sendo candidato se e somente se, Lula não concorrer. Acredito ser algo muito frágil para que a esquerda brasileira possa apoiar-se e construir toda uma tática de atuação eleitoral.
O correto neste momento é buscar construir um nome dentro das nossas fileiras. Um lutador que se coloque resolutamente contra o reformismo e além disso um nome que possa fazer com que a própria disputa contra a US, dentro do PSOL, possa ser realizada de forma qualificada.
Devemos ainda levar em conta que o próprio Boulos, apesar de toda a especulação e dos convites, não se filia ao PSOL e reafirma que sua candidatura só faz sentido se Lula não puder ser candidato
Concluindo, Boulos é um bom nome, pelas possibilidades de diálogo com sua base, por ser um nome que poderia trazer uma repercussão enorme, pelas lutas que o mesmo encabeça. No entanto, a vanguarda não pode atrelar-se novamente ao reformismo. Sabemos o duro preço que pagamos pelo regime reformista de Lula e do PT, e não podemos ser os responsáveis por uma reedição do Lulismo, com outra cara. É nas lutas que mudaremos esse país. No entanto, a arena eleitoral não pode de forma alguma, ser abandonada pelos revolucionários.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

"Realidade"?

      É muito fácil para quem teve acesso a uma educação racionalista, questionadora e aberta, conjugada a um ambiente familiar livre de preconceitos, fazer chacota da maioria silenciosa que não teve tantas oportunidades de educação e que vive sob o tacão da família e dos sacerdotes de vários matizes, por acreditarem em mitologias diversas. Falta-lhes um exercício de alteridade e de reconhecer que só porque algo não é concreto, palpável, tal coisa não é real.
     Na verdade muito do que é fruto da imaginação dos seres humanos toma poderosos aspectos de realidade, a ponto de forçar atitudes, hábitos e criar costumes. E, observe, seu caráter coletivo, de construção conjunta de toda uma sociedade dá-lhes uma coesão que dificilmente encontramos em outros aspectos da vida social. 
      Você, leitor, deve estar imaginado, até que aqui, que estou a falar das religiões, das crenças. Sim estou. Mas não apenas delas. Falo aqui também de muitas outras ficções, que hoje, dificilmente alguém poderia questionar a sua concretude. Entram aqui os Estados, o dinheiro e muitas outras construções coletivas, que embora fruto da atuação imaginativa do homem, hoje permanecem de pé, quase que por si sós. 
       Daí, a importância da pergunta: O que é real? O que é fantasia? 
       Vivemos neste mundo entre luz e sombra, entre a dor e a alegria e muitas vezes a única coisa que nos prende a sanidade é acreditar em ficções bem sucedidas. Porque é isso que nós seres humanos somos, desde que aprendemos a andar eretos, desde que pintávamos nosso cotidiano nas paredes das cavernas. Somos contadores de histórias. Somos inventores de nossa realidade, de nossa própria humanidade. Somos inventores de nossas próprias cadeias e somente nós podemos escolher quebrá-las. Somente nós podemos nos apossar das narrativas, hoje nas mãos de poucos e fazer com que a história seja contada de acordo com os desejos da maioria, da massa trabalhadora. 
        

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Só papeando

Demorei para voltar aqui. Na verdade as tarefas deste ano que está findando foram muitas, e acabarm tomando mais tempo do que eu esperava. Tem também a questão de que vir até aqui e escrever exige que eu tenha uma coisa realmente boa para compartilhar. Surgiram assuntos bons, relevantes, surgiram outros que nem tanto... mas permencei mesmo distante do blog. Uma ou duas vezes cheguei a abrir a página, e fiquei, quem já passou por isso sabe, olhando a página em branco e o marcado de texto piscando, piscando...
Queria ser mais criativo, juro, queria poder ter diariamente assunto para encher páginas e páginas deste blog e transformá-lo em algo menos inóspito, mas me falta inspiração. E isso, inspiração, já foi algo por que já pedi às musas e às fadas, a Deus e aos deuses, a santos e a orixás... Mas não obtive resposta... então, ou não existem, ou minha alma, ou adoração de nada vale a eles, porque de minhas imprecações só obtive como resposta o silêncio.
Pois bem, último mês do ano, cismando aqui sozinho em casa, resolvi apenas sentar-me diante deste teclado e fazer este monólogo. Gosto de pensar que é para o leitor, mas na verdade é comigo mesmo. E isso é uma das utilidades de se ter um blog. Conversar consigo mesmo e, se não fores tçao convencido, como alguns, poder caçoar um pouco de si.
Bem, para não perder a oportunidade, devo dizer que passei o último mês fazendo aquilo que é rotina da minha vida: lutando por algo que é necessário, mas que além de mim, poucos querem. Atravessamos tempos difíceis. Um governo ilegítimo caça direitos, tenta destruir a aposentadoria e acabar com a universidade pública, enquanto detona com os servidores públicos. Aqui e ali, surgem discursos sobre a necessidade reação. Mas a maioria prefere acomodar-se confortavelmente na poltrona da sala e amaldiçoar o governo, sem mover uma palha. Parece piada , mas é a triste realidade. O facebook virou a arena que todos acreditam ser a ideal para deter os ataques e ningué quer enxergar que o ativismo virtual está nos matando aos poucos, com a sua fórmula quimérica de que alguns cliques podem mudar o mundo.
Infelizmente, caros, pra mudar o mundo é preciso sujar as mãos. É preciso correr riscos. Mas ninguém mais quer lançar dados com a vida... Agarra-se ao certo ainda que pouco parece ser a filosofia de nossos dias. O problema é que no andar dessa carruagem, não existirá mais o certo... E quando esse momento chegar, ainda poderemos resistir? O momento de sacudir as estruturas e romper as cadeias é este. E quanto a mim, já estou acostumado a andar contra o vento, a nadar contra a maré... porque eu sou o que lutei pra ser e continuarei lutando pra seguir mais a frente!

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Aonde vamos?

Vivemos dias de trevas. Um governo golpista, traidor do povo entrega as riquezas nacionais de mão beijada aos grandes grupos financeiros internacionais ao mesmo tempo em que desmonta a saúde, a educação e a previdência. Este mesmo governo massacra o povo pobre das favelas do Rio de Janeiro sob o pretexto de uma guerra às drogas que tem se revelada inútil. 
Na política a sensação que se tem é a de que estamos entregues a larápios que concorrem entre si pelo título de maior achacador da república e as coisas não param por aí! A sociedade mergulha numa crescente onda de ataques preconceituosos, racistas, lgbtfóbico, machistas, enfim, tudo o que de mais abominável a mente do home foi capas =z e gerar, resolvi sair das grutas em que se escondia, e onde engordava  seviciando-se de carne humana às escondidas, para assombrar-nos em plena rua.
Enquanto isso, o Estado Laico se descaracteriza por um decreto do STF, que diz que as escolas podem pregar uma religião em sala de aula. A B S U R D O !!! 
Lembrei nesses dias de um trecho do livro O amor e outros demônios de Gabriel Garcia Marquez... nele, uma figura, reconhecida por todos como ateia, responde à indagação sobre se era ateu: "Quisera eu". 
Quantas vezes diante dos absurdos que eu vejo serem cometidos em nome de Deus, na pretensão de estar agradando-O, eu também não supliquei por ser ateu? Como posso crer e confiar em um Deus que se cala diante de tantos absurdos? Como posso entender um Deus que embora não tenha necessidade de nada permite que em nome dele, milhares sejam explorados nos mercados da fé?
Mas, eu creio... Sei que existe um Deus, em algum lugar, que, diferente desse Deus, tão pequeno das igrejas, é ainda maior do que o que podemos pensar, porque ele tem ainda mais fé em nós! Por isso nos deixa entregues a nossa própria sorte, para que tomemos a opção de lutar pela igualdade, pela justiça e por um mundo melhor, porque nosso lugar, definitivamente é entre as estrelas, mas só poderemos chegar a elas por nosso próprio esforço
Não é a esperança de um mundo vindouro que deve conduzir os que creem em Deus, mas o desejo de realizar agora, tomar em nossas mãos nosso destino e construir agora o paraíso. 

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Mudamos?

     Testemunhei meio abismado a crise de 2008. Era estudante de administração e vi de uma hora para outra se desmanchar todo um credo que era rezado com fervor na universidade: o de que o mercado era um ente poderoso, autossuficiente e capaz de trazer a prosperidade e o crescimento onde quer que fosse deixado a vontade, sem interferências do Estado ou quaisquer outras. 
     No entanto 2008, jogou esse mercado nas cordas e só não o nocauteou porque o "ineficiente" Estado lhe estendeu as mãos. De lá pra cá, a crise se estende quase como aquela doença crônica, na qual o doente apresenta sinais de melhora, apenas para piorar ainda mais. O mundo desenvolvido jogou os custos da crise nas costas dos países pobres, mas ainda assim não consegue respirar... Pior, a precarização do trabalho e a piora das condições de vida no mundo subdesenvolvido levou a fuga em massa de trabalhadores em busca do El Dorado das nações do norte... 
     Estamos num mundo globalizado, por isso mesmo, muito, muito complicado. Como na metáfora, a borboleta que bate asas na China, causa furacões nos EUA (foi mal usar uma expressão dessas em tempos de Irma, José &Cia). Boa parte das complicações advém do fato de que vivemos em uma sociedade cada vez mais desigual. Nela os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. 
     O Brasil, que parecia ter encontrado o seu caminho, começou a cambalear a alguns anos. Inflação, desemprego, violência, parece até que entramos numa louca máquina do tempo e retornamos aos anos 80! Tendo sido criança nos maravilhosos 80, não pude deixar de ver com nostalgia que a crise atual nos despiu dos penduricalhos que juntamos no caminho e nos mostrou que 20 e tantos anos depois ainda estamos na mesma: um país na periferia do capital que permanece muito dividido entre ricos e pobres, entre aqueles que lutam para pôr comida na mesa todos os dias e aqueles que desperdiçam tanta coisa. 
    E pude ver como fomos enganados. Colocaram sobre nosso asno uma pele de leão e passamos a zurrar alto acreditando estar rugindo. Continuávamos cegos, pobre e nus. Apesar dos smartphones, tablets, notebooks e da internet continuamos desinformados e ignorantes. Apesar de nossas casas estarem cheias de tv's, geladeiras, máquinas de lavar, microondas e mais uma infinidade de aparelhos de todos os tipos e funções, nosso espírito continua vazio. Apesar de mais escolarizados permanecemos machistas, lgbtfóbicos, intolerantes e hipócritas. Olhamo-nos no espelho e continuamos os mesmo. E isso não basta mais. Precisamos ir além. Para garantir a todos igualdade temos que nos despir de nossos preconceitos e buscar alçar voos maiores. 
   E não é o deus mercado que vai nos dar impulso. Também não é esse modelo de estado, atrelado às vontades e desejos da elite que vai nos dar asas. Precisamos tomar em nossas mãos o nosso destino e construir por nós mesmo o modelo de sociedade onde não seremos medidos pelo que temos e sim pelo que somos. Onde as oportunidades poderão ser desfrutadas por todos e onde eu possa me dedicar ao que quiser, seja sonhar, pintar, escrever ou mesmo ao lazer, pois serei útil à sociedade apenas se for feliz! Chega dos infelizes bem sucedidos que acreditam que seu vazio existencial possa ser preenchido com a posse de coisas. Chega de deixar de fazer o que gosta para fazer o que lhe dá dinheiro! Chega de ser quem nos condicionaram a ser! Passemos a ser quem queremos de verdade. 
    Estamos nesse mundo para ser felizes. A vida é um momento fugaz entre um nada e outro. Façamos com que valha a pena!

domingo, 3 de setembro de 2017

Cariri

Publiquei mais cedo no face. Só tenho a agradecer por esses 03 anos de vivências no Cariri... 
Cheguei aqui forasteiro, trazendo esperança no peito, buscando um lugar para ousar...
Senti o calor dos teus dias... o frescor das tuas noites e vi a beleza do teu luar... E quando dei por mim, eis que estava encantado, com essas ruas estreitas, com essas praças faceiras, com essa gente trigueira, incansável no labutar... Amo as vielas escuras, a subida sinuosa do horto e a rotatória do Crajubar; talvez por ter vindo de fora, desejo a toda hora que não percas esse teu jeitão sertanejo, das missas, dos folguedos, das festas juninas animadas em noites iluminadas por fogueiras de São João! Adoro as noites e os dias, cheios de Fé, das romarias, quando te encontras apinhada de gente, que tanta estrada percorreu, para aqui chegar. Eles vêm a pedir ou a agradecer e a nenhum tu despedes de mãos vazias. Permite-lhes levar consigo da tua alegria, da tua magia e, sim, também da tua poesia!
Juazeiro do Norte, joia do meu Cariri, agora entendi teu padre, que trocou outros lugares para ficar por aqui. Eis que eu também me reconheço, como um dos teus romeiros, grato pela acolhida que, ao chegar, recebi.
Meu muito obrigado a Juazeiro do Norte e à UFCA por me darem três anos, que valem por uma vida toda! Sigamos em frente!
Quero dizer aos amigos, que ainda que me vá embora, fica um pedaço de mim, aqui neste Cariri!!!!
O lugar da gente não é o que a gente nasce, não é o que a gente mora. O lugar da gente é aquele que a gente leva no coração! Sendo assim, eu sou do Cariri!
Wagner Pires da Silva

Administrador da Universidade Federal do Cariri

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Traduções

     Imagine você, um pesquisador sério, que realizou uma pesquisa durante anos e a publicou. Seu livro é reconhecido entre seus pares e acaba por ser traduzido em outros idiomas. E de repente você descobre que o tradutor, por conta própria ou por pressão da editora, modificou um pouco o nome da sua obra, dando a uma pesquisa acadêmica um tom, assim, meio exotérico? Não sei quanto a você, mas eu não gostaria nem um pouco.
    Falo isso porque, circulando pelos sebos de Fortaleza, um dia desses, encontrei um livro curioso. O título: Mistérios gnósticos. Em letras menores: as novas descobertas - O impacto da Biblioteca de Nag Hamadi. A capa mostra uma fila de camelos sobre uma duna avermelhada pelo sol do ocaso. Olhei e pensei, "aí tem mais uma lorota voltada para teorias da conspiração". Mas aí atentei para o nome do autor, Marvin Meyer, um destacado pesquisador sobre o gnosticismo. Folheei o livro e vi que era um trabalho muito bom e nada condizente com o título. Olhei a ficha catalográfica e lá estava, o título original, que não deixava dúvidas de que o tradutor pesara no título, talvez, querendo ampliar o público do livro. Em inglês o título é "The gnostic discoveries".
   Sabemos que geralmente muitos filmes não apresentam traduções dos seus nomes originais, eles têm nomes em versão brasileira, criados pelas agências de publicidade que buscam alavancar o público com títulos que lhes falem mais diretamente. Fazer o mesmo com livros é prática também comum. E talvez até ajude a vender. Mas o que eu critico aqui é a prática de colocar um nome que destoe do tom da publicação. Algo que decerto não agrada o leitor, interessado, como no caso que estamos tratando, em teorias da conspiração e que encontrará um trabalho mais denso. Afasta o leitor que deseja ler a obra de um especialista e, acredito, acaba por fazer um desserviço ao deixar confuso o público.
   Sejamos sinceros, vivemos num mundo em que tudo é passível de ser transformado em mercadoria. Mas não podemos permitir que o conhecimento, tão precioso e necessário, seja jogado a nós como quinquilharia.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

E se...

 Todos nós, em um ou outro momento da vida tivemos que fazer escolhas. Escolhas que determinaram todos os rumos de nossas vidas. A pessoa com quem casamos, o curso que optamos por fazer, a profissão que resolvemos seguir. Algumas vezes essas escolhas são bem espontâneas e temos toda a liberdade de seguir pelo caminho A ou B... já outras vezes somos bem limitados... no entanto ainda cabe a nós a decisão mesmo que seja apenas um sim ou não. Explicando: um garoto de classe média numa grande metrópole tem n cursos de graduação a sua disposição sem ter que sair de sua cidade... um jovem pobre do interior só teria, quando muito uma opção de curso, ou nem isso, se quiser permanecer em sua cidadezinha. Em outras palavras, existe condicionamento, sim, mas longe de ser determinista é possível escapar, mas tem que ter disposição. 
Mas quero discorrer mesmo é sobre algo bem mais filosófico. O que aconteceria se tivéssemos escolhido seguir as opções da qual, espontaneamente ou não, abrimos mão ?  Esse é o exercício! Pensar a nossa vida com o e se... 
Vejamos, e se eu tivesse permanecido na licenciatura em História e não tivesse cursado administração? E se não tivesse prestado concurso público ou se não tivesse passado? E se, recuando ainda mais eu não tivesse deixado o altar? Tantas perguntas, tantas possibilidades e cada uma delas se abrindo em outras e mais outras, cada vez maiores, cheias de ramificações e todas prenhes de mais e mais e se! 
Há tempos tenho pensado nisso. Pensado em escrever sobre isso também. Lembrando um pouco da mecânica quântica e de seus universos paralelos. Já pensou se cada e se perdido, cada escolha possibilidade por nós recusada tivesse sido aceita em um universo paralelo? Se existir por aí uma outra realidade, onde você não esteja arrependido por ter escolhido mal, ou um lugar onde você não tenha perdido o que tanto lamenta ter escapado por entre seus dedos? 
Ás vezes a ciência é tão bela quanto a poesia, ou até a supera... O modelo de universos paralelos é baseado em princípios da incerteza quântica, sugerindo que todos os desdobramentos possíveis de um evento acontecem, mas nós vivemos apenas uma dessas sequências. Ei, isso não é filosofia, é física! Mas te põe para pensar um bocado, hein? 
Quem seria mais feliz? Você ou seu outro eu em um universo paralelo, que conseguiu aquela promoção, onde realizou aquela viagem? Sonhar não custa, né? Mas se existindo ou não estes universos paralelos, que as especulações fiquem com quem atua na área. Neste universo, em que nossas vidas são moldadas pelas escolhas que fizemos, o que nos resta é nos adaptarmos as consequências e se for o caso minorar, diminuir os efeitos negativos advindos de escolhas que se mostraram equivocadas. 
Por isso, quando estava na graduação fiquei encantado com um conceito que estudei e que acredito ter, tal como o multiverso e suas ramificações para a física, um quê de filosófico na administração. Se você já estudou administração já deve ter se deparado com ele. Estás diante de uma escolha, deves seguir apenas uma das possibilidades disponíveis, o que você faz? Tenta estimar o Custo de Oportunidade! O que perdemos ao abandonarmos a opção A e escolhermos a B. O que deixamos de ganhar ao escolher a A em detrimento da B. Depois de ter realizado essa estimativa, pergunte-se: Vale a pena? 
Escolher envolve perda. É inerente ao processo. Você não pode adiar a decisão indefinidamente, a vida é como um rio, se represado ele acabará por encontrar meios de voltar ao curso. Você não pode saltar de um universo a outro para viver a vida que você poderia ter vivido  se tivesse tomado outra decisão. Mas se fizer escolhas conscientes do que você pode perderá e ganhará com cada opção, acredito que no fim das contas estarás muito satisfeito com os rumos que deu para sua vida. 
Se quiser saber um pouco mais sobre universos paralelos tem um vídeo muito legal, aqui

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Mr. Mercedes

    Concluí a um tempinho a leitura de Mr. Mercedes,. de Stephen King. O Mestre do terror nos apresenta mais um personagem marcante. O vilão, Hartfield é sádico, doentio e muito inteligente. O herói tem pouco a oferecer no início da história e vai crescendo com o desenrolar da trama.
      Quem está acostumado com o estilo de King, sabe que ele explora essa condição de fraqueza, de um sentimento de impotência em seus protagonistas, onde àqueles que são perseguidos, discriminados, desprezados e considerados como sem contribuição a dar à sociedade, conseguem superar a si mesmos, seus medos, suas fraquezas, mesmo suas deficiências para lutar contra o mal. Mal, que na obra de King pode ser sobrenatural, um sistema despótico, ou um sujeito simples, que você pode encontrar aí pelas ruas da cidade sem desconfiar quão negra é a alma do sujeito.
     Lembro dos arrepios e do medo que tive, ao ler It. Uma aula de literatura de terror. Mr. Mercedes é mais uma lição que que King nos proporciona, sem deixar a desejar a anterior.
     É um ótimo livro, que me deixou preso à poltrona até concluí-lo. O protagonista estrela mais dois livros, os quais já estão na minha lista de leitura. Quem sabe, se daqui a algum tempo, eu não compartilhe também minhas impressões sobre eles?

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Ousadia para criar o futuro

       Sobra disposição na classe trabalhadora. Falta autonomia. Falta ousadia. O ascenso que presenciamos desde março parece ter sido abruptamente interrompido. E por quê? Simplesmente pelo fato de que os trabalhadores brasileiros ainda não se descolaram das lideranças e estas, em sua maioria, ainda não superaram o programa de conciliação de classes, que canaliza para a via eleitoral as esperanças de melhorias para a classe.
      Há muito que a revolução é apenas retórica para esses grupos. É preciso fomentar nos trabalhadores brasileiros uma autonomia e ousadia que rompa com essa política que roubas as esperanças e os coloque no caminho da revolução. Apenas dessa forma se combate não só o capitalismo e seus agentes, como também a burocratização dos organismos dos trabalhadores.
      Enquanto isso, avança uma onda conservadora que assusta. Assusta porque se assume preconceituosa, militarista e, pasmem, muito liberal quando se fala em cortar os direitos dos trabalhadores. Um discurso de força, que seduz muitos trabalhadores, que oprimidos pela violência, que os impede de desfrutar o descanso e os parcos bens que a escravidão ao Capital lhe proporciona, acabam por identificar um falso inimigo, que são as massas marginalizadas e colocadas fora do mercado pelo Sistema, que só pode reproduzir-se com o aumento da desigualdade e opondo trabalhador a trabalhador.
      Neste momento sobram conflitos entre nós, enquanto há paz entre os senhores! Absurdo! Mas é preciso dizer em alto e bom som! Não basta trocar um presidente, ou substituir este programa por outro mais palatável! É preciso construir uma alternativa para os trabalhadores! Para isso se coloca na ordem do dia a questão de organizar a juventude e a classe trabalhadora, apontar-lhe o caminho e deixar que ela decida por si mesma o rumo que seguirá para construir uma sociedade livre de todas a miséria e opressão e que seja marcada pela igualdade entre todos os que trabalham, entre todos os excluídos, enfim entre todos aqueles que não tem lugar no Capitalismo, a não ser sob os pés da burguesia!

terça-feira, 27 de junho de 2017

Força, fraqueza, elementos humanos, demasiado humanos

   Hoje de manhã conversava com um amigo. Separados por quilômetros de distância, mantivemos uma conversa instigante pelas redes sociais. Em certo ponto, falamos sobre Heitor, personagem da Ilíada. Comecei a refletir sobre a Grécia e, mais especificamente, sobre a tragédia grega. O trágico destino de Heitor sempre me impressionou. É uma das partes mais tocantes da obra de Homero,  a luta entre o troiano e Aquiles, sua morte, o arrastar do corpo pelas areias da praia de Troia, a súplica do velho rei Príamo pelo corpo do filho, beijando as mãos do homem que matou seu filho...  
    Tudo dentro de uma atmosfera no qual o destino, traçado e determinado anteriormente, é o verdadeiro antagonista do homem, que em sua pequenez procura escapar das tramas fatais nas quais é envolto, mas sempre tende a enredar-se e cair mais nela. Lemos as obras, sejam as peças, sejam os mitos, e lá encontramos sempre essa luta, essa busca desenfreada do homem que nega o seu destino e que tenta escrever, ainda que tendo deuses como adversários, a sua própria história. 
    Li, não lembro onde, que na tragédia grega, a força do homem é a sua fraqueza. Por isso ele não pode escapar das amarras do destino, porque, afinal, a arma que utiliza para essa luta, por fim é a que vai fazê-lo cair. Gosto dessa acepção. Desta oposição entre força e fraqueza em que uma acaba por ser a outra face de uma mesma moeda. Acredito que esse jogo de aparência entre força e fraqueza, não se limitou aos gregos. Em nossa cultura judaico-cristã, temos um escritor que também falou sobre o tema. Mas seu ponto de vista é diverso. 
   O novo testamento é uma coletânea de escritos dos primeiro século do cristianismo. 27 livros escritos em sua maioria por autores anônimos. Paulo é o autor de uma boa parte desses escritos. Nestes ele responde a questionamentos e repassa orientações sobre como proceder diante de problemas pelos quais passavam as comunidades cristãs às quais escrevia. Um tema recorrente para este autor judeu, nascido provavelmente em uma cidade fora da Judeia, entre uma população de fala grega era justamente força e fraqueza. 
   São célebres algumas de suas passagens, como "quando estou fraco, aí é que sou forte" ou ainda "se for me gloriar me gloriarei das minhas fraquezas". Percebam a sutil diferença: Não é a força que é a fraqueza, não é na sua maior aptidão que encontramos as causas do seu fracasso, pelo contrário. É justamente em suas falhas que você deve fiar-se! 
  Se os gregos eram trágicos, os cristão são fatalistas! Para os antigos gregos devbia-se lutar contra o destino, utilizar todas as armas para se assenhorear de sim mesmo, para o cristão, devemos nos deixar levar, porque, diferente dos irascíveis e temperamentais deuses gregos, o Deus cristão só pode visar o seu bem e agirá. Cabe ao fiel apenas deixar-se levar ao matadouro, sofrer as injustiças e definhar a espera do divino. Não se preocupe. Se nada obtiveres nessa vida a outra, mais gloriosa, na qual, finalmente, serás recompensado. 
 Nietzsche viu essa contradição e não pôde aceitar esse enredo para sua vida. E cá entre nós, quem pode? Como ser fatalista e permitir que tudo lhe seja tirado, até a vida, sem esboçar reação alguma? Muito melhor lutar, enfrentar, fazer tudo o que for possível para mudar o destino, acreditar que é possível mudá-lo e só então, quando já não resta mais nada a fazer, assumir o trágico, assumir que apesar de usar todas as suas forças, você foi vencido. E começar de novo. E de novo. E de novo. Porque somos humanos. Criamos. Destruímos. Somos imperfeitos, mas conscientes disso e é essa consciência que nos permitir elevar-nos além de nós mesmos e nos faz, em certo sentido, próximos do Divino. 
   Não acredito no destino. Acredito na tragédia. E por isso, assim como os heróis das tragédias gregas, luto com todas as minhas forças para superar o que me impede de avançar. Não podemos ser ovelhas, viver num rebanho a espera de quem nos proteja e nos alimente. Sejamos alcateias, defendendo a nós mesmos e partilhando a sorte e o azar, tempos bons e ruins. Não aceitemos que conforto e segurança nos sejam dados em troca de cadeias. Construamos a nossa história. Nem fracos, nem fortes, apenas suficientes.

sábado, 24 de junho de 2017

Viva São João

Nostalgia! Lutava desde ontem para encontrar uma palavra para descrever o que sinto neste Juazeiro do Norte! Pelas ruas, nas calçadas, nos terrenos baldios, enfim, onde quer que se encontrasse espaços as fogueiras crepitavam! Véspera de São João e a cidade se transforma em um grande "arraiá" coberta de bandeirolas, com os tradicionais arranjos com folha de coqueiro e as indispensáveis brincadeiras juninas que integram adultos e crianças!
E o sentimento de nostalgia é o fato de que tudo isso me lembra da minha infância, num bairro da periferia de Fortaleza, onde nos anos 1980, ainda se mantinha acesa essa tradição junina. Nos anos 90, com a chegada do asfalto, a urbanização acelerada e a especulação imobiliária selvagem, não se acenderam mais as fogueiras e os folguedos juninos foram confinados a dias específicos nas escolas e nas poucas praças do bairro. Hoje, dificilmente encontramos uma festa verdadeiramente popular em Fortaleza. Daqueças que, sem o poder público organizando ou sem o patrocínio das grandes empresas, fazia-se em conjunto com os vizinhos, onde cada um, do pouco que tinha, contribuía para a diversão de todos.
Aqui em Juazeiro, logo na manhã de 23 sentia algo diferente! Feliz São João, tenha um bom São João, eram os cumprimentos nas ruas! O comércio fechando mais cedo, as pessoas, no fim da tarde providenciando os ultimos acertos nos preparativos, tudo isso dava à ocasião um clima que há muito não via! A cidade respirava tradição! A noite foi pontilhada pelas chaamas das fogueiras e teve seu silêncio quebrado pelos estampidos das bombinhas, enquanto o céu, tinha além das estrelas, vários balõezinhos brilhando.
Hoje de manhã, o da fumaça era o principal cheiro no ar. Cedinho, a cidade dormia e parecia ressonar como um grande Dragão, com a fumaça tênue de centenas de fogueiras em cinzas a tomar conta das ruas.
Que Juazeiro do Norte, essa metrópole do sertão, continue assim, crescendo, sem esquecer da tradição, sem deixar que em troca de umas poucas alegrias proporcionadas por esse Capitalismo Selvagem, perca a verdadeira alegria, que é ao lado da sua religiosidade, a grande riqueza do povo do Cariri.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Fim dos sindicatos? Uma nota sobre a organização dos trabalhadores

    Quantas vezes você ouviu por aí que o fim dos livros chegou? A cada nova tecnologia muitos se apressavam em apregoar o fim do livro: foi assim com o rádio, a TV, o computador, a internet e mais recentemente com os tablets. Mas o livro continua aí firme e forte. Esses dias observo que isso tem uma analogia muito boa com os sindicatos e outros organismo de organização dos trabalhadores e estudantes. Desde que iniciei, ainda como estudante secundarista, minha militância, que conheço pessoas que declaram o fim dos sindicatos, CA's, DCE's, etc.

     Muitos camaradas apresentam essa posição como revolucionária, como se fosse uma opinião que poderia mudar tudo dentro do movimento dos trabalhadores. Quantas vezes não se houve dizer:"os sindicatos não tem mais representatividade", "os trabalhadores não acreditam mais no sindicato", " os sindicatos não tem mais poder de mobilização" e por aí vai.

    Engraçado é que geralmente você escuta isso em assembleias, plenárias e outras atividades convocadas pelas entidades! Não é contraditório? Você atende uma convocação do sindicato, e vai lá dizer que ninguém se mobiliza mais pelos sindicatos?
    É certo que nos últimos anos tivemos uma situação atípica: a chegada ao poder PT, que dirigia e ainda dirige boa parte das entidades sindicais do país. Essa conjuntura, onde um governo de coalizão governava para os ricos e fazia concessões vultuosas para os trabalhadores levou, sim, a uma acomodação das direções que acabou por refletir-se na base.
   
Aqui e ali, importantes movimentos de contestação colocaram novas direções a frente do movimento e houve reestruturações importante com o surgimento de novas forças para disputar a direção das diversas bases. Este é um processo que ainda não está encerrado. E que agora se acentua, quando a conjuntura coloca os trabalhadores sob ataque. O golpe legislativo que apeou o governo petista do poder foi a solução que o Capital encontrou para promover a retirada de direitos e assim deixar a conta da crise para os trabalhadores e os demais oprimidos.
   As velhas direções, acostumadas a travar as lutas contra o governo que apoiavam (e que em troca lhe dava meios de sobrevida) tiveram que retirar dos depósitos as bandeiras vermelhas e os gritos de guerra e partir para o enfrentamento com o governo golpista e com a burguesia. Mas fazem isso porque pressionados pela base e de forma vacilante. Não querem fechar canais importantes de diálogo com a burguesia, caso consigam voltar ao poder por via eleitoral. Eis o grande problema da nossa época! Não são os organismos dos trabalhadores, mas as direções que estão desgastadas e que não oferecem um programa de enfrentamento consequente.
  O atual ascenso do movimento dos trabalhadores deixa isso bem claro. Convocados, ainda que timidamente, os trabalhadores atenderam ao chamado e foram às ruas! Só este ano tivemos uma grande greve geral e mais de 150 mil trabalhadores ocuparam as ruas de Brasília! Sem falar dos inúmeros atos, dias de luta e assembleias que se realizam em todo o país. Isso mostra a força da classe trabalhadora. Mostra que ainda existe força por parte dos sindicatos para mobilizar as bases. Mas é preciso que as direções avancem. As velhas direções não podem levar suas bases para uma luta consequente, pois que caiam, que sejam substituídas pelas centenas de novos lutadores que se colocam hoje à frente de seus camaradas para derrotar as ofensivas do capital e de seus agentes! É preciso construir em cada categoria, em cada local de trabalho, a partir da base essa alternativa, que não pode ser só organizativa e sindical, mas deve ser também socialista e revolucionária.
   É preciso envolver a base, fazê-la entender que a representação sindical é parte dela, não algo separado. Sindicatos são ferramentas de luta dos trabalhadores, mas é preciso que a base esteja no dia a dia das ações, junto com a direção para que os trabalhadores possam adquirir experiência para as tarefas vindouras, quando enquanto classe tiver que assumir o comando do Estado.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Somos...

       Quem somos? Essa não é uma pergunta fácil de ser respondida. Pelo menos não por nós mesmos. Para algumas pessoas é fácil dizer quem você é. Para outras não. Mas faça um experimento. Pergunte aos seus parentes,aos amigos, aos colegas de trabalho, à seu companheiro ou companheira, quem você é. Com certeza você se surpreenderá com a diversidade de respostas que receberá. E quando compará-las com a sua própria resposta a essa pergunta é que você vai ficar abismado. 

       Somos seres em constante formação.Transformação. Coisas de que gostamos hoje,  abandonamos sem remorso amanhã. Outras que não suportávamos acabam encontrando espaço em nossas vidas e por aí vai. Por que? Porque temos a capacidade de aprender. De nos adaptar. De transcender nossos próprios limites e seguir em frente. Isso pode ser uma coisa boa ou mesmo ruim, vai depender da forma como encara a vida. Mas como a encara hoje, nesse momento! Um segundo a mais e já podes ter mudado de opinião. Quantos de vocês começaram a ler este texto e atraídos pelo título ou por visitarem uma vez ou outra este blog e da primeira linha até aqui já não o aprovaram para depois rejeitá-lo e continuando a ler acabaram vendo que concorda com algumas coisas e outras não?

       E isto é sadio! Não se deixe levar por pretensos sábios!Pois sábio não é o que fala. Sábio é o que escuta. E tendo ouvido tudo o que se tinha a dizer, raciocinou,pesou os prós e os contras e então escolheu o que devia tomar pra si de tudo o que ouviu. 
       Somos seres humanos. Somos imperfeitos. Muitos de nós crescemos ouvindo que Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, mas na verdade o homem criou deus a imagem e semelhança do que ele sempre sonhou ser! Fomos capazes de criar, imaginar e sonhar outros mundos, promessas e poderes a nós impossíveis, mas desde que colocadas nas mãos de uma divindade, poderiam estimular uma busca que nos faria avançar, mover-nos do lugar e nos transformar em seres melhores do que éramos no início da jornada. 
      Um homem não se banha no mesmo rio duas vezes, diz o filósofo, afinal, nem o rio é o mesmo, nem o homem é o mesmo. Aceite-se.
Se não gosta de quem és hoje, mude. Se gostas, não te acomodes, pois neste mundo, mesmo as rochas mudam sob a ação das intempéries. 

Ponto eletrônico pra quem?

               
                 A administração moderna, a ciência que hoje é ensinada nas universidades, e que é um dos cursos de graduação mais procurado por jovens no Brasil, teve inicio nos fins do século XIX e início do século XX, através dos experimentos de Taylor para aumento da produtividade. Eram basicamente estudos de tempo e movimento. Infelizmente a administração teve seu pontapé inicial com a busca de um engenheiro em zumbificar os trabalhadores, retirando-lhes a iniciativa e ditando-lhes não apenas o como fazer o trabalho, mais em quanto tempo. 
                 De lá pra cá, mudanças consideráveis foram aplicadas, mas a tendência de coisificação do trabalhador nunca foi revertida. Afinal, esse é um dos pilares do sistema capitalista. Vez ou outra, esse controle de tempos e movimentos é vem a tona sob novas roupas, com belos nomes em língua estrangeira e até travestidos de inovação tecnológica. 
                 Nessa seara é que se colocam os pontos eletrônicos. Hegemônico nos mais diversos ramos e setores a maquininha tem realizado o controle dos trabalhadores que devem, espartanamente, marcar seus horários de saída e de entrada. A grande indústria, os escritórios, as em,presas de serviços, os bancos, todos possuem seu maquinário e seu software destinado a controlar entrada e saída do rebanho e contar as horas de trabalho, como numa ampulheta, onde o que escorre é a vida de cada trabalhador obrigado a render-se à rapina diária do patrão. 
                Mas minhas considerações miram um setor, que ocupa posições chaves na educação e no desenvolvimento tecnológico brasileiro: os servidores técnicos-administrativos em educação, que atuam nas instituições federais de ensino. De norte a sul do país esses trabalhadores tem se esforçado, mesmo diante da precarização e dos famigerados cortes do governo golpista a dar o suporte necessários às atividades de alunos e professores e, ainda, contribuído com pesquisas e participação nos diversos debates da educação brasileira. 
               O que se tem visto nos dias atuais é que a gestão de muitas destas instituições, ignorando as características e peculiaridades do trabalho destes servidores, têm tentado implantar o ponto eletrônico. Uma atitude canhestra e que quando justificada apenas por necessidade de adequação a lei, acaba por evidenciar que para muitos, a questão da autonomia universitária é algo relativo. A questão não é ser contra o controle de frequências, mas sim que esse controle possa ser realmente efetivo, podendo dar conta de atividades tão ricas de nuances quanto as desempenhadas pelos servidores das instituições federais de ensino
              Que motivos levariam alguém a imaginar um regime de trabalho fabril para uma instituição de ensino? Como justificar que em um local que deve primar pela liberdade, inovação, criatividade e iniciativas próprias, sejamos limitados em nosso ir e vir por uma estrovenga tecnológica de eficácia duvidosa? São mais questões para abrir o debate do que para serem respondidas nestas linhas. 
              O problema do controle de frequência é, em seu âmago, um problema de gestão. É mais fácil delegar a questão de saber se o colaborador está fazendo o seu trabalho a uma máquina, do que acompanhar o dia a dia do trabalho, propondo melhorias e sugerindo formas de contornar as dificuldades. O que se tem de mudar não é a forma do controle, é a forma como os gestores tem se relacionado com os servidores e como juntos, poderão apontar para alternativas que possam ultrapassar as barreiras limitadoras do capital e criar em nossas instituições de ensino um ambiente onde o trabalho seja uma atividade libertadora, capaz de possibilitar ao trabalhador o exercício pleno de suas capacidades, enquanto se enriquece não só como profissional, mas como pessoa!
                Quem sabe poderemos ser o ponto de partida para que essas alternativas possam ser levadas a outros locais de trabalho e assim contribuir para as transformações necessárias para a nossa sociedade? Sigamos sempre debatendo, discutindo, lutando! 
                      "Bem unidos façamos nesta luta final, uma terra sem amos, a Internacional!"

terça-feira, 30 de maio de 2017

Brasília, 24/05/2017

        Eu estive lá! No momento em que os trabalhadores iniciaram a mudar sua postura e passaram a acreditar que era possível, sim, vencer as reformas e os golpistas, eu fui testemunha! No momento em que as ruas de Brasília, planejadas para fluxo do poder, foram tomadas pelos trabalhadores questionando esse mesmo poder eu participei! E de certa forma podemos dizer que este ascenso que se inicia será fundamental para a dinâmica da luta de classes dos próximos anos. 
        O atual governo, conduzido ao poder por um golpe parlamentar, envolvido em atos de corrupção, encontra-se enfraquecido. Apenas a normalidade constitucional o mantém onde está. É preciso que os trabalhadores, por meio de suas lutas possam quebrar essa normalidade e derrubar o governo, para que possamos derrotar de uma vez por todas a ofensiva burguesa que deseja acorrentar a classe trabalhadora na miséria e na falta de direitos e perspectivas.  
            Por isso é tão importante que após termos colocado esse governos nas cordas e praticamente termos colocado seus mandatários em pânico, que juntos, movimentos sociais, centrais sindicais e a juventude possamos convocar uma grande greve geral para que possamos assestar o golpe definitivo, ferir de morte o projeto burguês e recuperarmos todos os direitos que buscam nos tomar. 
            Não é uma tarefa fácil. Há que se lutar contra as tendências traidoras, que apostam numa transição parlamentar para crise, ou que jogam suas esperanças para as eleições. Hás as correntes auto proclamatórias que em sua busca por mostrar-se revolucionária, acabam por desconstruindo a unidade da classe tão importante em nossos dias, uma vez que foi conquistada a duras penas e ainda assim é tão frágil! Estamos diante de uma classe desmobilizada por 13 anos de governos colaboracionistas. É preciso educar essa classe nas lutas, mostrar do que ela é capaz e como a prática da luta pode levar a vitória!
             Brasília tremeu sobre os pés de mais de 150 mil trabalhadores e estudantes de todo o país. Foi um dia histórico. O dia em que a classe trabalhadora recuperou sua capacidade de sonhar e, maios que isso, recuperou sua confiança em sua força. Ainda há um longo caminho. Mas que bom que já nos colocamos em marcha! Será nas ruas que derrotaremos os golpistas e suas contrarreformas!
                         Rumo à greve Geral de 48 Horas! Eleições Gerais Já! Nenhum direito a menos!
     

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Contadores de histórias

     Já parou para pensar que nós todos somos contadores de histórias? Em um momento ou outro de nossas vidas vamos ficar diante de uma plateia e empreender uma narrativa: uma piada, uma história do cotidiano, o motivo que o fez chegar atrasado ao trabalho ou à escola e por aí vai. 

     Algumas dessas histórias serão verdadeiras, outras serão produtos de nossa imaginação, inclusive algumas serão mentiras deslavadas, mas o fato é que cada ser humano terá necessidade de narrar e vai fazê-lo. É algo ancestral, primitivo, antes mesmo de inventar a fala, com seus gestos e grunhidos, os primeiros homens já contavam suas histórias, aliás, acredito que foi a necessidade de contar essas histórias, sobre lugares onde poderiam encontrar, água e comida abundante, que levaram a invenção da fala. 

   Mas nunca antes contar histórias foi algo tão refinado quanto na época atual. Os bons contadores de história ganham a vida com isso: vendedores, políticos, pastores, padres, uma gama enorme de pessoas ganha a vida contando histórias, montando fábulas, fabricando quimeras ou simplesmente enredando os outros em grandes mentiras.
  Temos ainda a grande contadora de histórias: a TV, e seu antecessor, o cinema. Invenções humanas que tem levado histórias, muitas vezes nascidas na aurora dos tempos, aos mais diversos locais e pessoas. 
  Como disse no início, somos todos contadores de histórias, uns são bons e prendem a atenção de quem os escuta até o fim. Outros são maus... há os esforçados e há os preguiçosos, mas todos contam histórias. Que histórias você tem a contar?

domingo, 14 de maio de 2017

Reinventando as igrejas.

        Uma das passagens mais emblemáticas da Bíblia, para mim é Jó 42:12. Nela, ao ser confrontado pelo próprio Deus, Jó diz uma frase carregada de emoções e também de sentidos: "Antes eu te conhecia só de ouvir falar; e agora meus olhos te veem."
         Devo dizer a todos que essa frase resume a vida da maioria dos religiosos dos dias atuais. Estão cheios de conhecimento do sagrado, do divino, mas não por terem uma experiência pessoal, única com deus, mas porque receberam informações de seus sacerdotes, ouviram uma palestra participaram de um culto. Muitos acreditam ter tido um contato com deus porque durante a celebração encheram-se de emoções, ou por terem seus problemas, a sua vida, revelados por uma profecia e por aí vai. Todos tiveram que ter um intermediário, alguém que fosse o catalisador. E isso acontece até mesmo com os líderes de grandes congregações e igrejas.
        Voltemos a Jó. A história, embora absurda é vista por muitos não como uma metáfora ou como um conto sapiencial, que deve dar lições ao homem. Para muita gente o livro de Jó traz uma narrativa histórica. Não entrarei nesse mérito. Quero chamar a atenção para o fato de que um deus que é apontado como justo, bondoso e etc, por um simples capricho, resolve provar a Jó, tomando-lhe tudo o que possuía: riqueza, bens, família e mesmo a saúde. Um deus que sabe de todas as coisas precisou transformar a vida de alguém que não fizera nada de errado em um inferno, apenas para mostrar a Satanás que Jó era fiel! Faz sentido? Pra mim não! Por isso digo é uma história absurda. Mas sigamos. Informados do infortúnio de Jó, seus amigos vão até ele para consolá-lo. O que se desenvolve então são uma série de discursos, de falas empoladas, sobre deus e seu caráter e ainda a busca por eles de uma resposta de porque tantos males sobrevieram sobre Jó: Para seus amigos só podia ter uma resposta: Pecado! Mesmo um inconsciente pecado, era o que trouxera Jó a essa situação de tanta dor. Jó retruca apresentando-lhes a sua justiça. Ao fim das falas deus aparece a Jó e lhe fala. E esse o contexto da citação de Jó que usei no início desse texto.
        Pouquíssimas pessoas conhecem a deus. Poucos tiveram uma experiência real com ele. E quem conseguiu, pode estar certo, não estava em uma congregação em meio ao incenso e aos cantos. Quem conseguiu uma experiência real com deus, estava ao lado dos oprimidos, estava lutando para dar dignidade e humanidade para aqueles aos quais o capitalismo lhes negou tudo, até mesmo a individualidade.
        Jesus, um camponês da Galileia, teve essa experiência, quando desprezando a hierarquia do templo judaico, realizou curas entre os pobres e humildes, teve essa experiência ao partilhar a mesa com aqueles que a pureza ritual de uma religião excluía: pecadores, prostitutas, ladrões e muitos outros. Este Jesus, bem mais interessante que a fábula cultuada hoje nas igrejas, teve em seu tempo uma postura revolucionária e foi essa postura que fez a gente humilde com quem ele convivia identificar nele o emissário de Deus, o Messias, um ser divino. Fica aqui outra lição: não sou eu que proclamo que tive uma experiência com deus, mas sim aqueles que viram em mim esse deus, esses sim é que reconhecerão isso.
        As igrejas precisam se reinventar. Abandonar seus tronos, seus trajes luxuosos e deixar de serem promotores da desigualdade, lacaios do capital, para estarem a serviço de algo bem maior que suas vaidades: a instauração de justiça social, da igualdade entre os homens e a denúncia incessante dos que procuram ampliar as cadeias em que jazem encarcerados os excluídos, a saber: o machismo, a LGBTfobia, o racismo e muitos outros. As igrejas precisam marchar junto com os trabalhadores para que já agora e não em um mundo vindouro, o paraíso possa ser instalado aqui  na terra, pelas mãos dos que produzem!

Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.
Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
Mateus 25:34-40

terça-feira, 9 de maio de 2017

Vamos acabar com a festa!

       Continuem com a sua festa! Vistam as camisas verde-amarelas e junto com elas deixem a mostra seus preconceitos de raça, classe e gênero! Desfilem pelas ruas despertando o asco dos excluídos da vossa comemoração, o nojo dos que trabalham para lhes proporcionar vossos luxos, e que para vocês são invisíveis! Festejem e comemorem, enquanto acham que venceram. Não é a vocês que pertence a palavra final. Nós, trabalhadores ainda temos algo a dizer. 
       Apesar da sua mídia, ainda pensamos;
       Apesar da sua ganância, ainda vivemos; 
       Apesar da sua polícia, resistimos;
       Apesar do seu ódio, venceremos!
      Nós, trabalhadores, nos levantaremos e arrancaremos de vós esse sorriso e tomaremos de volta nossos direitos e juntos a todos os explorados, poremos um fim a esse sistema de exploração, violência e miséria! Por todos os lados os murmúrios indignados se transformam em um brado: BASTA! 
       Talvez ainda tenhas tempo para mais uma dança, para um brinde a mais. No entanto, quando o punho forte  dos trabalhadores  se abater sobre vós, não tereis para onde ir. 
       Trabalhador, é chegada a hora de sair do marasmo. Este é o momento de quebrarmos as cadeias que até agora nos prendem à miséria, à exploração, à uma vida desumana!
       Quiseram nos conduzir de volta às senzalas, agora só pararemos quando tomarmos os palácios! 
NENHUM DIREITO A MENOS!
FORA TEMER! 

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Um outro mundo ainda é possível

       Com o desmonte das ditaduras stalinistas, quiseram nos fazer acreditar que o capitalismo havia vencido. Disseram que o sistema do capital iria expandir-se e consolidar-se no mundo inteiro, sem contestações. Um historiador estadunidense até declarou o fim da história. Uma parte da esquerda jogou fora a tradição de luta, renegou a revolução e imbuída de um pessimismo impressionante embarcou na aventura do pós-modernismo, uma espécie de purgatório de ideias para quem, embora discorde do capitalismo, já não acredita que possamos derrotá-lo. 
      Mas essa lenga lenga toda era só marketing. Um castelo de cartas que não consegue pôr-se de pé. Dos anos 1990 para cá, o que temos visto não é um crescimento exponencial e sem limites do capitalismo, mas sim um sistema cada vez mais engolfado em crises e que para manter-se busca ampliar mais ainda a brutal exploração sobre os trabalhadores. Desregulamentação, diminuição do Estado e outras ladainhas cantadas pela igrejinha dos liberais não são outra coisa além da busca de uma sobrevida ao combalido sistema que até algumas décadas atrás se declarava imbatível e insuperável. 
     A derrocada econômica brutal das primeiras décadas do século XXI, o ataque a direitos trabalhistas, a proletarização das classes médias e a maior pauperização dos trabalhadores em todo mundo mostram a atualidade de um programa que engloba a Revolução como saída não só da crise, mas do próprio sistema capitalista. Não é uma tarefa fácil. Durante anos, as forças que estavam na direção dos movimentos e organismos dos trabalhadores estiveram covardemente capitulando e desmobilizando a classe, contentando-se com concessões esdruxulas. Durante anos colocou-se esperança nos processos eleitorais da democracia burguesa e desmobilizou-se o movimento dos trabalhadores e ensinaram a nossa geração a esperar pelo herói, pelo líder iluminado. Os lutadores foram solenemente ignorados. Uma boa parte dos trabalhadores deixou-se levar por esse discurso e pela euforia dos governos de frente popular e foram para casa. 
    No entanto, com o aprofundamento da crise, mesmo as migalhas que o capital lançara aos trabalhadores nos últimos anos e que permitiram melhoria de vida para uma parte considerável das classes populares precisou ser tomada. Mais do que isso, os empresário brasileiros precisam até mesmo fazer a roda da história girar para trás e voltar a operar o capitalismo brasileiros nas mesmas condições do início do século XX. Voltar 100 anos no tempo e tornar os trabalhadores dos campos e das cidades semi escravos é o sonho da burguesia brasileira. Cabe aos trabalhadores e movimentos sociais dizer não. 
      Desde 2013 temos visto as ruas serem ocupadas. Primeiro pelos movimentos sociais e pela juventude, acompanhados timidamente pelos trabalhadores. Depois a direita foi às ruas, para dar sustentação ao golpe. Agora, consumado o golpe e diante dos contundentes ataques do governo golpista os trabalhadores voltaram às ruas! É um ascenso que culminou na Greve Geral de 28/04 e que não vai parar por aí!
      É preciso que os lutadores continuem a mobilizar-se e a pressionar as direções para avançar no enfrentamento ao governo e a construir uma alternativa dos trabalhadores à crise! Sigamos na luta! É preciso mobilizar os trabalhadores e os excluídos. O caminho já nos foi mostrado há 100 anos, quando foi realizada a primeira revolução socialista a conquistar o poder: a Revolução Russa!
     Os trabalhadores podem e devem tomar em suas mãos o seu destino e construir uma sociedade mais justa e igualitária!

quinta-feira, 6 de abril de 2017

O SINTUFCE é pra lutar!

                                          
                Para que serve um sindicato? Não há uma resposta simples para esta pergunta, porque sendo um instrumento dos trabalhadores, as concepções sobre ele são tão diversas quanto a classe que é representada pelo sindicato. Mas uma coisa é certa o sindicato deve organizar os trabalhadores para lutar por seus direitos. Tanto para arrancar conquistas para os trabalhadores, quanto para defender essas conquistas da sanha reformista do governo ilegítimo. 
                 Curiosamente, às vésperas do maior acontecimento de luta da classe trabalhadora nos últimos anos, a Greve Geral, convocada pelas centrais sindicais e movimentos sociais, para o dia 28/04, o SINTUFCE, o sindicato dos trabalhadores das universidades federais no Ceará, está se perdendo em uma disputa sórdida por aparato. Grupos que perderam nas urnas, desrespeitam a vontade da maioria, e querem colocar a perder todo um processo eleitoral apenas por não aceitar estar com as mãos longe da máquina sindical!
                  CHEGA!!!! Um sindicato que deveria estar na vanguarda das lutas no Ceará, tem permanecido apequenado por políticas mesquinhas e que não auxiliam na construção das lutas dos trabalhadores! 
                   A categoria merece respeito! Acontecimentos como esse nos desgastam e nos dividem num momento em que devíamos estar unidos para enfrentar o verdadeiro inimigo. Mais urgente que disputar o aparato, que comandar a máquina burocrática do sindicato é construir a Greve Geral e estamos perdendo um tempo precioso, em uma batalha inglória. Não é assim que vamos constituir uma alternativa ao projeto que hoje destrói o país, arranca nossos direitos e condena a todos nós a um futuro sombrio. 
                  Esse é um chamado à unidade! O governo nos quer assim, divididos, desmobilizados, sem rumo. Impugnar uma eleição limpa, que foi acompanhada por dirigentes nacionais da FASUBRA, é GOLPE! E nada justifica um golpe contra a vontade da maioria da categoria. 
A disputa pelo aparato sindical não leva a nada. É estéril e sem sentido. Coloquemos esse aparato nas mãos dos trabalhadores e a serviço da luta!

terça-feira, 28 de março de 2017

Sede de conhecimento

          Esses dias estou trabalhando na revisão de dois artigos que foram aceitos para publicação. Em ambos fui provocado a ampliar mais minhas referências com algumas sugestões de trabalhos que enriquecessem a discussão teórica dos artigos. Não é uma tarefa simples, você que já teve essa tarefa pela frente sabe disso. O que estou fazendo é uma pesquisa completamente nova. O resultado será um artigo que seguirá o anterior em suas linhas gerais, mas se abrirá a novos horizontes. Novas discussões.  
          E é aqui que faço minhas reflexões. O conhecimento é algo que me deixa pasmo! Múltiplo, infinito, em constante expansão. Repleto de nuances e aberto as mais diversas possibilidades.Pesquisei com afinco sobre o tema dos artigos, mas as sugestões que recebi descortinaram um novo universo. Abordagens, métodos, pontos de vistas, perspectivas variadas, enfim, peças de diversos matizes para compor o mosaico do Conhecimento, que como um caleidoscópio muda, transforma-se a cada vez que você revê o corpus de informações coletadas para a pesquisa. 
           É algo belo. Temível também, uma vez que a cada leitura, a cada pesquisa, vamos ficando conscientes da insignificância do que sabemos e da necessidade de aprender mais. Hoje, quando se populariza o conceito de Learning Organizations, as organizações que aprendem, precisamos ainda mais nos recordar que necessitamos estar sempre aprendendo também. Não podemos aceitar as limitações, devemos esforçarmo-nos para expandir os horizontes sempre!
              A sede de conhecimento não pode ser saciada nunca. Tanto melhor. Porque esta é uma fonte que não para de jorrar. Nos tornamos humanos pela ousadia de enfrentar o desconhecido e clarear as trevas da ignorância com a luz do saber. É uma jornada árdua, mas gratificante, porque é da nossa natureza ser inquisitivos, é da nossa natureza querer saber!

segunda-feira, 20 de março de 2017

Fábricas de Deus

            Já não sei se o homem é uma criação de Deus. Mas eu tenho certeza de que o Deus que é pregado todos os dias em milhões de templos pelo mundo, o Deus a quem as pessoas dirigem suas súplicas, a quem responsabilizam por seus fracassos e agradecem por seus sucesso, esse, é uma criação muito humana. Antes que comecem o apedrejamento, quero dizer que acredito na existência de Deus. O divino é algo que transcende ao homem e está presente em todas as coisas. O que não dá pra acreditar é esse romancear que é feito sobre Deus. Por que Ele se envolveria em assuntos humanos tão mesquinhos? Porque Ele iria dar uma ajuda para que tu tires uma boa nota na prova, ou te dar um emprego, ou ainda te fazer encontrar a pessoa certa pra casar? Por que Ele iria enfurecer-se com você e lhe privar de paz e tranquilidade? Por que Ele tomaria partido numa briga entre vizinhos? 
           O fato é que cada um molda Deus de acordo com seus gostos. Há um Deus compassivo e bondoso, cheio de misericórdia. Este é o ideal para alguns, e são esses que enchem os templos que tem Deus com essas características. Já há, para outros, um Deus irascível, vingativo, que se ofende por qualquer deslize dos pobres humanos e descarrega sobre eles seu furor. Por incrível que pareça, há igrejas que admiram esse Deus e estas também estão cheias. Nossas igrejas são nada mais, nada menos que verdadeiras fábricas de Deus. Um processo árduo, mas que é realizado diariamente mundo afora.
            Parece um grande self-service. A Bíblia seria o buffet. Nela você vai encontrar uma miríade de características que podem ser combinadas das mais diferentes formas para criar seu protótipo de divindade. Tudo porque a Bíblia não é um livro único! Aliás, em grego, significa livros! Começa daí. Foram dezenas de textos escritos em épocas diferentes, por pessoas diferentes, vivendo experiências diferentes. Pessoas que precisavam, às vezes, de um poderoso Deus guerreiro, outras, de um pai amoroso e assim por diante. Depois esses textos foram sendo compilados e copiados, reunidos e separados, tantas vezes que muito provavelmente o que chegou até nós está longe de ser o que o autor original queria retratar. 
             O fato é que chegamos ao século XXI, e acabamos por nos afeiçoar a essas ficções de Deus, muito mais do que ao Deus real. Sabe por quê? Porque amamos o que se parece conosco e o que pode parecer mais conosco do que aquilo que criamos? Mas você não precisa acreditar em mim. Visite as igrejas. Vá em cada uma delas, assista seus cultos, rituais e veja, o quanto Deus difere de uma igreja para outra e até mesmo, de ministro a ministro dentro da igreja.   Você vai notar tantas versões... Mas, você dirá, Deus é tão grande que pode ser todas elas... e eu replico, assim como pode não ser nenhuma delas. 
             Não tenho respostas. Mesmo assim sigo fazendo perguntas. Através delas, e somente delas possa chegar a uma verdade! Busquemo-la então!
    

domingo, 19 de março de 2017

Cidades

             Hoje me peguei pensando nesse aglomerado de pessoas que se espremem numa área geográfica e passam a partilhar de diversas experiências e rotinas comuns. Chamamos isso de cidade. Por incrível que pareça, uma cidade nunca é a soma de seus moradores. Ela é algo mais. Ela possui vida própria e muitas vezes uma vontade própria, uma vontade que premia uns privilegiados e que faz uma vasta maioria viver de forma miserável.
             As primeiras cidades surgiram muito antes da escrita. Muito antes do que as instituições que hoje são símbolos dela, como as escolas, os bancos ou as igrejas. Assumiram ao longo do tempo as mais diversas funções, tendo mesmo a sua importância aumentado ou diminuído de acordo com a sociedade que a originou.
             Mas foi o capitalismo que concedeu às cidades uma dinâmica própria, de crescimento exponencial. Foi o capitalismo que retirou do campo milhares de pessoas, que se viram, de uma hora pra outra, despojadas de tudo o que conheciam. Relações de parentesco e amizade foram rompidas, substituídas por outras, não tão sólidas, baseadas na cumplicidade nua e crua dos excluídos.
            Hoje, as cidades, em qualquer continente, em qualquer país são o local do contraste: um local onde se pode ver a suntuosidade do mundo dos ricos e as choupanas miseráveis dos pobres, onde carros caríssimos disputam o espaço com os ônibus lotados que atendem a grande massa de trabalhadores.
            Mesmo o entretenimento é diverso. Há espaços delimitados e pouco permeáveis para cada classe, não porque estejam proibidos de circular no local, mas porque a força do dinheiro cria as mais abjetas barreiras.
            E as cidades enganam. Quem visita Fortaleza, por exemplo, acaba tendo uma ideia de cidade cosmopolita, exuberante, com uma vocação turística natural. Mas isso é pra quem permanece dentro do teatro armado pelos operadores de turismo. Pois, longe da beira-mar e dos caríssimos parques aquáticos, vive uma população entregue ao medo, à violência e marcada pelo descaso por parte do setor público.
          Toda cidade tem suas belezas. Toda cidade tem suas feiuras. Ter uma ou outra, não é vivenciar a realidade. O correto é encarar essas duas realidades de frente e procurar meios para que todas as cidades sejam menos desiguais.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Março de 2017


               O 08 de março e o 15 de março foram datas importantes para o movimento dos trabalhadores. Depois das jornadas de junho, difusas, com  vários matizes e as mais variegadas reivindicações, os dois dias de luta deste março de 2017, foram um sopro de alento para o movimento dos trabalhadores. As categorias organizadas ocuparam as ruas em um excelente contraponto à manifestações da direita que culminaram na deposição de Dilma Roussef. 

               O fim do governo do PT, realizado de forma traumática, sob acusações de corrupção, em meio a maior crise enfrentada pelo país desde os anos 1930, acabou por trazer de volta a posições anti-governistas uma série de organizações que estavam assimiladas ao status quo e serviam-se, para sua sobrevivência, de uma relação promíscua com o governo, em vez de voltar-se para a sua base. 
O resultado foi a inércia dos trabalhadores frente aos ataques. 
               Agora as mobilizações tomam corpo. No entanto, observa-se uma divisão e uma polarização no campo progressista. As ilusões eleitorais ainda são um peso para os partidos que estavam no governo até a pouco tempo. Não podemos levar os trabalhadores ao engodo do chamado "governo dos trabalhadores" dentro do sistema do Capital, tal peça é uma ficção. É algo simples: o Estado burguês serve aos interesses de sua classe. Para que o Estado atenda aos anseios da classe trabalhadora, devemos tomá-lo das mãos da burguesia, desmontar sua estrutura burguesa e fazer do mesmo um Estado Operário, voltado aos interesses da classe produtora. 
                Portanto, o momento é de concentrar forças para combater os ataques. As denúncias de corrupção continuam e a contradição dos que se manifestavam contra a corrupção no governo do PT, mas que não movem uma palha nos dias de hoje devem ser exploradas. Devemos ganhar as ruas, mas também devemos ganhar as escolas, universidades, fábricas, canteiros de obras e todos os locais de concentração dos explorados, para pavimentar o caminho das lutas. 
                Acredito no poder que a organização dos trabalhadores possui. Produzimos toda a riqueza, porque motivos não poderíamos construir nosso próprio destino?
                 Em 2017 a Revolução Russa completa 100 anos. Este ascenso é representativo, pois mostra à burguesia que ela não nos venceu!

sexta-feira, 10 de março de 2017

Lotação

Ônibus lotado. Constante nas cidades brasileiras, tão onipresente nelas, quanto as ruas com esgotos a céu aberto nos bairros pobres. Trabalhadores de várias categorias, estudantes, donas de casa, todos espremidos no veículo. Os que tiveram sorte de conseguir um lugar sentado passam o tempo de diversas formas, uns leem, outros cochilam, há os que ouvem música... e, uma característica dos nossos tempos, tem muitos de olho no celular, facebook, instagran, whatsapp e por aí vai. Nunca antes na história da humanidade estivemos tão conectados! Em minutos, as notícias massificam, as histórias se multiplicam e cada um tem uma opinião a dar um comentário a fazer, ainda que na cômoda segurança das redes sociais.
Mas o ônibus segue em meio ao trânsito congestionado. Em cada ponto mais pessoas se acotovelam para entrar. É outra loucura do nosso tempo: todos devemos chegar ao trabalho, à escola, ao médico, no mesmo horário. Não temos escalas de trabalho diferenciadas para evitar congestionamentos. Temos que cumprir a ditadura do horário comercial, nas repartições públicas, nas escolas, nos hospitais, nos escritórios, nas fábricas e, pasmem, mesmo em empresas de economia criativa, que, perdoem-me, não tem nada de criativas ao fazerem seus profissionais deslocarem-se em meio a um trânsito infernal para baterem um mísero ponto!
Até quando nos forçaremos a permanecer atuando segundo um modelo que, definitivamente, não está funcionando?