domingo, 29 de janeiro de 2017

Consumidor ou cidadão?

                Vivemos dias verdadeiramente confusos. Confusos na medida em que, cada vez mais, estamos deixando de ser cidadãos de um Estado Democrático de Direito para nos tornarmos consumidores. É algo assustador perceber isto. É assustador ter que recorrer a um plano de saúde porque você não consegue vagas na rede de saúde pública. Assustador porque, mesmo que você esteja com seu plano rigorosamente em dia, você pode ter seu acesso a saúde negado pela administradora do plano. Isso quando o plano já não é destituído de diversos procedimentos, porque foi pensado para a população de baixa renda, consumidores de segunda classe que merecem atenção até o momento em que assinam a adesão...
               É assustador ver que nossas crianças estão nas escolas, mas que em poucas delas existe realmente esforço e estímulo para que essas crianças aprendam. E você se vê obrigado, caso queira que seu filho tenha resultados positivos na vida escolar, a matriculá-lo nas empresas de educação, disfarçadas de escolas, que imprimem nele um espírito individualista e competitivo, que o acompanhará em toda a vida escolar. É assustador o número desses jovens que tiveram uma educação de ponta, nessas empresas educacionais e que são desumanos para com os demais.
               Tudo porque ideólogos decidiram que direitos tradicionalmente ofertados pelo Estado para sua população não são direitos. São privilégios. E que devem ser ofertados como serviços, pela iniciativa privada, tecendo loas ao mercado e antevendo um futuro brilhante para esse admirável mundo novo.
               Mas existe resistência, Aqui e ali vozes dissonantes são ouvidas. Isoladas ainda. Mas a maré está enchendo. Aos poucos trabalhadores dos campos e das cidades, sem terras e sem tetos, desempregados, e outros atores sociais, quase sempre esquecido nas planilhas dos grandes ideólogos começam a juntar-se e dizer não! Não para a perda dos direitos, não para a desumanização da vida, não às dívidas impagáveis dos cartões de crédito, cheques especiais, consignados e congêneres!
           Essas vozes não querem só o retorno do antigo. Querem algo mais. Querem o novo! E é esse novo que os responsáveis por todas essas mudanças (mudanças que levam para trás, que buscam nos regredir ao passado) querem impedir que nasça! Mas tão certo como o sol nasce mesmo depois da noite mais escura, um dia poderemos dar um basta a toda essa tentativa torpe de nos reduzir a números frios da planilha do burocrata!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Falando um pouco de cidades

            Em sua grande maioria, as cidades brasileiras são caóticas. Pequenas, médias ou grandes, estas cidades, obrigam seus habitantes a viverem em um caos ininterrupto. Trânsito complicado, crescimento acelerado e desorganizado, a escassez de serviços de qualidade. E isso convivendo lado a lado com a especulação imobiliária, onde os poderosos buscam por todos os meios empurrar para áreas cada vez mais distante a população pobre. População essa que permanece alheia a equipamentos de educação e lazer, porque estes se concentram em áreas distantes das periferias onde moram.
             Outra questão delicada é a do transporte. Nos últimos anos a população foi estimulada a adquirir seu carro próprio em detrimento do transporte público, que foi, em muitos casos, deixado a cabo da ganância dos empresários do ramo. Uns poucos ônibus sucateados, sem uma rota específica e sem horários determinados eram oferecidos à população que não podia realizar o sonho de ter seu próprio carro. Um círculo vicioso. Um mal serviço de transporte coletivo leva o usuário a adquirir, mesmo a custa de dívidas imensas, o seu carro. A diminuição da renda das empresas as leva a investir ainda menos em manutenção e qualidade, o que faz com que mais pessoas se afastem do serviço. E tudo isso acompanhado pelo inchaço das vias, tomadas por carros, que se acotovelam por espaço, enquanto um único condutor atrás do volante agradece a Deus a sua individualidade, por não estar no ônibus lotado que segue ao lado.
            Tudo isso caracteriza a privação do acesso a cidade para as camadas populares. Isoladas nas periferias, para onde foram empurradas pela busca incessante de novas oportunidades de ganhar dinheiro das construtoras, as classes populares não tem contato com as áreas nobres, que nitidamente não tem espaço para elas.
             Assim também os poderosos se encastelam em seus condomínios fechados, com sua segurança privada e sua busca alienante por garantir suas prioridade no consumo e na cidade.
             A cidade deve ser de todos ou não será de ninguém. Da forma como está evoluindo, um apartheid não oficial se projeta e pode degringolar em violência gratuita. A solução deve partir dos trabalhadores, organizando junto a eles sem tetos, moradores de ruas e demais excluídos, numa busca de mudar os parâmetros que o Capital lega às cidades e transformar nossas cidades em verdadeiros espaços de vivência comunitária.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Quem deve pagar pela crise

               Vivemos em um país verdadeiramente absurdo! Inexplicável. Onde os contrastes não se resumem só a desigualdade social, mas a muitas outras coisas. Onde ditos liberais andam de mãos dadas com conservadores de agenda reacionária, limitando seu liberalismo à economia e gritando palavras de ordem pelo Estado Mínimo. Um país onde políticos envolvidos em escândalos permanecem tranquilamente sentados em suas poltronas no congresso, sem sentir vergonha e se achando no direito de tripudiar da voz das ruas.
                É um país que durante toda a sua história não permitiu que as camadas populares tivessem acesso a uma educação de qualidade. E quando uma pequena, ínfima parcela, por meio de políticas afirmativas chega a Universidade, o status quo decide que já está na hora de acabar com universidades públicas. Eu senti na pele esse contraste. Estudei numa faculdade privada. Com bolsa. Mas diversos amigos não tinham bolsa. Trabalhavam o dia inteiro, para conseguir pagar um curso noturno. Enquanto isso, os filhos ricos dos chefes estudavam, de graça, o mesmo curso em uma Federal. Injusto? Sim, não porque o Estado está financiando a educação superior, mas porque o fazia para os ricos enquanto excluía os pobres. A chegada de cotas, de auxílios, de bolsas, permitiu que uma parcela da população pudesse seguir sonhando.
                 Mas a voragem do capitalismo nunca está satisfeita. Quer sempre mais, deseja aprofundar mais e mais a mercantilização de cada parte da vida humana. E o governo que temos por hora reza nessa cartilha. Executa um projeto de país que foi e é rejeitado pela população. Deseja reduzir o Estado a simples agência de interesses dos grandes bancos e conglomerados financeiros, deseja esmagar a pequena estrutura de bem estar social, que hoje garante que muitos brasileiros não vivam na indigência. E tudo por desejo de lucro. De se apropriar mais e mais dos sonhos, sentimentos e aspirações, fixando um preço módico por isso. Já não se quer cidadãos, o que se quer são consumidores. Já não se tem direitos, apenas serviços.
                Num país como Brasil o que choca mais, não é a visão absurda de que o direito dos pobres é um privilégio, que é a mesma tecla que se bate no mundo todo; o que choca mesmo é que, aqui, o privilégio dos ricos é visto como um direito.  Por isso o trabalhador perde a sua aposentadoria, mas os senhores da república não perdem suas benesses.... É por isso que se corta o seguro-desemprego, mas não se corta os bônus dos altos executivos. É por isso que, em nossas cidades, há espaços onde quem é do povo nem pode pensar em frequentar.
                 É hora de dar um basta! A crise está aí, mas não é o trabalhador que tem responsabilidade por ela, então, porque deve ser dele que tem de partir os maiores sacrifícios? Esta conta tem e deve ser paga por quem mais se beneficiou com ela. Pelas grandes multinacionais, pelos grandes bancos, pelas grandes empreiteiras, por todos aqueles que tinham convite para esta grande festa, na qual o trabalhador foi deixado de fora!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Sobre como Baudolino, de Umberto Eco, me salvou

             O ano era 2002. Ainda era pastor evangélico. Um certo sábado de julho estava de folga  e fora ao Centro da cidade. Compraria alguns itens necessários para a reunião do Domingo e voltaria para a Igreja. Mas por alguma razão, que até  hoje não entendo,acabei entrando em uma livraria. Era quase um sebo. Logo na entrada da loja, dezenas de títulos a preços promocionais. Você encontrava de tudo: paradidáticos, didáticos, enciclopédias, romances femininos, livros de idiomas, tudo empilhado sem organização alguma. Fiquei um tempo ali, como um garimpeiro remexendo o cascalho, em busca do ouro. Após um tempo, desisti da procura e adentrei mais na loja. Prateleiras por toda parte e, o melhor, quase ninguém entre elas. Poderia ficar bem a vontade. E foi o que fiz. Passei uma manhã inteira folheando livros, lendo-os, comparando edições.
             Saí da loja no começo da tarde com uma sacola e nela um livro que me chamara a atenção: Baudolino, de Umberto Eco. Conhecera Eco do seu livro maravilhoso, O nome da Rosa. Não que naquela época eu já tivesse lido o livro, na verdade só assistira o filme, estrelado por Sean Conery. Na verdade, quando me deparei com uma estante de escritores italianos, lembrei do filme e procurei pelo livro, mas ali eles não o tinham. A moça, uma bela loira de olhos verdes e um sorriso que faria um anjo pecar, me perguntou se eu não teria interesse no último livro de Eco, que também estava ambientado na Idade Média.
             "Melhor que nada", pensei. Comprei o livro e o levei comigo.  Joguei a sacola num canto do escritório e dei segmento a preparação para o culto de Domingo. No dia seguinte, o mais movimentado em uma igreja neo
pentecostal, passei o dia envolvido nas mais diversas atividades: atendimento de membros, batismo, reunião com os grupos de jovens, e evangelistas, enfim toda a azáfama rotineira que realizava aos domingos. A noite, enquanto dava uma organizada no escritório encontrei o livro.
             Encadernamento maravilhoso, uma capa que reproduzia uma iluminura, em cores que me encantaram. Fui ao quarto, e pus-me a ler. E não parei. Lia todos os dias após as reuniões. Ficava até altas horas acordado, dividindo o tempo entre as orações e a leitura e ao terminar estava completamente extasiado com o que acabara de ler!
              Ali, naquela leitura despretensiosa eu tive meu primeiro contato com os diferentes cristianismos que foram, ao longo dos séculos, derrotados pelo cristianismo atual. Pude descobrir o cristianismo nestoriano, pude conhecer um pouco do que acreditavam os gnósticos, fui apresentado ao drama de Ipásia, e tudo isso de forma irreverente e divertida, num livro, que como se pode constatar em seu epílogo não se leva muito a sério.
              Baudolino lançou em minha mente as sementes de uma inquietação. Minha própria Fé passei a ver com outros olhos. Comecei a pesquisar mais sobre o cristianismo primitivo, sobre os livros apócrifos, sobre o Jesus Histórico! Comecei a questionar os dogmas e as doutrinas. Não porque os considerasse errado, mas porque aqueles que me passavam esses preceitos, nada sabiam sobre como foram criados, suas origens.
               Quando deixei de ser pastor, busquei mais informações, ampliei minhas pesquisas e posso dizer finalmente, anos após ter deixado a Igreja: encontrei Jesus! Não o Deus onipotente, integrante da trindade, mas o profeta galileu, que com sua pregação itinerante, encheu de esperança um povo que a muito tempo não possuía motivos para sorrir! E pode acreditar, esta figura, que muito facilmente seria expulsa dos mega templos das igrejas de hoje em dia, é muito mais fascinante que o incompreensível Deus, que as multidões procuram diariamente em suas catedrais, templos e afins!
               A propósito, leiam o livro, vocês também vão se divertir, aprender e se encantar com a história do incrível mentiroso do Vale do Rio Pó! Não o tomes como um tratado de teologia, embora aborde muita coisa e até possas aprender com ele. É um ponto de partida, se deseja explorar mais, toma teu cajado e segue a vereda, tal como eu fiz. Não se preocupe em saber aonde vais, nem com a chegada, o que vale é a jornada, que será maravilhosa!
               E se me perguntas, me salvou de quê? Eu posso te dizer que me salvou de uma vida insípida, sem cor, a vida de um autômato que abdicou de tudo por  uma fantasiosa quimera. Escolhi saltar no escuro, abandonar o porto seguro em que me encontrava e seguir num mar proceloso. Quem diria que um livro, comprado por causa de um sorriso maroto, poderia fazer tanto alarde!

Ps. Veio deste livro a citação que uso na descrição deste Blog!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

I, Daniel Blake - Se tiver oportunidade, assista!

Sábado de sol, curtindo Fortaleza (vivo entre a Capital e o Cariri), resolvo ter uma tarde de cinema. Vou ao Cine do Dragão do Mar e volto de lá com uma grata surpresa. Refiro-me ao filme de Ken Loach, "I, Daniel Blake".
Sempre acreditei que o cinema deve levar mais do que entretenimento, diversão às pessoas. Ele deve também, informar, levá-las a refletir. E este filme com certeza de leva a pensar. A pensar muito. E porque não, te levar a questionar algumas verdades, consideradas eternas pelo Sistema Capitalista em que somos obrigados a viver.
A Europa, desde a crise de 2008 vem se desfazendo do seu Estado de Bem Estar Social. Aqui na América do Sul, onde o Estado de Bem Estar Social sempre foi um arremedo do que os trabalhadores europeus podiam contar, muitas vezes não temos a noção do drama que vivem os europeus ao se verem destituídos de direitos elementares.
I, Daniel Blake é um grito de revolta contra isso. Contra a vertigem do Capital que deseja perverter toda e qualquer relação. Contra a desumanização das relações, onde o sistema te obriga a ser apenas um número e como tal perder sua individualidade, sua condição de humano!
A luta de Daniel por receber seu auxílio doença é a mesma luta de milhares de trabalhadores que perderem seus empregos durante a crise, apenas para que os grandes bancos pudessem pagar polpudos bônus para seus acionistas majoritários. Uma luta que não é britânica, nem tampouco Europeia, mas de todos os trabalhadores do mundo!
Se você ainda é capaz de se indignar assista este filme e saia da sala de cinema disposto a construir uma resposta àqueles que desejam que não passemos de recursos, de números!
Durante todo o  filme você vê como o Estado abusa e despreza os trabalhadores, obrigando-os ao sub-emprego, à indigência e à prostituição. Vemos os burocratas se recusando a olhar os que buscam auxílio como semelhantes, como pessoas. É assustador ver como somos engolidos pela papelada, por infindáveis formulários, por entrevistas sem sentido, apenas com o fim de dificultar o acesso a direitos, muitas vezes básicos.
Um outro mundo é possível ? Acredito que sim, mas ele deve ser gerado agora por nós, com nossas mãos! Devemos dizer um basta a poucos com tanto e muitos com quase nada. Como dizia uma pichação num certo muro de Paris, em Maio de 1968: Sejamos realistas, peçamos o impossível!

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Liebe, Love, L’amour, Amor




O que é o amor? Como defini-lo? São muitas as respostas. O cinema, as artes plásticas, a literatura, as religiões, praticamente todas as atividades desenvolvidas pelo ser humano já tentaram responder a essas perguntas, ou pelo menos abordaram o tema.
Homens santos já dissertaram sobre ele e muitos, que não eram tão probos, ou até mesmo verdadeiros cafajestes, também já falaram sobre amor.
A Bíblia nos diz que Deus é amor. Que ele é paciente, bondoso, que não se ensoberbece. Os poetas, a depender do que quiseram exprimir, o chamam de ingrato, tirano ou ao contrário o colocam no mais alto pedestal dos sentimentos humanos.  Há os que morrem de amor, há os que vivem por ele. Há os que fogem, enquanto há os que o procuram em toda parte.
Quem nunca chorou por amor? Quem nunca soltou suspiros por alguém? Quem nunca teve um amor impossível? Quem... Poderia listar muitas outras. Mas o fato é que não há uma unanimidade.
O amor de Deus, o amor da família, o dos amigos, o dos pais, o das mães, o dos filhos, o da pessoa que ama e é correspondido, e o da que ama e não é correspondido, são todos diferentes, e são todos o mesmo sentimento, ou não?
Mas, o que sei do amor? O que sei é que, como todos, já sofri por ele e também já fui às nuvens com ele. Já chorei, já sorri, já fui lançado na mais profunda tristeza e também alçado a maior das alegrias.
Não sei defini-lo, não sei explicar, mas sei que, quando fixei meu olhar no olhar dela e pude perceber o infinito, eu soube que a amava.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, uma peça, um grande poema, uma obra prima

            O primeiro contato que tive com a história de Cyrano de Bergerac foi um desenho animado, ainda nos anos 80. A história me fascinou. O personagem era valente, inteligente, heroico e viva um amor platônico. Alguns anos depois, na verdade quase duas décadas, descubro que existiu sim um Cyrano, que deixou diversos escritos, entre eles uma viagem a lua, e que foi baseado nessa figura que Edmond Rostand criou uma peça no século XIX. E que peça. Busquei o texto em livrarias sebos e nada... Só o e-commerce pôde me ajudar e finalmente obtive o livro.
           Poesia primorosa, bem medidas doses de humor, romance e aventura e alguns textos que ficaram gravados na minha alma, como o que reproduzi na imagem acima! Para quem deseja uma leitura tranquila pro final de semana é uma boa pedida. Não se arrependerão de conhecer mais este gascão, que como todos os outros gascões da literatura, é valente, é ousado e, como não poderia deixar de ser, apaixonado. Sua devoção à Roxane é tocante e o desfecho, que no teatro deve ser de uma melancolicamente belo, merece, sem dúvidas uma salva de palmas!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Uma pergunta em aberto

                      O velho estava sentado no alto da montanha. Olhos fechados. O sol nascendo a suas costas. Passara a noite toda refletindo sobre o sentido da vida. Ele vivera muito. Amou e foi amado. Odiou e é quase certo que fora odiado. Perdoou algumas ofensas, outras não, mas isso não o preocupava. Sabia que havia muitos que também não o perdoariam. Enfim, vivera como todos os homens.
                      Lembrou dos filhos, já crescidos, e do netos que costumava embalar em seus braços. Lembrou da esposa falecida. Tanto tempo! Sentia falta daqueles olhos, onde encontrava tanta cumplicidade, tanto apoio, nos momentos mais difíceis. Que não foram poucos. Ela vibrava com ele nas vitórias e o consolava nas derrotas, enquanto o envolvia em seu abraço.
                      Mas tudo se fora. Imaginava-se um Hércules subindo aos céus pelo próprio esforço, mas via agora que era apenas um D. Quixote a bater-se contra moinhos de vento. Abre os olhos. Uma ave qualquer atravessa o horizonte. A noite se dissipara por completo e o céu azul contrastava  com a cinzenta névoa que encobre o vale lá embaixo. Respira fundo mais uma vez."Minha vida valeu a pena?" Se pergunta. Levanta-se e vai até a pequena barraca, onde o neto dorme. Um sono tranquilo e inocente, o sono doce das crianças. O velho sorri. Sente no peito que encontrara a resposta a sua pergunta.
                     Viver é uma dádiva. E como tal, cada um decide o que vai fazer com ela. Alguns a enriquecem com felicidade, amor e outros bons sentimentos. Outros a desperdiçam em busca de ilusões. Suas escolhas determinam a resposta a pergunta: "Minha vida valeu a pena?"
                      Não precisa esperar a velhice para responder a essa pergunta. Faça isso agora, enquanto ainda tem tempo para fazer algo a respeito se não gostar da resposta. Aliás faça essa pergunta sempre. E a responda com sinceridade.
Nosso personagem encontrou uma resposta. Encontre a sua.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Por que um blog? Por que este Blog?

                   Este blog surgiu quando eu estava começando na Universidade Estadual do Ceará - UECE. Nunca teve altas pretensões, era apenas uma forma de estimular o debate e passar informações aos colegas. Mas nunca foi um espaço privilegiado por muita gente e portanto o projeto foi ficando um pouco de lado, enquanto me dedicava a outras empreitadas. De lá pra cá produzi muito. Contribui em sites e conseguir emplacar alguns textos em revistas científicas, mas aqui mesmo, para o blog, trabalhei pouco. Nunca abandonei por completo, vez por outra dava uma atualização, mas não o suficiente para que houvesse vida, verdadeira vida, pulsante, vibrante.
                   No entanto 2017 chegou trazendo algumas mudanças. Já na última semana de 2016 eram perceptíveis. Sentia uma maior necessidade de lançar a esmo textos e mais textos, não para leitores ávidos, mas para saciar o meu próprio desejo de escrever, de deixar os dedos vagarem sobre o teclado, enquanto eu viajo nos recônditos da mente.
                   É bom, sabe, de vez em quando fazer esses exercício. Sentar-se diante da folha em branco e deixar nela o que lhe vem a cabeça. Sem pretensão nenhuma, sem querer escrever um cânone, nem quere criar uma obra imortal, apenas e simplesmente registrar o que esse mecanismo impressionante que todos possuímos, a imaginação, pode realizar quando, em vez de podá-la, damos-lhe asas para voar.
                   E a função deste, meu caro é essa.  Desafogar uma mente inquieta, se ao fazer isso, agrado-lhe, que bom, se tiras destes textos algo interessante, melhor, mas não é por isso que escrevo. Agradeço sinceramente e imensamente o leitor que pode ter chegado aqui, seja lá por quais vias, mas não espera uma agenda. Este blog não é um blog de livros, embora indique alguns, não é um blog de cinema, embora possa comentar sobre, este blog não é acadêmico, embora, vez por outra, minhas pesquisas acabem respingando aqui.
                  A Pajépédia, enfim, é uma diversão, uma terapia, é o exercício da escrita para trazer serenidade em dias tão caóticos como os que vivemos. Dias loucos. Loucura. Lembrei de Bauman, morto ontem, 09/01/2017, uma das frases dele que trago sempre a mente é:
                  "A loucura não é loucura quando compartilhada". Permitam-me compartilhar convosco minhas loucuras, neuras e afins e nos permitamos ser mais do que ousamos ser!

PS. Não poderia deixar de agradecer aos colegas da UFCA, por me estimularem a retomar esse espaço. Espero que não fiquem decepcionados. Não sou escritor, apenas finjo. Mas escrever também não passa por isso? Fingir? 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Uma pergunta em aberto ou o que fiz com cinco anos da minha vida

Fui pastor evangélico por 5 anos. Posso dizer que foi uma experiência única, tanto pelo inusitado da atividade, quanto pelas dificuldades encontradas. Primeiro, devemos admitir que ser evangélico no Brasil é ser mal visto. É ser taxado de fanático, preconceituoso e tolo (não importa quão fanaticamente, preconceituosamente e tolamente a pessoa defenda essa visão, terá sempre alguém tão inepto quanto ela que concorde). Depois o evangélico brasileiro conta com o corpo sacerdotal de mais baixo preparo que se pode imaginar. Gente que se orgulha de não ter estudado e que não dá a mínima pras sutilezas teológicas de sua própria religião. Muitos não consegue entender a rebuscada linguagem usada por algumas traduções da Bíblia e disparam pérolas de humor disfarçadas de Teologia.
Mas voltando ao assunto, minha experiência, eu ingressei como Pastor auxiliar em uma das grandes Igrejas neopentecostais em 2000. 20 ano incompletos, muito desejo de servir a Deus e uma vontade imensa de aprender.
Primeira frustração - Não há o que aprender. Nenhum curso bíblico, nenhuma aula de teologia. Apenas a exigência de fidelidade cega e o repasse de velhos cacoetes e coreografias. O altar nada mais era do que um palco, onde eu deveria representar durante uma hora, uma hora e meia, a grande luta do bem sobre o mal... Para isso deveria usar de orações, cânticos, efeitos sonoros diversos e pessoas em transe, incorporadas com as entidades que acreditavam estar destruindo suas vidas.
Segunda frustração - A obra era de Deus, mas realizada por homens. Lutas por poder, inveja, brigas, desentendimentos, havia de tudo entre os pastores. Havia homens probos, sim, pastores que buscavam mesmo viver em santidade, consagrados, mas havia outros que, bem, não davam tão bom exemplo. E havia a questão da cobrança... não por almas, não pela pregação do evangelho, era uma outra bem mais humana... Resumindo, um pastor com quem trabalhei costumava me dizer: "No altar somos pastores; Descendo do altar devemos ser administradores".
Terceira frustração - O silêncio do Céu. Durante cinco anos eu não fui capaz de perceber o agir de Deus. Não vi o seu tão propalado poder. Não sentia sua atenção às minhas súplicas e às súplicas daquele povo desamparado que chegava à igreja em busca de ajuda... Se você que me lê é um homem de Fé, vai ser fácil imaginá-lo apontando o dedo para mim e me culpando por isso. Mas não quero condenação, nem tampouco absolvição de quem quer que seja. Você amigo, será mais feliz quando parar de julgar de acordo com seus parâmetros, afinal eles se encaixam a você, são sua visão de mundo, não servem para outras pessoas...
Perdi minha Fé. Ainda fiquei um ano inteiro como pastor. Amorfo. Empurrando com a barriga, como em um trabalho qualquer. Atormentado por uma pergunta que reverberou em minha cabeça nos últimos dias:
- O que é pior, descobrir que Deus não existe, e que portanto, nós estamos sós, ou descobrir que ele existe, mas que, definitivamente, não se importa conosco?
Independente da resposta, a vida continua, então, busquemos felicidade e quando a encontrarmos que  possamos com sinceridade atribui-la a quem mais lutou e se esforçou por ela: nós mesmos!
Hoje, anos depois de ter largado o altar, olho para esses anos com nostalgia, mas sem desejo algum de repetir a experiência. 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Reflexões kafkianas sobre a vida profissional

Texto publicado no administradores.com em 21/01/2013

Estive lendo Kafka estes dias. Uma de suas obras que sempre me surpreendeu é a pequena história que ele relata em A Metamorfose.  O escritor nos coloca diante da situação do jovem Gregor que um dia acorda transformado numa barata. Não nos é explicado como, ou porque o rapaz ficou neste estado, apenas acompanhamos angustiado sua tentativa de levantar-se e realizar as pequenas tarefas de sua rotina, mesmo se dando conta de que não é mais um ser humano.

E é aí que podemos ver na mentalidade de Gregor sua maior preocupação: não é seu estado, ele em momento algum se questiona sobre sua condição. Seus questionamentos são: o trabalho, a opinião de seu chefe, o sustento da família.
As primeiras horas sob a sua nova condição são tomadas por um pensamento: estou atrasado para o trabalho, como fazer para ir ao trabalho, quem o poderia ajudar a seguir seu caminho. Ele não chega a pensar um minuto sequer sobre o fato de que um inseto enorme, simplesmente não poderia executar o trabalho de forma normal. Quando finalmente se convence deste fato, e isso apenas depois de ter visto o chefe fugir assustado de seu apartamento, após ter contemplado a criatura que Gregor se transformara, então a personagem começa novas elucubrações.
Mais uma vez não busca explicações sobre por que está nesta situação e nem o que fazer para sair dela. Gregor parece estar conformado com a situação, o que o inquieta é a situação financeira da família, que já não pode contar com seu auxilio financeiro.
Ele acompanha com atenção a dispensa da empregada, a contratação de uma diarista, o retorno do pai ao mercado de trabalho, a iniciação profissional da irmã e mesmo o aluguel de cômodos da casa a hóspedes que viriam a alterar significativamente a situação familiar.
O conto vai se desenrolando em torno dos pensamentos de Gregor e em momento algum pode-se observá-lo como objeto dessas reflexões. O falecimento da criatura na qual se transformara o familiar, por fim vem trazer alívio a uma família que tocada pelo infortúnio se reinventou e que agora pode seguir sua vida sem o incomodo peso da monstruosa criatura.
Ora vejamos, Kafka pintou por meio deste conto o retrato de muitos profissionais modernos, que simplesmente vivem para o trabalho relegando mesmo sua saúde física e mental a segundo ou terceiro plano. Esquecem de viver a vida, preocupados em atingir suas metas, em proporcionar conforto a suas famílias deixando de viver a vida, em outras palavras esquecem de que precisam ter QUALIDADE DE VIDA! A personagem de Kafka, mesmo quando metamorfoseado em um repugnante inseto gigante, não pôde desligar-se dessas preocupações para pensar em si ainda que um instante.  E quantos acabam deixando de refletir sobre suas vidas, sua carreira e mesmo sobre quem se é de verdade, em meio a correria de suas atividades profissionais? Gregor era um trabalhador típico do capitalismo do século passado, no qual o trabalhador era apenas mais um recurso, que poderia ser a qualquer hora substituído. Em nossos dias somos bem mais que isso, uma vez que é cada vez maior a influência de nossas personalidades nos cargos que atuamos. Fazemos bem mais que apertar parafusos!
A vida não é só trabalho. A vida não é só diversão. Mas ela pode ser bem mais produtiva e prazerosa se encontrarmos o meio termo entre trabalho e diversão e com um pouco de temperança, nos proporcionarmos diariamente motivos de felicidade, coisas simples como ler um livro, ir ao cinema, brincar com os filhos, enfim, devemos nos lembrar que somos humanos e não máquinas.

O Fausto de Goethe sob o olhar de Berman

Texto publicado no Administradores.com em 20/07/2014.

Em "Tudo o que é sólido desmancha no ar", Berman utiliza obras literárias para traçar um pouco da história da modernidade. 
O primeiro capítulo aborda a obra de Goethe, “Fausto”, onde Berman foca no que ele chamou de a tragédia do desenvolvimento. Em sua análise da obra, ele dividiu “Fausto” em três partes que representam um crescendo nas perspectivas modernistas de Goethe, assim, somos apresentados a três “metamorfoses” de Fausto: ele se torna o sonhador, o amador, e, por fim, o fomentador.

Cada uma destas metamorfoses de Goethe, são também metamorfoses da sociedade europeia, à época do autor de Fausto. São formas como a sociedade europeia viu e encarou o modernismo, aceitando-o como o passo necessário para o desenvolvimento e o fim de um passado de trevas que devia ser sepultado a qualquer custo em nome das vantagens que se abriam para a humanidade.
Fausto deseja mais do que realizar um espetáculo, mais do que contemplar e conhecer a natureza, ele deseja domá-la, transformá-la, no entanto para tanto faz-se necessário, que ele próprio transforme-se completamente e torne-se algo novo, diferente do que era antes, para que assim ele possa realizar seu desejo.

A personagem de Mefistófeles vem até ele justamente para isso, para leva-lo a dar o passo necessário para a realização de seus anseios. Pode-se ver então que não foi Mefisto quem transformou a índole de Fausto, mas o próprio é que aos poucos vai se desprendendo de tudo em busca da realização de seu objeto. Ele entra em choque com o mundo tradicional e o vence, mostrando assim o próprio embate dos modernos contra a velha ordem, que vai acabar por subvertê-la.
Fausto aprende a destruir e a construir e começa assim a mostrar a típica voracidade do capitalismo, que destrói tudo o que toca para fazer erguer-se algo novo. A fábula Goetheana é a fábula do desenvolvimento do Capitalismo, que inicia cheio de aspirações para si e para o povo, cria uma ideia de liberdade e de progresso e que por fim, tende a destruir tudo o que se lhe opõem, para cumprir suas promessas. 
A forma como Fausto e Mefisto negociam com o Imperador, pela concessão das terras nas quais Fausto deseja desenvolver seu ímpeto criador, não deixa de apresentar mais uma face do Capital, do princípio do século XIX: já não se faz preciso uma revolução política! Acordos e negociações podem silenciar povos e nações apenas para o benefício de grupos e indivíduos em nome do progresso. Como diz Berman “[...]todas as barreiras humanas e naturais caem diante da corrida pela produção e a construção”. É interessante que fica difícil dissociar em Fausto diferenças sensíveis entre o modernismo e o Capitalismo, e é essa relação que se sobressai: o moderno surge da voraz necessidade do capitalismo por novos mercados, novas relações sociais e mesmo novos seres humanos.
Detenho-me por aqui... Berman no entanto continua, abordando Marx, Baudelaire e muitos outros. Uma obra que nos leva a pensar e a repensar o mundo que vivemos, afinal nós estamos vivendo nessa modernidade e necessitamos, como diz o autor de tudo o que é sólido desmancha no ar, criar maneiras de nos sentirmos em casa neste mundo moderno. 

Um conto de amor millenial ou Han atirou primeiro

Ele era de exatas. Ela fazia história. Se conheceram numa calourada, daquelas que se fazia dentro do Campus do Itaperi, som alto, cerveja quente. Ela estava meio alta (nunca se dera bem com vinho). Ele tinha sido arrastado pelos colegas.
Ela o achou metido. Ele a achou sem graça. O resto do semestre se esbarrando nos corredores. Palavras de praxe sendo repetidas sem sentimento: “Oi”, “como vai”, “bom te ver”.
Um domingo, shopping lotado, da fila do cinema ele a vê. Acha engraçadinho a forma como morde os lábios e procura na fila por alguém conhecido. Acena. Mais uma troca de amenidades e combinam para que ele compre os ingressos. O mesmo filme. Star Wars: O despertar da força. Primeiro ponto em comum. Após o filme, conversaram, formularam teorias, riram um do outro. Ele a achou espirituosa. Ela o achou bacana. A partir daí seguiram o roteiro de todo casal nesses tempos de mídias sociais: amizade no facebook, adiciona no whats’app, horas de conversa no mensenger...
Um belo dia o convite: “Vamos assistir a trilogia clássica”! “Na sua casa ou na minha tanto faz”.
Acabaram por ir pra casa dela. Filmes rolando, pipoca, guaraná, tudo tranquilo ao assistirem o primeiro filme. Foi quando o episódio V estava rolando que aconteceu. Leia olha para Han Solo e diz “I love you”, ao que o perfeito canalha que era o personagem vivido por Harrison Ford responde: ”I Know”. Até hoje eles não sabem, se foi o clima se foi a cena, ou sei lá mais o quê. O fato é que as bocas de ambos se encontraram em um beijo. Carícias, abraços apertados. Ele a achava super. Ela o achava demais. Ambos reconheciam um no outro o amor que achavam ser coisa das histórias que viam no cinema, ou liam nos romances e que agora se mostrava real. No meio dos amasso, a boca dele encontrou a orelha dela e então sussurrou como se lhe dissesse uma verdade sagrada: “Você sabe, o Han atirou primeiro”. Foi a primeira briga.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Noite sem sono

É noite. O calor não me deixa pegar no sono. O ventilador joga um ar quente, abafado sobre mim. levanto da cama. Não olho o relógio. Sei que é tarde. O movimento da rua se exaurira por completo, mesmo a algazarra das crianças silenciou a muito tempo.
Estou sozinho e penso nela. Quilômetros nos separam. O que andará fazendo? Neste horário deve estar dormindo. Eu é quem, como um notívago, teimo em ficar acordado, mesmo tendo que ir ao trabalho pela manhã.
Vou até a janela. A lua brilha espectral. Tem uma estrela enorme ao lado dela. Provavelmente um planeta. Marte ou Vênus? Não interessa. Olho para o outro lado e vejo o recorte escuro da Colina do Horto em meio a noite ainda mais escura. Luzes serpenteiam a colina desde a base até o alto onde fica a estátua de Padre Cícero. Lá em cima, penso, deve estar mais fresco.
Suspiro fundo. Folheio um livro. Me descubro sem paciência para ler, depois de ter passado a vista sobre quatro ou cinco páginas sem atinar com o sentido do que lia. O coração samba no meu peito. A garganta aperta e os olhos marejam. Tudo que eu quero é um noite de sono tranquila.
Ligo a TV. Zapeio os canais em busca de amenidades. Mais do mesmo na programação da madrugada: desenhos, séries sem graça, programas de vendas e os infalíveis tele-evangelismos. A felicidade a um clique de distância. Lembrei de quando colocava o copo com água ao lado do televisor preto e branco que tínhamos em casa quando era criança, para que o pastor orasse e abençoasse o copo com água. Bebia sôfrego daquela água e saía de casa para a escola como se fosse o garoto mais abençoado do mundo. Ri ao me lembrar disso.
Quão crédulos somos? Em todas as épocas,em todos os lugares sempre encontraremos pessoas dispostas a acreditar. Por que? Porque precisamos. Nossa devida depende disso. Queremos acreditar que há um ser superior que cuida de nós. Precisamos dele para justificar nossos sucessos e precisamos ainda mais dele para o culparmos por nossos fracassos.
Precisamos acreditar que o Capitalismo não é tão mau. E que se trabalharmos duro, chegaremos ao topo da pirâmide. Precisamos acreditar que o estelionatário tem realmente uma proposta maravilhosa pra mim, que nunca ninguém aproveitou antes. E lhe entrego o que tenho.
Somo engraçados. Vivemos de correr atrás do vento, esquecendo-nos de que somos peregrinos nesta terra e que para onde vamos, não levamos nada. No entanto continuamos dia após dia utilizando toda a nossa força, todo o nosso entendimento a entesourar coisas. De todos os tipos: dinheiro, imóveis, poder. Uma imensa quantidade de tralhas que não significam nada para você. Só consumo.
Volto para a cama. Fecho os olhos. O calor é tão intenso que parece palpável. Vou tomar um banho e quem sabe, com sorte, deitando molhado eu pegue no sono.