segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Uma grata surpresa: A forma da água

Já no apagar das luzes do carnaval, dei um pulinho no cinema. Assisti ao belíssimo A forma da Água. E posso dizer que Guillermo del Toro, mais uma vez conseguiu surpreender com um filme tocante e singelo, que aborda uma série de neuras e psicoses de nossa sociedade.
Às vezes nada é mais clichê que a insistência hollywoodiana da luta entre o bem e o mal e entre a bem demarcada fronteira entre bandidos e mocinhos. Neste filme também encontramos isso: o violão é vil e torpe e não temos como nos identificar com ele. E os que se colocam do lado do bem são cheios de virtudes, apesar de seus medos, fraquezas e deficiências.
Quando as luzes foram acesas e pudemos nos dirigir de volta ao nosso mundinho real, tão diferente daquele que contemplamos na tela grande, começamos, eu e minha parceira, a pensar no que esse filme, de roteiro tão simples, nos trouxe para refletir. E foi uma reflexão que revelou uma coisa: monstros existem... e não são assim tão diferentes fisicamente de mim ou de você... os maiores monstros não são aquelas deformidades que nos acostumamos a imaginar, baseado nas histórias que ouvimos quando crianças, nas lendas que nos contam nas escolas, ou apresentados a nós nos gibis baratos... os verdadeiros monstros estão a espreita, dentro de nós mesmos. Esses devem ser combatidos, de verdade, porque os estragos que costumam fazer são bem reais.
Assistam A forma da água, tirem as suas próprias conclusões. Divirtam-se e deleitem-se com a trilha sonora maravilhosa e mergulhem no clima dos EUA dos anos 50, da guerra fria e não deixem de observar que para a empatia e mesmo o exercício da alteridade são necessários para sermos humanos!

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Leitura do carnaval: O gato e outras histórias, de Edgar Allan Poe

Carnaval chegando ao fim. Quarta-feira de cinzas. Cinzas. Pra muitos que desde sexta estão pelo mundo, hoje é dia de cinzas, Literalmente. Pra mim que fiquei no sossego do lar é só mais um dia de zapear canais em busca de algo interessante ou de folhear um livro ou outro.
Ora minha sorte, folheei a pequena brochura do Poe.  Fazia tempo que eu não lia algo dele e assim foi um reencontro sabe?
Três textos são muito bons: O poema "O corvo", e os contos " A máscara da morte vermelha" e "os assassinatos da rua Morgue". São três exemplos da versatilidade do autor e prendem a sua atenção, pois te fazem ansiar sempre pelo próximo passo, pelo que irá acontecer.
Vamos do último, ao primeiro. No conto sobre os assassinatos somos apresentados a Dupin! Um cavalheiro francês que serviu de inspiração para o Holmes de Conan Doyle. Seu uso da lógica para descobrir o autor do crime,    e o narrador ser um amigo, que ao final deve manusear a pistola nos faz lembrar muito do distinto detetive londrino. Embora encontremos essas semelhanças, seria muito difícil encontrarmos Holmes e seu fiel Watson em um crime tão sangrento.
Em a máscara da morte vermelha, parecemos ter sido transportado para um conto dos irmãos Grimm. Mas, não nos esqueçamos que nessa jornada, somos conduzidos pela mão do obscuro Poe. E o que temos? Um vívida descrição da Morte Vermelha e de seus sintomas! Ao mesmo tempo que a punição horrenda de uma elite, que abandonara o povo a sua própria sorte, confiante que seu poder e riqueza os salvaria.
Por fim, um poema excelente! E ainda mais sombrio. Parece-me que diante de meus olhos ainda paira o negro corvo e que em emus ouvidos retine a sua voz áspera e inumana, que a cada pergunta do protagonista só responde: Nunca mais!
Estes três coroam um livrinho, recheado de contos como esse, onde o tema do sombrio, da morte e as cinzentas pinceladas da tristeza acabam por levá-lo a refletir sobre uma porção de coisas!
Mas, porque nos deixar levar pelo clima pesado? Estamos chegando ao fim do carnaval. Amanhã, como dizemos, começa o ano! Voltemos à labuta, e lembremo-nos do corvo para dizer aos momentos tristes  de nossa vida: Nunca mais!