terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Em 2018, vamos ou não vamos?

2018 já começou. Os partidos burgueses buscam costurar um nome de consenso para as eleições, sendo que mesmo estas, diante da conjuntura, não parecem estar garantidas. Diariamente as redes sociais e a grande mídia testam nomes que vão desde as velhas caras (Alckmim, Serra) passando pelo que rotulam como novo (Dória), caricaturas (Hulk), além do velho flerte com a direita fascista (Bolsonaro). Os partidos iniciam as estratégias para descolar a sua imagem do impopular governo Temer, não porque tenham desacordo com o mesmo, mas porque precisam apresentar-se às urnas como diferentes.
À esquerda, observamos um processo tímido de reorganização das lutas dos trabalhadores, que sofre constantes freios da direção majoritária, ainda desejosa de canalisar as insatisfações para as urnas, garantindo o retorno ao governo do PT. Por vezes esse freio beira a traição, como nos atos nacionais do dia 05/12, quando diversas centrais recuaram da greve geral. Uma inesperada reação das bases obrigou a CUT e as demais centrais a irem as ruas, fazendo com que os atos fossem maiores do que o esperado! No entanto, a experiência dos trabalhadores com essas direções precisa avançar mais, para que haja mudanças profundas nas estruturas sindicais, bem como, em muitas categorias, ainda são atomizados os movimentos de oposição que possam se colocar enquanto alternativa de direção.
Este panorama é o que assistiu ao lançamento da Plataforma Vamos, que no segundo semestre levantou discussões programáticas com vistas a elaborar um programa de esquerda para ser apresentado às eleições de 2018. Apesar  de ser uma iniciativa da FPSM, apoiado pelo MTST, os debates do Vamos se mantiveram a nível de Vanguarda. Foi um importante momento de discussão, de aproximação dos diversos setores e correntes de esquerda, mas não conseguiu se tornar um movimento mais expressivo.
No entanto, um dos frutos dessas discussões foi pautar o nome de Boulos, como possível candidato em 2018. Para alguns, como alternativa à Lula, caso a justiça burguesa dê seguimento ao golpe e o impeça de disputar as eleições. Para outros como o candidato à esquerda do PT, aglutinando a importante base social do MTST aos demais movimentos, correntes e partidos da esquerda.
Mas, a candidatura de Boulos é realmente positiva para construção de uma alternativa para a esquerda, a esquerda revolucionária? Para responder a essa pergunta é preciso responder a uma outra, por que os revolucionários participam de eleições?
De acordo com a tradição bolchevique, que ficou registrada nos primeiros congressos da III Internacional, as eleições se mantinham como espaço tático de atuação dos revolucionários, uma vez que as massas proletárias permaneciam com ilusões a respeito do parlamento e processo democrático burguês, tornando a atuação dos partidos revolucionários importante na medida em que se pudesse faze a denúncia dessa democracia e atuar como revolucionários dentro das estruturas parlamentares burguesas.
Dito isso, voltemos para a primeira pergunta. É preciso entender não só a figura do camarada Guilherme Boulos, como também as suas posições. Boulos, dirigente do MTST, em São Paulo, começa a se projetar nacionalmente a partir das manifestações de Junho de 2013. Estar a frente de uma organização que congrega milhares de trabalhadores, notadamente da periferia, em uma luta pelo direito à moradia, credenciou Boulos a dialogar com amplos setores da esquerda. O Vamos nasce desse diálogo.
Apesar de apresentar posturas bem mais avançadas do que o PT e do que os partidos reformistas em geral, provavelmente, reflexo de suas bases, Boulos nunca se colocou abertamente contra a tática reformista. E mesmo quando seu nome começou a ser colocado como candidato da esquerda, este sempre fez a ressalva de que tendo Lula como candidato, ele não lançaria o seu nome.
Em outras palavras, não há, por parte de Boulos, desejo de se contrapor ao reformismo, independente do que sua base possa desejar. O máximo eu se pode esperar dele é que se comporte como uma das viúvas do lulismo, sendo candidato se e somente se, Lula não concorrer. Acredito ser algo muito frágil para que a esquerda brasileira possa apoiar-se e construir toda uma tática de atuação eleitoral.
O correto neste momento é buscar construir um nome dentro das nossas fileiras. Um lutador que se coloque resolutamente contra o reformismo e além disso um nome que possa fazer com que a própria disputa contra a US, dentro do PSOL, possa ser realizada de forma qualificada.
Devemos ainda levar em conta que o próprio Boulos, apesar de toda a especulação e dos convites, não se filia ao PSOL e reafirma que sua candidatura só faz sentido se Lula não puder ser candidato
Concluindo, Boulos é um bom nome, pelas possibilidades de diálogo com sua base, por ser um nome que poderia trazer uma repercussão enorme, pelas lutas que o mesmo encabeça. No entanto, a vanguarda não pode atrelar-se novamente ao reformismo. Sabemos o duro preço que pagamos pelo regime reformista de Lula e do PT, e não podemos ser os responsáveis por uma reedição do Lulismo, com outra cara. É nas lutas que mudaremos esse país. No entanto, a arena eleitoral não pode de forma alguma, ser abandonada pelos revolucionários.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

"Realidade"?

      É muito fácil para quem teve acesso a uma educação racionalista, questionadora e aberta, conjugada a um ambiente familiar livre de preconceitos, fazer chacota da maioria silenciosa que não teve tantas oportunidades de educação e que vive sob o tacão da família e dos sacerdotes de vários matizes, por acreditarem em mitologias diversas. Falta-lhes um exercício de alteridade e de reconhecer que só porque algo não é concreto, palpável, tal coisa não é real.
     Na verdade muito do que é fruto da imaginação dos seres humanos toma poderosos aspectos de realidade, a ponto de forçar atitudes, hábitos e criar costumes. E, observe, seu caráter coletivo, de construção conjunta de toda uma sociedade dá-lhes uma coesão que dificilmente encontramos em outros aspectos da vida social. 
      Você, leitor, deve estar imaginado, até que aqui, que estou a falar das religiões, das crenças. Sim estou. Mas não apenas delas. Falo aqui também de muitas outras ficções, que hoje, dificilmente alguém poderia questionar a sua concretude. Entram aqui os Estados, o dinheiro e muitas outras construções coletivas, que embora fruto da atuação imaginativa do homem, hoje permanecem de pé, quase que por si sós. 
       Daí, a importância da pergunta: O que é real? O que é fantasia? 
       Vivemos neste mundo entre luz e sombra, entre a dor e a alegria e muitas vezes a única coisa que nos prende a sanidade é acreditar em ficções bem sucedidas. Porque é isso que nós seres humanos somos, desde que aprendemos a andar eretos, desde que pintávamos nosso cotidiano nas paredes das cavernas. Somos contadores de histórias. Somos inventores de nossa realidade, de nossa própria humanidade. Somos inventores de nossas próprias cadeias e somente nós podemos escolher quebrá-las. Somente nós podemos nos apossar das narrativas, hoje nas mãos de poucos e fazer com que a história seja contada de acordo com os desejos da maioria, da massa trabalhadora. 
        

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Só papeando

Demorei para voltar aqui. Na verdade as tarefas deste ano que está findando foram muitas, e acabarm tomando mais tempo do que eu esperava. Tem também a questão de que vir até aqui e escrever exige que eu tenha uma coisa realmente boa para compartilhar. Surgiram assuntos bons, relevantes, surgiram outros que nem tanto... mas permencei mesmo distante do blog. Uma ou duas vezes cheguei a abrir a página, e fiquei, quem já passou por isso sabe, olhando a página em branco e o marcado de texto piscando, piscando...
Queria ser mais criativo, juro, queria poder ter diariamente assunto para encher páginas e páginas deste blog e transformá-lo em algo menos inóspito, mas me falta inspiração. E isso, inspiração, já foi algo por que já pedi às musas e às fadas, a Deus e aos deuses, a santos e a orixás... Mas não obtive resposta... então, ou não existem, ou minha alma, ou adoração de nada vale a eles, porque de minhas imprecações só obtive como resposta o silêncio.
Pois bem, último mês do ano, cismando aqui sozinho em casa, resolvi apenas sentar-me diante deste teclado e fazer este monólogo. Gosto de pensar que é para o leitor, mas na verdade é comigo mesmo. E isso é uma das utilidades de se ter um blog. Conversar consigo mesmo e, se não fores tçao convencido, como alguns, poder caçoar um pouco de si.
Bem, para não perder a oportunidade, devo dizer que passei o último mês fazendo aquilo que é rotina da minha vida: lutando por algo que é necessário, mas que além de mim, poucos querem. Atravessamos tempos difíceis. Um governo ilegítimo caça direitos, tenta destruir a aposentadoria e acabar com a universidade pública, enquanto detona com os servidores públicos. Aqui e ali, surgem discursos sobre a necessidade reação. Mas a maioria prefere acomodar-se confortavelmente na poltrona da sala e amaldiçoar o governo, sem mover uma palha. Parece piada , mas é a triste realidade. O facebook virou a arena que todos acreditam ser a ideal para deter os ataques e ningué quer enxergar que o ativismo virtual está nos matando aos poucos, com a sua fórmula quimérica de que alguns cliques podem mudar o mundo.
Infelizmente, caros, pra mudar o mundo é preciso sujar as mãos. É preciso correr riscos. Mas ninguém mais quer lançar dados com a vida... Agarra-se ao certo ainda que pouco parece ser a filosofia de nossos dias. O problema é que no andar dessa carruagem, não existirá mais o certo... E quando esse momento chegar, ainda poderemos resistir? O momento de sacudir as estruturas e romper as cadeias é este. E quanto a mim, já estou acostumado a andar contra o vento, a nadar contra a maré... porque eu sou o que lutei pra ser e continuarei lutando pra seguir mais a frente!