segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Segurança pública para quem? ou o ajuste liberal vai ser mais pólvora no incêndio

Virou rotina na capital alencarina os ataques de criminosos contra prédios públicos, ônibus e a instalação do caos nas periferias, onde moradores ficam ilhados pela ausência dos transportes públicos e pela própria inércia do governo que preocupa-se em salvaguardar as áreas nobres e turísticas da cidade.
Assim, os primeiros dias de 2019 pareciam trazer mais do mesmo para a população. No entanto, o caos desse início de ano não se limitou à Fortaleza. Um pouco mais de 40 cidades em todo o estado  sentiram a força das facções. Cidades pequenas e médias, pouco habituadas a ações que antes só tomavam conhecimento pela TV, viram de uma hora para outra a sua rotina abalada por explosões, incêndios e tiroteios.
A situação a que chega o estado do Ceará é ainda mais inusitada ao se recapitular que os últimos governos, os dois de Cid e o primeiro de Camilo, representaram anos de investimento no aumento do efetivo policial, na expansão do RAIO e na construção de novos presídios e delegacias. Um investimento maciço em um modelo falido, um modelo que contrapõe à violência dos criminosos a violência do Estado. Um modelo que coloca os trabalhadores e a população mais pobre bem no meio do fogo cruzado.
Na verdade, o caminho adotado pelos últimos governos ignora a desigualdade marcante existente no Ceará e se propõe simplesmente a reprimir sem dialogar com a população. Essa falta de diálogo termina por alimentar o crime, pois as classes alta e média continuam a consumir as drogas e a ser receptadora de produtos ilícitos, enquanto as classes desfavorecidas se tornam a mão de obra a ser recrutada pelas facções.
Muitos jovens se encontram sem perspectivas em uma sociedade cada vez mais individualista e preconceituosa. Dentro de uma conjuntura de difícil sobrevivência, a filiação a facções é um dos poucos caminhos vislumbrados  para ter uma condição de vida melhor. Afinal, onde conseguir 1000 reais por um serviço rápido, tal como as facções ofereciam para quem realizasse ações como a queima de ônibus?
Aliada a isso, existe uma leniência em relação ao combate aos líderes do tráfico. Estes não se encontram nas favelas e periferias. Engraçado como se busca endurecer contra os pequenos traficantes e os chamados aviões e quase nada é feito contra os barões da droga e do tráfico de armas que municia os exércitos das facções.
A população vive amedrontada, de um lado as facções e seu poder ilegal, de outro a truculência policial. Policiais esses que não conseguem se visualizar enquanto parte da classe explorada, se comportando como braço armado da burguesia, reprimindo outros trabalhadores.
Interessante que mais armas,mais policiais, mais presídios nas duas últimas décadas nos trouxeram exatamente a essa situação. Uma evidência empírica de que está errado fazer apenas isso. Ações coordenadas de recuperação da cidadania e de combate a desigualdade social, junto com as medidas que foram implementadas teriam tido um resultado melhor. Investir também em mais inteligência policial seria bem mais efetivo.
É preciso uma outra polícia.. Uma outra política de segurança pública. É preciso fazer secar as fontes de recursos do tráfico, com a legalização lenta e gradual de certas substâncias.
2019 abre-se uma nova fase no Brasil, onde a exploração capitalista tende a se acentuar, tornando o trabalho ainda mais precário e ampliando ainda mais o fosso entre ricos e pobres. O desmonte da previdência e a arrancada de direitos deve ser combatidas por serem danosas à sociedade e por contribuírem ainda mais para a situação preocupante da violência em nossas cidades. O ajuste neoliberal joga mais pólvora sobre a fogueira que arde no país.