segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Memória, cinema e afins

Faz tempo que assiti pela primeira 1492 - A Conquista do Paraíso, filmão rodado para as comorações dos 500 anos da chegada de Colombo à América. Eu era um adolescente, apaixonado por história e que adorava filmes baseados no passado. Naquela época a cena final me chamou muito a atenção. Nela um Colombo envelhecido e desgastado conversa com seu filho Fernando. Este pede ao navegador que lhe conte tudo o que se lembra das viagens. Colombo diz uma frase: "Eu me lembro" e a fica repetindo, enquanto a câmera foca no papel onde o filho detém suspensa a pena embebida na tinta, que pinga sobre o papel.
Ali, no fim de um filme, que anos depois tive de rever com outros olhos, para entender a reconstrução que o cinema fazia do descobrimento da América, ali. naquela imagem da tinta pingando sobre os folha de papel eu me dei conta da importância das lembranças, da memória e dos registros da mesma.
De como sabemos de acontecimentos do passado pela opção que alguém teve de guardar e preservar alguns documentos em detrimentos de outros. De privilegiar narrativas enquanto outras eram escondidas ou perdidas para sempre.
É isso. nós estamos sempre mudando. Assim como nossa compreensão do passado. Talvez por isso há quem diga que não há verdade. Mas há. a verdade foi o que ocorreu, com suas motivações, suas contradições e tudo mais. Uma tecitura complexa e que muitas vezes é reduzida por quem escreve sobre ele. Há os que o falseiam. Há os que o observam sob um só ponto de vista. Mas não existem várias verdades. Existe ideologia. Existem ideologias. E estas retratam com suas cores o passado que desejam.
Precisamos compreender isso. E seguir na busca da escrita da história. Usando da memória, dos documentos, enfim do que nós tivermos às mãos. Para compreender que homens fizeram a história, imprimiram sobre ela seus sentimentos, impressões  e desejos. Escrever para responder as perguntas que temos a fazer ao passado, perguntas cujas respostas nos ajudarão a compreender o tempo em que vivemos.