terça-feira, 21 de julho de 2020

Normalidade, anormalidade, realidade

"Vamos em busca do novo normal". 
"Precisamos voltar ao normal". 
"Foi um ano atípico, mas devemos fazer tudo voltar a normalidade". 
Vocês já ouviram essas e outras frases vindas de gente bem intencionadas. Você até concordou com elas. Permita lhe chocar.
Não será normal, nem haverá um novo normal depois de tantos mortos. Depois de vermos uma parte considerável da sociedade brasileira não dar um mínimo valor que seja ao próximo. 
Não há como considerar moral a sociedade adoecida, que elegeu para a presidência um homem que não consegue ter empatia alguma. Uma sociedade que vê com passividade o massacre de negros e pobres, na qual um marido espanca e agride sua mulher e todos viram o rosto. 
Não se pode querer uma normalidade onde as igrejas, onde as religiões são contra a diminuição das desigualdades. Não se pode admitir normal a sociedade que se recusa a aceitar o amor em suas várias formas e que se recusa a ver a riqueza da diversidade e da pluralidade. 
É triste ver que em nosso normal as pessoas apóiem a greve de policiais e sejam contra todas as demais greves. Um lugar onde lutar por seus direitos é crime e onde crimes são chamados de negociação política. 
Não quero o normal. Nem o novo normal. Quero deixar tudo de.ponta a cabeça, aproveitar que a Pandemia deixou o capitalismo zureta e forçar ainda mais para vê-lo vir abaixo. 
É isso. Fazê-lo pelas milhares de vidas perdidas. Pelas mães que não conseguiram por comida na mesa dos filhos. Em nome dos que em cima de uma moto, com uma mochila nas costas.e.com um aplicativo no celular, entenderam que apesar da propaganda, não passam de mais trabalhadores. 
Sinal dos tempos: economia fechada, faltou algo para a playboyzada? Mas nas periferias, que agonia. Agora que está voltando, as lojas todas abrindo, quem tá saindo? Nas torres torres altas dos bairros chiques, os entregadores continuam indo e vindo. E, lá da favela, o ônibus lotado saindo. 
O pobre ficou naquela, "me arrisco a morrer tossindo, sem ar, por esse vírus? Ou fico a morrer de fome, eu, a mulher, a meninada"? 
No Brasil, o problema maior nem foi o vírus. Foi só a ganância mesmo, junto com a inoperância de umas políticas, que se disseram novas, quando na verdade era as mesmas velhas, racistas, elitistas e ultrapassadas politicas que os donos do poder aplicam neste país, desde que Cabral aportou aqui e inaugurou a barbárie.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Isolamento e depois?

Você imaginava que ficar em casa fosse uma medida tão dura? Praticamente todo mundo que eu conheço já não aguenta mais ficar em casa. Só permanecem por reconhecerem a gravidade da situação e, é claro, os que podem. Porque tenho amigos que precisam trabalhar, pois atua em serviços essenciais. Outros, autônomos, sem conseguir o auxílio emergencial se arriscam na esperança de trazer algo pra casa. 
No fim das contas, perdemos todos. Perdemos para a ganância, para o descuido com a vida, para quem apostou na insustentável permanência em lares insalubres e sabia que a massa, mesmo temerosa não poderia ficar confinada, sem emprego, sem renda e com fome, fazendo de tudo para que não houvesse socorro, solidariedade e nem mesmo um vestígio sequer de humanidade. 
Presenciamos o retorno das atividades bem antes do esperado, porque nem governos, nem empresários acreditam no valor dos explorados por ambos. 
Enquanto isso, em maquinações espúrias direitos são arrancados e o proto Estado de Bem Estar Social brasileiro é desmontado.
A resistência é ainda tímida, mas já se apresenta. O protagonismo dos bandos de direita arrefece, pois as ilusões plantadas foram desfeitas, pois suas políticas só pioram as condições de vida dos trabalhadores. 
Mas os setores conservadores ainda detém o controle das narrativas, por meio da mídia e das direções religiosas conservadoras. Ainda temos um longo caminho a percorrer. E derrubar Bolsonaro, Mourão e seus aliados é apenas uma das tarefas.A chama arde e há de queimar. 

domingo, 26 de abril de 2020

Pós pandemia

A Pandemia pôs o neoliberalismo em cheque. Depois de anos apostando no individualismo, na exacerbação da desigualdade, na submissão total e completa do Estado aos interesses do mercado, bastou alguns meses para que muitos medalhões da economja mundial entendessem que o neoliberalismo não dá respostas quando se trata de cuidar das pessoas. 
Sua proposta de colocar tudo e todos por conta do mercado levou aos países que aplicaram seu receituário, em maior ou menor grau, a se verem sem equipamentos para enfrentar a Pandemia. 
O mercado não conseguiu universalizar a saúde, afinal, o que sempre desejaram foi maximizar lucros e dividendos. A vida foi, como diz o livro sagrado, pesada, medida e achada em falta. Falta de atendimento, falta de investimento, falta de solidariedade. 
Mais uma vez o Estado teve que entrar em cena. De forma dramática, porque o último ciclo de austeridade desestruturou o setor público, cada governo teve que buscar reconstruir mecanismos de saúde pública, contornando as legislações austeras aprovadas para ofertar ao mercado todo patrimônio das nações. 
Mas, ilude-se quem acredita que a crise econômica, financeira e de saúde derivada do Coronavírus vai sepultar o neoliberalismo. 
Aqui e ali, Keynes volta a ser lembrado, citado e até utilizado. Mas o neoliberal não é fiel aos fatos, nem se exime de dar de ombros e fingir que seu receituário não foi o responsável pela bancarrota de não poucos países. 
Entre os neolib mais fanáticos, os brasileiros inclusos, já se prepara o retorno a austeridade, depois desse período em que o Estado teve que ser reanimado e colocado para funcionar para impedir o pior. 
Por isso, quem acredita que é possível outra economia, que é possível uma alternativa, deve se organizar. Debater, propôr e colocar em panos limpos e a vista de todos o papel das medidas de austeridade para nós colocar no beco sem saídas em que estamos metidos. 
E, apesar de ter citado, não falo do velho Keynes e da sua receita para salvar o sistema capitalista. Precisamos ir além. A crise que está posta diante de nós precisa de saídas que não podem ser desenhadas dentro dos estreitos limites que o capital nos deixa para atuar. 
Precisamos ousar. Uma política econômica vinda dos de baixo, anticapitalista e construída coletivamente. Enquanto isso, manter o isolamento social é estratégia basilar para vencer o covid-19
O Estado deve proibir demissões e assumir os salários dos trabalhadores para que estes possam permanecer em isolamento social; O Teto de Gastos deve ser revogado, bem como a reforma da previdência. Além de outras medidas que apontam a necessidade de uma maior solidariedade entre os de baixo. 
Sindicatos, movimentos populares e todas as lutadoras e lutadores precisam se esforçar em prol da unidade de todos os explorados. Para vencer o vírus e as políticas de morte neoliberais. 

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Propósitos de escritor

O estimado leitor que veio até aqui, curioso, pelo título, devo desapontá-lo. Nem eu sei porque coloquei as palavrinhas acima para nomear este ensaio que é.fruto.da modorra de uma quarta-feira de abril, na quarentena que o Coronavírus nos impõe. 
Chega a ser cômico, que a salvação do mundo como conhecemos esteja justamente em não fazer nada. Em ficar, passivamente, vendo o tempo passar em casa. 
Já que é assim, escrevo. Escrevo a esmo em folhas soltas de papel. Escrevo aplicadamente minhas tarefas na agenda. Escrevo no celular,.no tablet, no note. Escrevo gentilmente na espera de que tantas letras façam sentido a mim e a quem lê.  
Acho que escrevi, aqui mesmo, em algum texto anterior, que adoro escrever. Desde criança amava ver as letras saindo, assim tortinhas (péssima caligrafia, não importaram as zilhões de cópias que minha mãe me obrigou a fazer) da ponta do lápis, depois da ponta da caneta, sobre o papel. 
Lembro que ainda antes da adolescência pus na cabeça que deveria escrever um livro. E o escrevi. Sim! Dezenas de contos, que, infelizmente, nunca foram publicados e dos quais nenhuma linha sobrou para testemunhar o esforço. 
Foi um trabalho caprichado, todo feito a mão e ilustrado pelo autor. Falava de coisas do cotidiano, das descobertas que fazia, dos desenhos que assistia. Falava da escolinha.que frequentava, dos colegas... 
Quando dei a obra por concluída, senti-me, orgulhoso! Não sei se algum de vocês que me lêem tiveram alguma experiência parecida. Mas para mim, me propôr a escrever aquele e finalmente terminá-lo foi a apoteose. Deveria ter umas cinquenta páginas. Folhas de A4 em sua maioria, mas lembro que tinha folhas de caderno e algumas folhas de papel pardo e até de papel almaço. Não me lembro do título. Sei que minha tia usou um perfurador e com uma fita atou as páginas, "encadernando" minha obra. 
Não sei se alguém leu o livro. Via os adultos folheando e me elogiando, mas nunca vi alguém lendo, de verdade algum texto. Na época isso não me desanimou. Escrevia mais para mim mesmo do que para outros... E acho que pouca coisa mudou.
Por isso, quando no dia 10/04 passado, vi que havia sido indicado para concorrer a um prêmio por um conto que escrevi, me lembrei dessa história, ocorrida a tanto tempo. Nem lembrava mais. Naquele tempo sonhava ser escritor, sem nem saber que era isso que eu queria. 
Hoje, com artigos publicados e contos aparecendo por aí, em algumas coletâneas, posso dizer que aquele sonho imberbe se realizou, quase que sem querer, podemos dizer assim. 
Até aqui, muita gente me ajudou. A todos o meu muito obrigado. A você, leitor, que me acompanha, um abraço. 
A minha musa eterna, que vem desde o natal de 2009, compartilhando comigo sonhos e lágrimas, minha dedicatória apaixonada. 
Continuem acompanhando. Mais coisas virão por aí. 
P.S. A indicação de que falei no texto, foi ao Prêmio Strix da Editora Andross. No mês de outubro vamos ver se o conto "O Pássaro" publicado na Antologia Frequência Insólita vai alçar um voo mais alto!

terça-feira, 24 de março de 2020

As voltas que o mundo dá

A terra é plana! Gritava o senhor careca, barbado e usando suspensórios. Olhei ao redor, tentando confirmar que estava no meio de algum stand-up comedy sem graça. Para meu pânico não estava. Por muito tem acreditei que não havia discussão séria sobre o formato da terra. Afinal, fizemos circunavegações do globo, colocamos homens na lua, rodeamos a terra com espaçonaves, satélites, enfim, nunca antes uma geração de seres humanos poderia ter a certeza tão absoluta da esfericidade da terra. 
De repente começaram a chegar em minha caixa de e-mails uns anúncios de vídeo bem estranhos, de gente que se propunha a questionar isso ou aquilo, desmascarar a tal conspiração e dizendo que a terra era plana. Achava brincadeira sem graça. Depois fui me preocupando e hoje, reconheço, estou apavorado com a quantidade de pessoas que nega todas as evidências e diz, sem sombra de dúvidas que a terra é plana. 
Voltando ao senhor, do qual falei lá no começo: o conheci em nossa maior metrópole, em uma das livrarias mais conhecidas da capital paulista. Falava rápido e sobre tudo. Uma metralhadora giratória, municiada com as mais pesadas teorias da conspiração. Terra plana era fichinha, em meio ao arsenal. 
E por que, perguntei a ele, governos, cientistas, enfim, tanta gente, queria esconder para a população que a terra, na verdade é plana? Me respondeu uma palavra: Ateísmo. 
Senhoras e senhores, a única coisa que fazia aquele homem defender a mirabolante história da terra plana era a religião. Medieval. Mentalidade medieval... Nosso modernidade, nossa sociedade agitada em constante transformação, vê nascer em seu seio homens e mulheres que cada vez mais pensam como se ainda vivessem em plena Idade Média. 
 

segunda-feira, 23 de março de 2020

A economia ou a vida?

É um absurdo que neste momento de grave provocada pela Pandemia do Covid-19 a burguesia brasileira esteja se movimentando para um ataque maciço aos trabalhadores brasileiros. 
O governo arreganha os dentes e usa a luta contra o Coronavírus, para, por Medida Provisória, suspender contratos de trabalho e fazer as relações de trabalho tornarem-se em verdadeira semi-escravidão. 
Cortes nós salários para preservar o emprego. Proteger a economia. A única forma de preservar os mais pobres é beneficiando os empresários. Essa é a cantilena que estamos ouvindo há anos. Com a diferença que ninguém mais, no mundo, repete esse mantra. Só a elite assassina brasileira. 
A que deseja suspender as medidas de isolamento para tentar salvar a saúde das economia, a qual, todos sabemos, já ia bem mal, antes da Pandemia. 
Aí no momento do isolamento, da quarentena, o trabalhador se vê tolhido de sua renda. Quando mais precisa de tranquilidade vê sua sobrevivência colocada em risco. ABSURDO! 
Precisamos nos defender do vírus, do governo e do grande capital que desejam nós matar. Esquecem do básico: sem pessoas, não há economia alguma. 
Precisamos defender os ganhos do trabalho e não do capital.
Por isso são necessárias medidascomo as que já estão sendo implementadas pelo mundo, tais como: suspensão dos aluguéis, das taxas de agua e luz, corte dos impostos sobre o consumo, programas de renda básica para os mais pobres e pagamento de parte dos salários dos trabalhadores pelo Estado, a taxação de grandes fortunas, entre outras medidas.
Sei que os liberais de meia pataca brasileiros piram ao ouvir essas medidas. Mas elas são necessárias. Diante do desmonte realizado no mundo nos últimos anos, é preciso urgentemente retornar a um modelo mais humano, que aborde os problemas sobre um prisma responsável e de índole coletiva. Não há salvação individual neste momento. A solução deve vir de todos nós, enquanto sociedade. 
O momento é de vislumbrar que as vidas, as pessoas são mais importantes do que o enriquecimento de alguns. A pressão por mudanças deve ser prioridade. É a única forma de impedir o desastre. Construir um pacto social em que a economia estava a serviço das pessoas e não o inverso. Não podemos ir para as ruas agora. Façamos barulho das janelas e nas redes sociais! #QuarentenadeLuta