Não é do passado, mas unicamente do futuro que a Revolução social ... pode colher a sua poesia.
domingo, 17 de dezembro de 2023
O que é mais importante
quinta-feira, 7 de dezembro de 2023
Natal brasileiro
sábado, 25 de novembro de 2023
Devaneios
sábado, 28 de outubro de 2023
Servidor Público
terça-feira, 24 de outubro de 2023
Afiar o machado
Quando os portugueses chegaram nas costas do Brasil trataram logo de explorar a riqueza que eles encontraram: o pau-brasil. Dessa árvore era retirado um corante vermelho que era muito valorizado na Europa pra tingir roupas.
Até aí, ok. Mas, cortar as toras no meio da mata e transportar até os navios não era um trabalho nada fácil. E era ainda mais difícil para tripulações que chegavam da travessia do Atlântico, fracos e anêmicos devido a pouca e má alimentação fornecida nos navios. A solução para isso foi utilizar a mão de obra indígena. Forçada ou por meio do escambo. O fato era que, no início, os indígenas utilizavam suas próprias ferramentas para o trabalho. à medida em que aumentava a demanda europeia pelo pau de tinta brasileira, passaram a fornecer ferramentas de ferro para que o trabalho pudesse ser agilizado. O machado de ferro fez um enorme sucesso, por facilitar o trabalho de corte.
O tempo foi passando e logo surgiram indígenas que se destacavam no manuseio do instrumento. Em um certo ponto do litoral da Bahia, um velho indígena ostentava o título de melhor cortador de pau de tinta da aldeia. Ao virem recolher as toras ele era celebrado pelos europeus e recebia muitos presentes. Um jovem, ao ver aquilo, cheio de inveja (sentimento que se espalhava pela terra como os brancos em seus navios), começou a dizer que, o velho tinha feito muito, mas no passado, mas que ele, agora era o maior cortador de pau-brasil, não só na aldeia, mas em toda a capitania.Que cada um de nós possa dedicar tempo a afiar seu machado!
domingo, 22 de outubro de 2023
Organizar os oprimidos: um soneto
quinta-feira, 12 de outubro de 2023
Assiti e gostei: A última viagem do Demeter
quarta-feira, 11 de outubro de 2023
vem novidade aí: novo livro pela Editora Pendragon
O sobrenatural ainda é passível de ser domado pelas mentes humanas.
sexta-feira, 29 de setembro de 2023
Algumas considerações sobre raça
Sou um homem negro de pele clara. Já fui olhado com suspeitas em determinados ambientes, já fui preterido em empregos, já fui confundido com entregadores, faxineiros, zeladores e outras coisas mais. Porque para uma sociedade erigida sobre tantas desigualdades e à custa do sangue e do trabalho de escravizados, tratar como cidadãos de segunda classe, os descendentes desses escravizados. Por tudo isso precisamos combater o racismo e o sistema que utiliza deste como forma de divisão e controle dos que trabalham.
Mas esse texto é para relatar alguns coisinhas que aconteceram esse mês e que são bem mais corriqueiras do que se pode pensar para a maioria dos brasileiros negros, retintos ou pardos. Neste mês de setembro realizei um viagem de ônibus. Saí daqui do Rio Grande do Sul e fui ao Rio de Janeiro. Uma excursão com quarenta e poucas pessoas. Dessas, eu e minha companheira éramos dois cearenses em meio aos gaúchos.
Em determinado ponto da viagem, paramos para o banho. me dirijo aos chuveiros e sou abordado por um funcionário do paradouro.
"Oi, amigo, vais para onde?"
"Ao chuveiro".
"E o lá de fora, não está funcionando?"
"Não sei te dizer. É a primeira vez que estou nessa viagem e me indicaram que o banho era aqui".
"Não e não. É lá fora. Vocês tomam banho, ali, por trás do posto. compra a fichinha ali no restaurante".
Ouvindo a explicação, fui ao restaurante, comprei a ficha e fui ao local do banho. Um ponto de caminhoneiros. Estranhei que mais ninguém da excursão tivesse ido para lá também. Ao retornar ao ônibus a surpresa: apenas eu, fui impedido de tomar banho ali e encaminhado ao ponto dos caminhoneiros. O guia, solícito, foi buscar esclarecimentos. Recebi um pedido de desculpas. O funcionário julgou que eu fosse caminhoneiro. Eu. Apenas eu. Em toda a excursão. Fui confundido com um caminhoneiro. A cor da pele e meu sotaque nordestino foram provas suficientes para o funcionário considerar que eu não deveria tomar banho, ali, no paradouro com os demais clientes.
Segui viagem refletindo sobre isso. Como nosso país é essa máquina de desigualdade, a ponto de um trabalhador não poder tomar um simples banho em um paradouro. E que as pessoas que não se encaixem em um determinado perfil, também sejam excluídas. E a justificativa seja essa: pensei que você fosse caminhoneiro, entregador, faxineiro, etc. Todo trabalho é digno.
Chegamos ao Rio e como sempre, a estadia na cidade maravilhosa vale a pena. No hotel em que ficamos fiz amizade com um funcionário, que se divertia, jogando conversa fora com os hóspedes. No ultimo dia de nossa hospedagem, ele me chamou num canto e disparou:
"Vem cá, de onde vocês são? Porque vocês estão no meios dos gaúchos, mas não falam como eles. E... e, você é negão, não tem cara de gaúcho".
Eu ri. E expliquei que era cearense e que estava morando no Sul.
"Logo vi. Essa fala de vocês, e tu, negão assim, não podia ser gaúcho".
Mais uma vez fiquei pensando nos estereótipos. Desde que cheguei aqui, no Rio Grande do Sul, vi uma herança negra riquíssima e uma população negra, que resiste aos apagamentos e que faz questão de dizer a branquitude: estamos aqui.
Relatos de uma viagem de oito dias. Quantos relatos mais se pode colher Brasil a fora? Eu, de minha parte, sigo lutando por meu espaço e para que essa nódoa tão persistente, chamada racismo, possa ser apagada de nossa sociedade. E que nós, trabalhadoras e trabalhadores, possamos ser os operadores dessa mudança. Desconstruir o racismo é uma luta de raça e classe.
quarta-feira, 2 de agosto de 2023
Inveja
quarta-feira, 7 de junho de 2023
Uma parábola turca
Lá pelo século XIX, havia nas colinas da Anatólia, na Turquia, um povoado de criadores de ovelhas. A única riqueza que possuíam era o rebanho de ovelhas, o qual era tosquiado uma vez ao ano. A lã daí resultante era repartida entre as famílias para a confecção de roupas e o excedente levado para vender. A renda obtida era usada para comprar tudo o que o povoado necessitava e não conseguia produzir e era repartida coletivamente.
Um dia o velho edil, uma
espécie de líder do povoado resolveu que queria andar pelo mundo e colocou em
seu lugar dois irmãos, Nuredin e Ibrahim. Era ambos inexperientes, mas pareciam
a todos pessoas excelentes e ficaram todos felizes com a escolha.
Nuredin tomou a seu
encargo o cuidado com a pequena renda da lã, que deveria ser administrada para
durar durante um ano, de uma tosquia a outra. Quando entrou na tesouraria
descobriu que as melhorias realizadas pelo antecessor haviam consumido toda a
renda. Não havia o que fazer. Tudo fora utilizado para beneficiar a comunidade.
Mas agora era preciso fazer pequenos sacrifícios para garantir a sobrevivência
do povoado. Organizou um racionamento, imaginando a necessidade de prolongar os
recursos armazenados.
Isso era realmente muito
impopular. Ibrahim se juntou aos que diziam que nunca precisaram fazer isso e
agora Nuredin inventava de querer mudar as coisas. Argumentavam que era
impossível sobreviver sem manter o mesmo nível de consumo. Mas, Nuredin foi
firme. Ele sabia o que estava fazendo. Tentou explicar, mas não foi ouvido.
“Ora”, dizia Ibrahim,
“mantemos tudo como está e se vier a faltar antes da tosquia, vendemos algumas
ovelhas”.
Nesse ínterim, o velho
Edil voltou. Queria ocupar seu cargo novamente. Mas como? Vendo o
descontentamento, resolveu apoiar os contrários a Nuredin. Ele, dizia a todos,
saberia como fazer e que o que Nuredin estava fazendo era importante, mas
desnecessário, coisa da inexperiência do jovem.
E esse argumento
convenceu a todos. Sem suportar mais tantas adversidades e perseguições do seu
próprio povo, Nuredin renunciou e partiu. Foi-se embora sem olhar para trás. A
primeira coisa que fizeram foi uma grande comemoração. Mataram algumas ovelhas
e fizeram um festival para celebrar a união da juventude e da experiência.
Algum tempo depois, os
produtos armazenados acabaram. Para comprar mais tiverem que vender mais
algumas ovelhas. E assim fizeram alegremente. A venda das ovelhas rendeu até
mais do que a lã.
No entanto, quando da tosquia, o número de ovelhas era tão diminuto, que mal deu para dividir segundo a necessidade de roupas de cada um. Quanto mais para ter um excedente e vender. Para conseguir comprar os produtos que não produziam na comunidade venderam mais ovelhas. No ano seguinte, não houve tosquia. Não havia mais ovelhas. Não havia sequer um povoado. Essa amigos é uma história que se passou a mais de duzentos anos. Quem passeia por aquelas colinas ainda pode contemplar as ruínas de um povoado outrora próspero.
Por vezes, quem te dá um NÃO faz isso porque deseja o melhor para você!
terça-feira, 14 de fevereiro de 2023
Uma fábula
Não lembro onde ou de quem ouvi essa história. Mas vou compartilhá-la aqui, porque ela vem a calhar com o momento. A Savana é habitada por diversas espécies de animais. Alguns enormes, outros minúsculo. Dentre esses havia um leão. Uma fera para não se colocar
defeitos.Certo dia, cansado, deitou-se sob uma sombra para dormir. No entanto não conseguia. Uma mosca zumbia e zumbia sobrevoando sobre sua cabeça. Furioso saltou sobre ela, que pequenina escapou, mas continuou fazendo piruetas no ar diante do animal que tentava pegá-la, mordê-la, acabar com ela. Divertida, por estar incomodando incólume um leão feroz, continuou por horas até que, cansada, deixou o leão e se foi para outro lugar.
Cheia de si, a mosca foi procurar outras moscas para contar sua peripécia. Ia tão feliz, alegre, que não atentou para a teia de aranha em seu caminho. A mosca destemida que fustigou um leão a tarde inteira, tornou-se o jantar de uma aranha despretensiosa que adorou ter uma vítima cansada, sem forças para se debater tentando fugir de sua teia. Reflitamos sobre quais são os verdadeiros desafios que devemos enfrentar. Não adianta atacar quem não é seu inimigo, e acabar sendo tragado por aquilo que realmente te ameaça
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023
Passeio matinal
Hoje, meu pet me acordou às cinco e meia. Depois de alguma insistência me levou para passear. Seis da manhã. Ninguém na rua. Um ou outro automóvel passando veloz. E eu seguindo um cãozinho pela manhã a fora.
Esse ritual repete-se todos os dias. Com sol, com chuva. No calor ou no frio. O carinha acorda e nada o faz ficar em casa. Então andamos por aí. Vemos o bairro acordar. As pessoas saindo tímidas de casa, olhando para um lado e outro da rua, para, resignadas, partirem para seus destinos. Alguns saem correndo. Atrasadas talvez. A todos o Ben, meu personal dog trainer, observa atentamente, como a tentar descobrir pra onde vão.
Passamos pelas padarias, sentindo o cheirinho da próxima fornada de pães, vendo clientes e atendentes se cumprimentando, na mesma rotina, dia após dia. Penso no eterno retorno de Nieztche. Esse sou eu, quando não ponho poesia em tudo, vou colocando pitadas de filosofia. Um puxão do meu amigão me traz à realidade. Atravessamos a avenida para que ele possa “marcar o território”.
E assim seguimos, de uma amenidade a outra. Pra nós, seres humanos, qual a importância disso? Quase nada. Evitar sujeira pela casa, consequência número um de não ter o passeio matinal. Mas, para o Ben, esse passeio matinal é essencial. Não fazer é quebrar os fluxos diários e isso retira sua segurança.
Então seguimos. Ele à frente, eu atrás da guia. Às vezes uma ou outra confusão, vem dar cores de comédia a esse espetáculo trivial. Como da vez que tive que pôr o Ben no colo para fugir de um cachorro enorme que o meu pequeno maltipoo resolveu provocar.
Concluímos nosso passeio e voltamos para casa. Ele pula no sofá e quase que instantaneamente volta a dormir. Quanto a mim, chegou a minha vez de executar minha rotina, os rituais diários que a sociedade moderna exige de nós, para nós considerar saudáveis, produtivos e participantes. Mesmo que nenhuma dessas três coisas seja algo além de uma grande farsa…
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023
Das coisas que cá eu vi e que nunca ia imaginar
Cearense de muito vagar, pude andar pelos mais diversos lugares. Do meu Ceará mesmo, andei por muito canto. Estive nas cidades mais secas dos sertões semiáridos. No Brasil enfrentei o calor do Centro-Oeste, mas confesso que nada me preparou para o calorão úmido de Pelotas. Brincando, no verão, tomava 40° e tantos graus com sensação de 50°... Gente, por favor! Falamos que Sobra ou Juazeiro do Norte é quente, mas sensação de 50°, nunca experimentei no Ceará.
E ficamos ainda mais chocados, porque lá no Nordeste a gente imagina essa terra aqui, como sendo de clima ameno, com temperaturas baixas no inverno. Mas a amplitude térmica é de deixar qualquer um maluco. E isso aí não é tudo. para além da sensação de calor ainda tinha aquela sensação de Game of Thrones: sempre que conversávamos com alguém sobre o calorão, já vinham dizendo; quando o inverno chegar, aí você vai ver... Semore isso! The winter is coming!
E mais uma coisa: a gente o Nordeste imagina que aqui é tudo muito ligado aos imigrantes, alemães, italianos, e tal, tal, tal. Mas você chega e entra em contato com uma cultura muito forte e totalmente invisibilizada para fora do estado que é a cultura negra do Rio Grande do Sul! São manifestações culturais poderosas e que tomam conta das cidades. Os cultos afro, aqui ganham as ruas, as oferendas, diferente do que vemos no Ceará, tomam conta dos espaços urbanos com suas cores e seu clima de fé. Para quem conviveu com parte da família sendo adepta de cultos afro-brasileiros, mas escondidos, devido ao preconceito no Ceará, aqui foi uma grata surpresa ver como essas religiões tem seus espaço e como seus adeptos se orgulham delas.
Essas são duas coisas marcantes que a gente nota e que surpreende quando chega aqui. Tantas diferenças, tantas semelhanças. E ainda estou aprendendo, Sempre.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2023
Um ano de Rio Grande do Sul: viemos para cá na cara e na coragem e num celtinha 2012
Ano passado, dia 03 de janeiro, peguei o Ben, meu filho pet, chamei a esposa e um cunhado mala, nos enfiamos dentro do celtinha 2012 da minha mulher e fizemos mais de 4 mil quilômetros, saindo da Terra da Luz, o meu Ceará e indo para Pelotas, princesa do Sul. A aventura automobilística foi parte da aventura maior que foi vir fazer o meu doutorado.
Foi uma longa viagem de 7 dias que resolvi, agora, um ano depois vir compartilhar aqui. Fiz poucas imagens e ainda menos vídeos, então terão de se contentar com a minha descrição. Espero fazer jus a miríade de sentimentos que me percorreram durante toda viagem.
Tentarei deixar claro o que passamos, as situações delicadas e as engraçadas e dar um pouco das impressões que tivemos durante a viagem. Começamos a nos preparar par ela ainda em julho, quando, já aprovado no Doutorado, resolvi que iria ao Rio Grande do Sul, quando as aulas presenciais retornassem.
Tendo isso claro, tinha duas opções: ir de carro ou de avião. Colocar na planilha os custos, listar prós e contras de cada opção (lá ia de novo falar em custo de oportunidades, vejam só). Para no fim dar o veredito final: vamos de carro para levar o Ben. Esse carinha aqui em baixo:
Revisão no carro, balanceamento, um pente fino no automóvel, para evitar dificuldades maiores, e tudo isso numa ansiedade enorme, que vocês só podem imaginar. Por fim, ás 05 da manhã do dia 03 de janeiro de 2022, pegamos a estrada.
E logo estarei aqui para contar para vocês como foi cada trechinho da viagem!