segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Textos publicados no Jornal O Povo no Espaço do Leitor

Entre 2017 e 2018, escrevi algumas crônicas que foram Publicadas do Jornal do Leitor do O Povo, jornal aqui de Fortaleza. Hoje estava revendo esses textos e resolvi compartilhar aqui, para todas e todos! Espero que gostem!


CHUVA

O vento frio me envolveu e me arrepiou os cabelos. O céu escureceu. Em poucos tempos, para continuar a trabalhar, tive que acender as luzes da sala. O cheiro de terra molhada inundou a casa e me fez recordar da minha infância.

Um alpendre, um lençol velho e puído, eu enrolado nele, no fundo de uma rede, escutando o plicplic incessante das gotas d’água da chuva no telhado. Adormecia embalado por esse som e esse cheiro e sonhava, sonhos de uma infância tranqüila e alegre.

O cheiro de chuva era o cheiro de felicidade. Felicidade de dormir embalado pela frescor das noites chuvosas ou a felicidade ainda maior de banhar-se nas biqueiras das casas, nas poças das ruas, inventando mil e uma brincadeiras com a meninada do bairro.

Hoje a chuva cheira a nostalgia. Porque a felicidade, agora que sou adulto, é pagar as contas, e no final, ter uns trocadinhos sobrando, pra dispersar na folia.

QUEM SOMOS?

      Um homem não se banha no mesmo rio duas vezes, diz o filósofo, afinal, nem o rio é o mesmo, nem o homem é o mesmo. Somos seres em constante formação. Transformação. Coisas de que gostamos hoje, abandonamos sem remorso amanhã. Outras que não suportávamos acabam encontrando espaço em nossas vidas e por aí vai. Por que? Porque temos a capacidade de aprender. De nos adaptar. De transcender nossos próprios limites e seguir em frente.

     Somos seres humanos. Somos imperfeitos. Muitos de nós crescemos ouvindo que Deus criou o homem a sua imagem e semelhança, mas na verdade o homem criou deus a imagem e semelhança do que ele sempre sonhou ser! Fomos capazes de criar, imaginar e sonhar outros mundos, promessas e poderes a nós impossíveis, mas desde que colocadas nas mãos de uma divindade, poderiam estimular uma busca que nos faria avançar, mover-nos do lugar e nos transformar em seres melhores do que éramos no início da jornada. Se não gostas de quem és hoje, mude. Se gostas, não te acomodes, pois neste mundo, mesmo as rochas mudam sob a ação das intempéries. 


ESCOLHAS E SEUS CUSTOS

Às vezes a ciência é tão bela quanto a poesia, ou até a supera... O modelo de universos paralelos é baseado em princípios da incerteza quântica, sugerindo que todos os desdobramentos possíveis de um evento acontecem, mas nós vivemos apenas uma dessas sequências. Ei, isso não é filosofia, é física! Mas te põe para pensar um bocado, hein?

Neste universo, em que nossas vidas são moldadas pelas escolhas que fizemos, o que nos resta é nos adaptarmos as consequências e se for o caso minorar, diminuir os efeitos negativos advindos de escolhas que se mostraram equivocadas.

Por isso, quando estava na graduação fiquei encantado com um conceito que estudei e que acredito ter, tal como o multiverso e suas ramificações para a física, um quê de filosófico na administração. Se você já estudou administração já deve ter se deparado com ele. Estás diante de uma escolha, deves seguir apenas uma das possibilidades disponíveis, o que você faz? Tenta estimar o Custo de Oportunidade! O que perdemos ao abandonarmos a opção A e escolhermos a B. O que deixamos de ganhar ao escolher a A em detrimento da B. Depois de ter realizado essa estimativa, pergunte-se: Vale a pena?

Escolher envolve perda. É inerente ao processo. Você não pode adiar a decisão indefinidamente, a vida é como um rio, se represado ele acabará por encontrar meios de voltar ao curso. Você não pode saltar de um universo a outro para gozar a vida que você poderia ter vivido se tivesse tomado outra decisão. Mas se fizer escolhas conscientes do que você pode perderá e ganhará com cada opção, acredito que no fim das contas estarás satisfeito com os rumos que deu para sua vida. 


UM DIÁLOGO

“Ela é linda!”

“Mas não é pro teu bico!”

“Por que não?”

“Por isso, por ser linda! Uma mulher assim nunca, nunca iria se encantar por você.”

“Ah, me deixa sonhar...”

“De jeito nenhum, todas as vezes que eu me omito você enfia os pés pelas mãos e nós dois pagamos o pato!”

“Você já pensou em, um dia, só um diazinho, em me ajudar um pouco? O resultado poderia ser diferente.”

“Não vale o risco. Se comigo me opondo, você já faz o que faz... Anda esquece, vamos seguir adiante.”

Se todo diálogo entre o coração e o cérebro fosse assim, quanta dor não teria sido evitada? Mas ao mesmo tempo, quantas obras maravilhosas nunca teriam sido realizadas, quantos livros não deixariam de ser escritos e quão insípida seria a nossa vida. Porque até quebrar a cara por amor é algo doce... Arrisque-se!


QUEM DERA SER POETA

Quem me dera ser poeta para falar das belezas que enchem nossas vidas tal como se fossem divinas. Mas Deus não me fez artista, eu é que, de gaiato, me fiz cronista, e jogo no papel estas mal escritas linhas.

Sem metro, sem verso, sem atentar às regras, colocando aqui e ali umas rimas, afinal quem que liga? Desde que eu possa escrever, que alguém possa ler e, quem sabe, gostar...

Então deixe-me falar de beleza. Da beleza de um dia de chuva, que molha o sertão de alegria, deixando a vida mais verde, enchendo o céu da mais perfeita melodia. Isso sem falar da água, que escorre pela terra e pela face do sertanejo que aguardara ansioso essa dádiva tão querida;

Me deixe falar do luar, que banha de luz prateada a toda a nossa vida e, por fim, me deixe falar da beleza de tantas e tantas coisas mínimas, por exemplo, um sorriso, um olhar ou até mesmo um suspiro, que nos enlevam o coração e nos dão força para seguir na lida.