Maurício e Amanda. recém-casados. Cerimônia linda, festa top, lua de mel em uma praia paradisíaca. Agora estavam de volta. Enfrentar a nova rotina. Estavam felizes. Haviam alugado uma casinha confortável, em um local acessível, com tudo perto: lojas, supermercados, bancos, restaurantes, enfim, estavam cercados das comodidades possíveis da vida urbana. Chegaram na madrugada do sábado e dormiram em meio às caixas e aos móveis empilhados, à espera do primeiro fim de Semana para arrumarem a casa. Quase pegando no sono ouviram um barulhinho esquisito, como se algo estivesse raspando as
Paredes ou as caixas, mas o cansaço os fez ignorar.
Acordaram tarde. O sol estava glorioso, abriram as portas e as janelas para arejar a casa e começaram a labuta. Arrasta um móvel para cá, outro para lá, fura a parede, monta uma estante, já tinha passado do meio dia quando concluíram e foram tratar das caixas com utensílios e diversas miudezas.
Maurício pegou as caixas de livros e foi para o quarto , onde tinham improvisado seu escritório. A mulher foi para a cozinha, desembrulhar a louça. Estava na segunda caixa quando ouviu Amanda gritar. Correu até onde estava com um grampeador nas
Mãos, único objeto que visualizou para usar como possível defesa.
Ele a encontrou trêmula, em cima da pia de
Inox.
- um rato!
- um rato?
- sim, uma coisa horrenda, cinza, pulou da caixa direto pra cima de mim! – ela apontava para o cato da cozinha, onde em meio aos cacos de
Xícaras e Pires quebrados estava uma caixa tombada. Maurício armou-se
De uma vassoura e foi devagar se aproximando do local. Tocou de leve com o cabo da vassoura. Nada. Empurrou a caixa e rápido como um raio, um ratinho, uma catita, como dizemos aqui no Ceará saiu correndo, esbarrando nas paredes e nos
Móveis e foi para debaixo do fogão. O grito que Amanda deu ao ver o pequeno ser acabou assustando o marido, que só depois que se recompôs tentou atingir o rato com a vassoura, mas nada conseguiu.
Ajudou a esposa a descer da pia e levou até o quarto, onde a mulher se trancou e enfiou toalhas e tapetes nas frestas das portas para se proteger do enorme “perigo”. O homem retornou a cozinha e retirou o fogão do local, apenas para constatar frustrados que o animalzinho não estava lá. Foi removendo todos os móveis de lugar, em um
Exame minucioso, que durou um par de horas.
- Querida, revirei a cozinha inteira. Ele deve ter ido embora. Não estava em lugar nenhum.
- Não saio daqui enquanto esse bicho não estiver morto.
- Amor, as portas estavam abertas, ele deve ter ido embora. Receosa ela saiu do quarto. Deu uma corridinha até a porta que, da cozinha, dava acesso ao quintal, fechou-a, passou a chave e enfiou panos de chão nas frestas.
O tempo passou. Um dia, Maurício chegou do trabalho e encontrou a mulher ainda com a farda da empresa, sentada na varanda. Antes que pudesse dizer alguma coisa ela ordenou que ele desse um fim no maldito rato.
- Ele nunca foi embora! Eu sempre escutava suas patinhas asquerosas raspando nas coisas, encontrava o cocô dele debaixo dos móveis e embalagens vazias roídas, e até o lixo revirado. Mas nunca o via. Hoje, abro a porta e ele estava lá! Bem
Na mesinha de centro, os olhinhos brilhando, cinzento com um tudo de pêlos brancos no alto da cabeça, pensando em que maldade iria fazer!
Maurício passou a noite revirando a casa. Nada encontrou. Convenceu a mulher a entrar em casa, após ter ido no supermercado, comprado ratoeiras e armadilhas. Espalho-as pela casa inteira.
Na manhã seguinte: nada! Os dia iam passando e nenhum sinal do roedor. Todos os dias ele só deitava depois de armar as 7 ratoeiras, espalhar as folhas de papel colante e mais outras armadilhas pela casa. Aranhas, baratas e grilos era constantemente capturados, mas nada do rato. Ele se
Convencera mais uma vez que o inquilino incômodo tinha ido embora. Uma noite, porém, acordou de madrugada, com uma dormir barriga daquelas. Como era costume seu, para não incomodar a esposa, não usou o banheiro da suíte e foi até o banheiro que ficava no corredor. Quando acendeu a luz, ele o viu. O bichinho estava lá. Dentro da pia, onde a mulher deixará alguns panos de pra ronde molho, banhando-se como se
Estivesse em uma piscina. Ao vê-ló o camundongo deu um salto e passou entre suas pernas, sumindo na escuridão.
No dia seguinte chamou dedetizadores. Passaram um
Pente fino na casa. Tão logo eles se foram, tornaram a notar os pequenos sinais da presença do ratinho. A criatura tinha qualquer coisa de sobrenatural! Nada o apanhava. Aos poucos foram se
Acostumando com ele. O bicho se tornava mais cuidadoso
E não era visto de
Forma alguma. Apenas as fezes e os restos de papel roído indicavam sua presença. Era como um espectro.
Ao fim de dois anos, o casal recebeu as chaves de seu apartamento. Era pequeno, financiado a perder de vista, mas era deles. Fizeram a mudança, colocaram tudo nas caixas, os
Móveis no caminhão e antes de sair, Maurício, para fazer graça, disse:
- adeus amiguinho, sentirei saudades- e fechou a porta.
O casal estava radiante. Iam sair do aluguel. Nem estavam ligando para as coisas que quebravam e para a trabalheira de arrumar o seu novo lar. Já passava da meia noite quando resolveram parar. Maurício resolver abrir um vinho para comemorar. Abriu uma lata de azeitonas, cortou em cubinhos o queijo coalho e sentou no chão com a esposa, sujos e felizes. Estavam já meio altos da bebida, conversando bobagens, quando eles viram.
Em cima da máquina de lavar, os pequenos olhos brilhando, a faixa de pelos brancos no alto da
Cabeça. Maurício estendeu a taça na direção dele.
“Bem vindo” e caiu na risada. O ratinho saltou para o chão e correu para o fogão. Maurício se levantou. “Vou pegar a ratoeira”.
“Não, deixa”, disse-lhe a esposa. “Ele já faz parte da família. Já tentamos dar fim nele de todo jeito. Nunca conseguimos. Se não pode vencê-lo junte-se a ele”.
E os três seguiram juntos, ali, como estavam desde o primeiro lar do casal. Maurício, Amanda e o ratinho.