Lá pelo século XIX, havia nas colinas da Anatólia, na Turquia, um povoado de criadores de ovelhas. A única riqueza que possuíam era o rebanho de ovelhas, o qual era tosquiado uma vez ao ano. A lã daí resultante era repartida entre as famílias para a confecção de roupas e o excedente levado para vender. A renda obtida era usada para comprar tudo o que o povoado necessitava e não conseguia produzir e era repartida coletivamente.
Um dia o velho edil, uma
espécie de líder do povoado resolveu que queria andar pelo mundo e colocou em
seu lugar dois irmãos, Nuredin e Ibrahim. Era ambos inexperientes, mas pareciam
a todos pessoas excelentes e ficaram todos felizes com a escolha.
Nuredin tomou a seu
encargo o cuidado com a pequena renda da lã, que deveria ser administrada para
durar durante um ano, de uma tosquia a outra. Quando entrou na tesouraria
descobriu que as melhorias realizadas pelo antecessor haviam consumido toda a
renda. Não havia o que fazer. Tudo fora utilizado para beneficiar a comunidade.
Mas agora era preciso fazer pequenos sacrifícios para garantir a sobrevivência
do povoado. Organizou um racionamento, imaginando a necessidade de prolongar os
recursos armazenados.
Isso era realmente muito
impopular. Ibrahim se juntou aos que diziam que nunca precisaram fazer isso e
agora Nuredin inventava de querer mudar as coisas. Argumentavam que era
impossível sobreviver sem manter o mesmo nível de consumo. Mas, Nuredin foi
firme. Ele sabia o que estava fazendo. Tentou explicar, mas não foi ouvido.
“Ora”, dizia Ibrahim,
“mantemos tudo como está e se vier a faltar antes da tosquia, vendemos algumas
ovelhas”.
Nesse ínterim, o velho
Edil voltou. Queria ocupar seu cargo novamente. Mas como? Vendo o
descontentamento, resolveu apoiar os contrários a Nuredin. Ele, dizia a todos,
saberia como fazer e que o que Nuredin estava fazendo era importante, mas
desnecessário, coisa da inexperiência do jovem.
E esse argumento
convenceu a todos. Sem suportar mais tantas adversidades e perseguições do seu
próprio povo, Nuredin renunciou e partiu. Foi-se embora sem olhar para trás. A
primeira coisa que fizeram foi uma grande comemoração. Mataram algumas ovelhas
e fizeram um festival para celebrar a união da juventude e da experiência.
Algum tempo depois, os
produtos armazenados acabaram. Para comprar mais tiverem que vender mais
algumas ovelhas. E assim fizeram alegremente. A venda das ovelhas rendeu até
mais do que a lã.
No entanto, quando da tosquia, o número de ovelhas era tão diminuto, que mal deu para dividir segundo a necessidade de roupas de cada um. Quanto mais para ter um excedente e vender. Para conseguir comprar os produtos que não produziam na comunidade venderam mais ovelhas. No ano seguinte, não houve tosquia. Não havia mais ovelhas. Não havia sequer um povoado. Essa amigos é uma história que se passou a mais de duzentos anos. Quem passeia por aquelas colinas ainda pode contemplar as ruínas de um povoado outrora próspero.
Por vezes, quem te dá um NÃO faz isso porque deseja o melhor para você!