quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

"Realidade"?

      É muito fácil para quem teve acesso a uma educação racionalista, questionadora e aberta, conjugada a um ambiente familiar livre de preconceitos, fazer chacota da maioria silenciosa que não teve tantas oportunidades de educação e que vive sob o tacão da família e dos sacerdotes de vários matizes, por acreditarem em mitologias diversas. Falta-lhes um exercício de alteridade e de reconhecer que só porque algo não é concreto, palpável, tal coisa não é real.
     Na verdade muito do que é fruto da imaginação dos seres humanos toma poderosos aspectos de realidade, a ponto de forçar atitudes, hábitos e criar costumes. E, observe, seu caráter coletivo, de construção conjunta de toda uma sociedade dá-lhes uma coesão que dificilmente encontramos em outros aspectos da vida social. 
      Você, leitor, deve estar imaginado, até que aqui, que estou a falar das religiões, das crenças. Sim estou. Mas não apenas delas. Falo aqui também de muitas outras ficções, que hoje, dificilmente alguém poderia questionar a sua concretude. Entram aqui os Estados, o dinheiro e muitas outras construções coletivas, que embora fruto da atuação imaginativa do homem, hoje permanecem de pé, quase que por si sós. 
       Daí, a importância da pergunta: O que é real? O que é fantasia? 
       Vivemos neste mundo entre luz e sombra, entre a dor e a alegria e muitas vezes a única coisa que nos prende a sanidade é acreditar em ficções bem sucedidas. Porque é isso que nós seres humanos somos, desde que aprendemos a andar eretos, desde que pintávamos nosso cotidiano nas paredes das cavernas. Somos contadores de histórias. Somos inventores de nossa realidade, de nossa própria humanidade. Somos inventores de nossas próprias cadeias e somente nós podemos escolher quebrá-las. Somente nós podemos nos apossar das narrativas, hoje nas mãos de poucos e fazer com que a história seja contada de acordo com os desejos da maioria, da massa trabalhadora. 
        

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