terça-feira, 14 de maio de 2019

Reflexões sobre a universidade


Trabalho em uma universidade federal. Tenho contato diário com estudantes, professores, técnicos, terceirizados, enfim, com quem constrói a universidade pública. Tenho ouvido e visto muita coisa. Histórias que se cruzam em um caleidoscópio rico em matizes dos mais diversos. Perspectivas que são transformadas, ampliadas, sonhos que se concretizam, e muito, muito mais.

E tudo isso acompanhado por temores, dificuldades, angústias... angústias como a de jovens como a que eu conversei ontem, que me dizia ter medo de terminar a graduação, não conseguir emprego e ter que voltar de mãos abanando para a comunidade sertaneja da qual saiu para fazer faculdade. Como a do outro que, mesmo com bolsa e auxílios, não sabe como continuar a fazer seu curso, porque tem família que precisa da sua ajuda, agora, enquanto indivíduo produtivo para aumentar a renda familiar.
Angústias como a do servidor que é mal tratado pela chefia, ou a do que está com familiar doente e não tem quem possa cuidar dele, ou o que tem filhos pequenos... Dificuldades que obrigam quem constrói a universidade  a fazer cotas para comprar papel, caneta, clips, grampos e outros materiais de expediente.
E elas somam-se às diversas expectativas de quem está fora da universidade e quer ter seu espaço, seu lugar ao sol dentro da universidade.
E o que é a Universidade brasileira? A educação superior pública do Brasil?
Por muito tempo foi uma instituição das elites. Esteve longe dos trabalhadores, das classes pobres, dos negros, enfim, dos excluídos da sociedade. Esteve longe do sertão, se concentrando nas capitais e no sul e sudeste do país. Há pouco mais de dez anos ela se abriu. Veio para os rincões, expandiu e, nessa expansão, ela foi se tornando mais negra, mais trabalhadora, mais popular. Passou de sonho dificílimo de alguns, para meta de muitos.
E agora, quando finalmente a universidade se abre a um público amplo, diverso e esforçado, querem que ela acabe. Dizem agora que ela não é mais necessária. Que deve ser restrita a uma elite. Que deve ser restrita em seus cursos, em suas atividades, em seus objetos de pesquisa. Querem que ela volte no tempo. Querem que ela perca sua identidade, agora tão colorida, por aquela velha e embolorada, na qual ela só servia para poucos.
Por isso dizemos não. Queremos que ela avance e não que diminua. Queremos uma universidade democrática, uma universidade à serviço da sociedade brasileira, para diminuir desigualdades e garantir educação de qualidade.
Uma universidade onde a docência não seja precarizada, nem o professor robotizado. Uma universidade onde os técnicos sejam valorizados, com seu papel no Ensino, Pesquisa e Extensão reconhecidos. Onde os alunos sejam vistos como agentes ativos de sua educação. Uma instituição que entenda os terceirizados como integrante de sua comunidade. E onde a comunidade universitária possa seguir adiante num modelo ainda mais inclusivo e que possa fazer a diferença em uma sociedade que, nesses sombrios tempos, parece ter desaprendido a ver no outro o irmão.
Nossas universidades precisam mudar mais. Precisam incluir mais. Para que as angústias, temores e dificuldades, que hoje atravessam possam ser lançadas fora e em seu lugar podermos erigir a universidade necessária: democrática, inclusiva, gratuita, pública de qualidade, em uma palavra: LIVRE

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