segunda-feira, 6 de maio de 2019

Uma questão de classe

Que país queremos? Esta é a pergunta que deve ser respondida com sinceridade por todos nós. O Brasil não é só São paulo. Não é só o Nordeste. Não é só o Rio Grande do Sul ou o Rio de Janeiro, não é só a Amazônia, nem os campos do cerrado. O Brasil é tudo isso e muito mais. Mais do que a soma das partes. 
Durante muito tempo, uma especialização absurda levou os investimentos mais qualificados para uma parte do Brasil e deixou outra sem nada. Pior foi o fato de que, mesmo nessas regiões que receberam esses investimentos, apenas a elite se beneficiou das rendas desse surto de desenvolvimento. Uma maioria de brasileiros permaneceu à margem. Continuaram ganhando mal, morando mal, tendo pouco acesso à saúde e educação de qualidade. 
Continuamos a ser uma nação de contrastes e de desigualdades. Desigualdades absurdas. Que provocam ressentimentos e antipatias, entre os diversos segmentos da sociedade brasileira, numa engrenagem, muito bem engendrada, na qual não se enxerga a exploração capitalista como fonte dessas desigualdades e que a superação destas passa pela superação do modo capitalista de produção. 
Uma estrofe da versão em português da Internacional Comunista diz: "nós fomos de fumo embriagados", em nossa realidade fomos embriagados de TV, de igrejas da teologia da prosperidade,. de coaches e de outras coisitas mais. Eles preparam uma fábula, fábula essa que diz que nada mais importa a não ser o seu desejo, a sua vontade. Por meio dela você terá asas para saltar sobre o abismo que separa ricos e pobres, a meritocracia seria a ferramenta mágica, quase uma varinha de condão, para fazer dos seus sonhos uma doce realidade, por meio dessa fábula, aprendemos que mesmo sendo a gata borralheira, ainda teremos nosso final feliz. 
Tudo tão clichê! A realidade não bate com o que te contam na TV. É bem diferente do que te falou o teu pastor. Não importa o quanto você pense positivo, não vai dar pra reprogramar teu DNA para te fazer um vencedor, como aconselhou teu coach... 
Precisamos é pensar como classe. Conscientizarmo-nos que estamos na base da pirâmide e sobre nós rapinam uma classe improdutiva, que nada produz, mas tudo consome, enquanto regra as migalhas que deixa cair de suas mesas para os de baixo. 
A tua micro-empresa, amigo, não te faz parte da classe burguesa. Ela te afunda mais e mais entre os que vendem de forma precarizada a força de trabalho. Por um pouco mais de dinheiro, você deixa de passar fins de semana com a família, trabalha até mais tarde e vê-se obrigado a trabalhar até uma idade avançada. E para quê? Para viver sufocado entre as dívidas e os pedidos cada vez mais exigentes de clientes que não o veem enquanto ser humano, mas como um CNPJ. Impessoal. Descartável. 
Mas não é só a ME. Tem o MEI, tem a faccionista, tem o UBER, o Ifood e sei lá mais quantos aplicativos ou formas de exploração que te impõe e que você pensa que está bem, porque alimenta tua ilusão de não ter patrão e fazer o teu horário. 
Precisamos reaprender que a sociedade tem apenas duas classes: a dos que trabalham, onde estão todos vocês, mesmo os que fazem cartãozinho se chamando de CEO, da empresa que montou no quintal com o tio e o vizinho e a dos que, sem fazer nada, lucram nos colocando para trabalhar. É essa gente que tem interessa em retirar direitos, é essa gente que quer acabar com a educação pública, gratuita e de qualidade. É essa gente que hoje está no governo e que, como velhas raposas que são, usam os conhecidos loroteiros (já falamos deles, lembra? A TV, o pastor, o coach, etc...) para não te deixar quebrar suas correntes. 
Podemos ser livres. Livres de verdade. O primeiro passo é reconhecer qual o meu lado e ocupar meu lugar na trincheira. 

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