segunda-feira, 5 de junho de 2017

Ponto eletrônico pra quem?

               
                 A administração moderna, a ciência que hoje é ensinada nas universidades, e que é um dos cursos de graduação mais procurado por jovens no Brasil, teve inicio nos fins do século XIX e início do século XX, através dos experimentos de Taylor para aumento da produtividade. Eram basicamente estudos de tempo e movimento. Infelizmente a administração teve seu pontapé inicial com a busca de um engenheiro em zumbificar os trabalhadores, retirando-lhes a iniciativa e ditando-lhes não apenas o como fazer o trabalho, mais em quanto tempo. 
                 De lá pra cá, mudanças consideráveis foram aplicadas, mas a tendência de coisificação do trabalhador nunca foi revertida. Afinal, esse é um dos pilares do sistema capitalista. Vez ou outra, esse controle de tempos e movimentos é vem a tona sob novas roupas, com belos nomes em língua estrangeira e até travestidos de inovação tecnológica. 
                 Nessa seara é que se colocam os pontos eletrônicos. Hegemônico nos mais diversos ramos e setores a maquininha tem realizado o controle dos trabalhadores que devem, espartanamente, marcar seus horários de saída e de entrada. A grande indústria, os escritórios, as em,presas de serviços, os bancos, todos possuem seu maquinário e seu software destinado a controlar entrada e saída do rebanho e contar as horas de trabalho, como numa ampulheta, onde o que escorre é a vida de cada trabalhador obrigado a render-se à rapina diária do patrão. 
                Mas minhas considerações miram um setor, que ocupa posições chaves na educação e no desenvolvimento tecnológico brasileiro: os servidores técnicos-administrativos em educação, que atuam nas instituições federais de ensino. De norte a sul do país esses trabalhadores tem se esforçado, mesmo diante da precarização e dos famigerados cortes do governo golpista a dar o suporte necessários às atividades de alunos e professores e, ainda, contribuído com pesquisas e participação nos diversos debates da educação brasileira. 
               O que se tem visto nos dias atuais é que a gestão de muitas destas instituições, ignorando as características e peculiaridades do trabalho destes servidores, têm tentado implantar o ponto eletrônico. Uma atitude canhestra e que quando justificada apenas por necessidade de adequação a lei, acaba por evidenciar que para muitos, a questão da autonomia universitária é algo relativo. A questão não é ser contra o controle de frequências, mas sim que esse controle possa ser realmente efetivo, podendo dar conta de atividades tão ricas de nuances quanto as desempenhadas pelos servidores das instituições federais de ensino
              Que motivos levariam alguém a imaginar um regime de trabalho fabril para uma instituição de ensino? Como justificar que em um local que deve primar pela liberdade, inovação, criatividade e iniciativas próprias, sejamos limitados em nosso ir e vir por uma estrovenga tecnológica de eficácia duvidosa? São mais questões para abrir o debate do que para serem respondidas nestas linhas. 
              O problema do controle de frequência é, em seu âmago, um problema de gestão. É mais fácil delegar a questão de saber se o colaborador está fazendo o seu trabalho a uma máquina, do que acompanhar o dia a dia do trabalho, propondo melhorias e sugerindo formas de contornar as dificuldades. O que se tem de mudar não é a forma do controle, é a forma como os gestores tem se relacionado com os servidores e como juntos, poderão apontar para alternativas que possam ultrapassar as barreiras limitadoras do capital e criar em nossas instituições de ensino um ambiente onde o trabalho seja uma atividade libertadora, capaz de possibilitar ao trabalhador o exercício pleno de suas capacidades, enquanto se enriquece não só como profissional, mas como pessoa!
                Quem sabe poderemos ser o ponto de partida para que essas alternativas possam ser levadas a outros locais de trabalho e assim contribuir para as transformações necessárias para a nossa sociedade? Sigamos sempre debatendo, discutindo, lutando! 
                      "Bem unidos façamos nesta luta final, uma terra sem amos, a Internacional!"

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