terça-feira, 12 de setembro de 2017

Mudamos?

     Testemunhei meio abismado a crise de 2008. Era estudante de administração e vi de uma hora para outra se desmanchar todo um credo que era rezado com fervor na universidade: o de que o mercado era um ente poderoso, autossuficiente e capaz de trazer a prosperidade e o crescimento onde quer que fosse deixado a vontade, sem interferências do Estado ou quaisquer outras. 
     No entanto 2008, jogou esse mercado nas cordas e só não o nocauteou porque o "ineficiente" Estado lhe estendeu as mãos. De lá pra cá, a crise se estende quase como aquela doença crônica, na qual o doente apresenta sinais de melhora, apenas para piorar ainda mais. O mundo desenvolvido jogou os custos da crise nas costas dos países pobres, mas ainda assim não consegue respirar... Pior, a precarização do trabalho e a piora das condições de vida no mundo subdesenvolvido levou a fuga em massa de trabalhadores em busca do El Dorado das nações do norte... 
     Estamos num mundo globalizado, por isso mesmo, muito, muito complicado. Como na metáfora, a borboleta que bate asas na China, causa furacões nos EUA (foi mal usar uma expressão dessas em tempos de Irma, José &Cia). Boa parte das complicações advém do fato de que vivemos em uma sociedade cada vez mais desigual. Nela os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. 
     O Brasil, que parecia ter encontrado o seu caminho, começou a cambalear a alguns anos. Inflação, desemprego, violência, parece até que entramos numa louca máquina do tempo e retornamos aos anos 80! Tendo sido criança nos maravilhosos 80, não pude deixar de ver com nostalgia que a crise atual nos despiu dos penduricalhos que juntamos no caminho e nos mostrou que 20 e tantos anos depois ainda estamos na mesma: um país na periferia do capital que permanece muito dividido entre ricos e pobres, entre aqueles que lutam para pôr comida na mesa todos os dias e aqueles que desperdiçam tanta coisa. 
    E pude ver como fomos enganados. Colocaram sobre nosso asno uma pele de leão e passamos a zurrar alto acreditando estar rugindo. Continuávamos cegos, pobre e nus. Apesar dos smartphones, tablets, notebooks e da internet continuamos desinformados e ignorantes. Apesar de nossas casas estarem cheias de tv's, geladeiras, máquinas de lavar, microondas e mais uma infinidade de aparelhos de todos os tipos e funções, nosso espírito continua vazio. Apesar de mais escolarizados permanecemos machistas, lgbtfóbicos, intolerantes e hipócritas. Olhamo-nos no espelho e continuamos os mesmo. E isso não basta mais. Precisamos ir além. Para garantir a todos igualdade temos que nos despir de nossos preconceitos e buscar alçar voos maiores. 
   E não é o deus mercado que vai nos dar impulso. Também não é esse modelo de estado, atrelado às vontades e desejos da elite que vai nos dar asas. Precisamos tomar em nossas mãos o nosso destino e construir por nós mesmo o modelo de sociedade onde não seremos medidos pelo que temos e sim pelo que somos. Onde as oportunidades poderão ser desfrutadas por todos e onde eu possa me dedicar ao que quiser, seja sonhar, pintar, escrever ou mesmo ao lazer, pois serei útil à sociedade apenas se for feliz! Chega dos infelizes bem sucedidos que acreditam que seu vazio existencial possa ser preenchido com a posse de coisas. Chega de deixar de fazer o que gosta para fazer o que lhe dá dinheiro! Chega de ser quem nos condicionaram a ser! Passemos a ser quem queremos de verdade. 
    Estamos nesse mundo para ser felizes. A vida é um momento fugaz entre um nada e outro. Façamos com que valha a pena!

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