domingo, 14 de maio de 2017

Reinventando as igrejas.

        Uma das passagens mais emblemáticas da Bíblia, para mim é Jó 42:12. Nela, ao ser confrontado pelo próprio Deus, Jó diz uma frase carregada de emoções e também de sentidos: "Antes eu te conhecia só de ouvir falar; e agora meus olhos te veem."
         Devo dizer a todos que essa frase resume a vida da maioria dos religiosos dos dias atuais. Estão cheios de conhecimento do sagrado, do divino, mas não por terem uma experiência pessoal, única com deus, mas porque receberam informações de seus sacerdotes, ouviram uma palestra participaram de um culto. Muitos acreditam ter tido um contato com deus porque durante a celebração encheram-se de emoções, ou por terem seus problemas, a sua vida, revelados por uma profecia e por aí vai. Todos tiveram que ter um intermediário, alguém que fosse o catalisador. E isso acontece até mesmo com os líderes de grandes congregações e igrejas.
        Voltemos a Jó. A história, embora absurda é vista por muitos não como uma metáfora ou como um conto sapiencial, que deve dar lições ao homem. Para muita gente o livro de Jó traz uma narrativa histórica. Não entrarei nesse mérito. Quero chamar a atenção para o fato de que um deus que é apontado como justo, bondoso e etc, por um simples capricho, resolve provar a Jó, tomando-lhe tudo o que possuía: riqueza, bens, família e mesmo a saúde. Um deus que sabe de todas as coisas precisou transformar a vida de alguém que não fizera nada de errado em um inferno, apenas para mostrar a Satanás que Jó era fiel! Faz sentido? Pra mim não! Por isso digo é uma história absurda. Mas sigamos. Informados do infortúnio de Jó, seus amigos vão até ele para consolá-lo. O que se desenvolve então são uma série de discursos, de falas empoladas, sobre deus e seu caráter e ainda a busca por eles de uma resposta de porque tantos males sobrevieram sobre Jó: Para seus amigos só podia ter uma resposta: Pecado! Mesmo um inconsciente pecado, era o que trouxera Jó a essa situação de tanta dor. Jó retruca apresentando-lhes a sua justiça. Ao fim das falas deus aparece a Jó e lhe fala. E esse o contexto da citação de Jó que usei no início desse texto.
        Pouquíssimas pessoas conhecem a deus. Poucos tiveram uma experiência real com ele. E quem conseguiu, pode estar certo, não estava em uma congregação em meio ao incenso e aos cantos. Quem conseguiu uma experiência real com deus, estava ao lado dos oprimidos, estava lutando para dar dignidade e humanidade para aqueles aos quais o capitalismo lhes negou tudo, até mesmo a individualidade.
        Jesus, um camponês da Galileia, teve essa experiência, quando desprezando a hierarquia do templo judaico, realizou curas entre os pobres e humildes, teve essa experiência ao partilhar a mesa com aqueles que a pureza ritual de uma religião excluía: pecadores, prostitutas, ladrões e muitos outros. Este Jesus, bem mais interessante que a fábula cultuada hoje nas igrejas, teve em seu tempo uma postura revolucionária e foi essa postura que fez a gente humilde com quem ele convivia identificar nele o emissário de Deus, o Messias, um ser divino. Fica aqui outra lição: não sou eu que proclamo que tive uma experiência com deus, mas sim aqueles que viram em mim esse deus, esses sim é que reconhecerão isso.
        As igrejas precisam se reinventar. Abandonar seus tronos, seus trajes luxuosos e deixar de serem promotores da desigualdade, lacaios do capital, para estarem a serviço de algo bem maior que suas vaidades: a instauração de justiça social, da igualdade entre os homens e a denúncia incessante dos que procuram ampliar as cadeias em que jazem encarcerados os excluídos, a saber: o machismo, a LGBTfobia, o racismo e muitos outros. As igrejas precisam marchar junto com os trabalhadores para que já agora e não em um mundo vindouro, o paraíso possa ser instalado aqui  na terra, pelas mãos dos que produzem!

Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.
Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
Mateus 25:34-40

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