terça-feira, 12 de junho de 2018

O crescimento da direita e a necessidade combatê-la

Presenciamos um aumento das posições de direita no Brasil. Creio que, na verdade elas estão voltando a mostrar-se depois da ditadura. Trinta anos foi tempo suficiente para esquecer as atrocidades e barbáries cometidas pelos militares (haja vista a quantidade enorme de "gente de bem" vestida de verde amarelo, que ocupa as ruas e praças pedindo uma intervenção militar), quanto mais para esquecer o papel da direita e de suas ideias na preparação do golpe de 1964 e na consolidação do regime.
Antes limitados ao jogo eleitoral, a direita não disputava narrativas e nem fazia o embate ideológico, o que por muito tempo permitiu que posições mais a esquerda dominassem o debate na academia, nos sindicatos, enfim, nos movimentos organizados da sociedade. A direita limitava-se ao uso do poder econômico para angariar votos e continuar como manda-chuva do Estado. Uma parte dela, cedendo a pressões dos trabalhadores fez concessões que resultaram em um nível mínimo de proteção ao trabalhador.
Mas as coisas começaram a mudar na última década. A crise do Capital iniciada nos países centrais em 2007, trouxe duas consequências: o repasse da crise para os países periféricos e o recrudescimento da escola neo-liberal. Economistas europeus e norte-americanos jogaram nas costas do Estado a culpa por uma crise dos mercados, que se teve alguma influência estatal foi a falta de regulamentação. Esses economistas passaram a pregar a respeito de austeridade, como forma de sair da crise, e ao dizerem austeridade queriam dizer que o Estado deveria desobrigar-se das políticas de bem estar-social e cuidar apenas de uma ambiente que fosse saudável para os mercados, como diz Dardot e Laval, em seu livro sobre o neoliberalismo, não é menos Estado, mas um Estado mais voltado para as demandas do Mercado.
Ora, para a elite brasileira, que nunca quis realmente sepultar as senzalas e promover a igualdade no país, essa tal de austeridade era música para seus ouvidos. Que importa destruir o país, entregá-lo nas mãos dos especuladores internacionais? Desde que eu garantisse meu cordão de isolamento sanitário para com o restante do povão, valia tudo!
Não nos esqueçamos que, no Brasil, durante o Império, o liberalismo chegou aqui, e foi muito bem abrigado nas casacas dos barões de café. O Visconde de Cairu, propagador das ideias de Smith, conseguiu em sua obra adaptar o livre mercado à escravidão. Após a república, tivemos décadas de liberalismo, que considerava que o dever dos brasileiros era fornecer produtos agrícolas aos países do Norte, enquanto recebia destes produtos industrializados. Enquanto vicejou a política liberal no país, esta se apoiou no atraso político e econômico. Por que seria diferente em sua nova roupagem?
Assim, grupos de estudo se espalharam como um vírus por todo o país. Ocuparam espaços na mídia, realizaram debates e criaram uma narrativa simplista em que culpavam o Estado e os impostos pela crise. A uma multidão ávida por respostas forneceram a resposta errada. Mas note-se, para cada fala ilustrada e pontuada por citações da Escola austríaca, de Friedman e de outros Chicagos boys, ouvia-se ainda mais discursos de ódio, taxando de vagabundos qualquer membro das classes baixas por receberem auxílios do governo, xingamentos preconceituosos com os cotistas, dizendo ser tratamento desigual, uma reparação histórica que deveria ter sido feita a décadas, multiplicando as perseguições aos LGBT e a todos os oprimidos.
Então, tal como nos tempos de Cairu, conseguem inacreditavelmente separar as pautas do liberalismo e vemos aqui liberais contra o aborto, contra a descriminalização das drogas, liberais que orgulhosamente se intitulam de liberais na economia e conservadores nos costumes. Há algo muito errado com essa gente. Aliado a isto, o fascismo também viceja. Procura desvincular-se do passado, falseando a história com balelas como "nazismo é de esquerda", mas a truculência, o racismo, o machismo e a LGBTfobia estão lá.
É preciso detê-los. Organizar as defesas e retomar o embate. Precisamos ganhar as batalhas das narrativas. Mostrar que o Estado mínimo é ainda mais prejudicial, para os trabalhadores e que com este Estado só quem ganha são os ricos e poderosos, os banqueiros e industriais. É preciso reafirmar que só há uma crítica possível ao estado de coisas  que enfrentamos no mundo e esta, só pode ser feita pela classe trabalhadora. A saída é pela esquerda.
O momento é de acúmulo de forças, uma vez que estamos diante de uma ofensiva da burguesia. Mas não podemos deixar que disputem nossos espaços. Não podemos deixar que conquistem as manifestações, as greves, os sindicatos, os DCE's e CA's. Não podemos deixar que contaminem os movimentos sociais. Um outro mundo é possível e este é o oposto do que eles querem.
A retirada de direitos, a precarização dos trabalho, o aumento do assassinato dos jovens negros da periferia, as agressões às mulheres, na rua, no trabalho, no lar e os atentados contra os LGBT's tem que cessar. E só poderá cessar se nós, trabalhadores fizermos isso. Precisamos organizar a RESISTÊNCIA.

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