quinta-feira, 28 de junho de 2018

Para sindicatos de luta: atuação política é fundamental

Qual o objetivo dos trabalhadores ao se organizarem em sindicatos? O principal é unificar seus companheiros para reivindicação econômica. Salário, diminuição da jornada de trabalho eram as principais demandas que levavam a busca pela organização sindical, em seus promórdios.  Melhores condições de vida e trabalho, a luta contra o assédio e outras mais foram sendo agregadas, viraram bandeiras importantes e seguimos lutando.
Além dessas lutas o sindicato, em um país onde muitos direitos dos trabalhadores não saiam da letra da lei, passou a operar como uma verdadeira associação de trabalhadores, promovendo atividades lúdicas, esportivas e outras com o fim de ofertar aos filiados serviços de qualidade, agregando mais e mais membros da categoria às atividades sindicais. No entanto, para muitos sindicatos, o que devia ser um acessório acabou por se constituir na principal razão de ser da organização.
A burocratização da instituição, resultante de sua legalização, com a consequente ampliação dos rendimentos, acabou por tornar muitos sindicatos brasileiros alvo de grupos que pouco ou nada faziam em relação as mais contundentes lutas que se travavam pelo país. Até a patronal chegou a financiar e apoiar grupos com o objetivo de ter sob seu tacão o órgão de representação e organização disponível aos trabalhadores. 
Essa perda do caráter  sindical de reivindicação, de luta incansável, acabou por acomodar a base e afastar muitas organizações sindicais do caminho das lutas. Faz-se necessário, portanto, trilhar o caminho de volta. É preciso que os sindicatos voltem a ser instituições perigosas, cujas ideias que circulam neles provoquem calafrios nos donos do poder e é preciso que, apesar da realização das funções burocráticas, das atividades recreativas e lúdicas para os sindicalizados, o sindicato encampe as lutas e os debates que tragam de volta o temor dos patrões voltem às organizações classistas dos trabalhadores.
Em nossa sociedade tudo gira em torno de ideologias, tornando impossível dirigir ou atuar em um sindicato sem ideologia alguma. Dizer que faz isso é um engano pueril, ou pior, má-fé para com os trabalhadores. Até sua negação da ideologia é uma ideologia, meu amiguinho isentão, aliás, a pior e a mais nociva dela. É preciso utilizar os ganhos de experiência que o movimento dos trabalhadores acumulou até aqui e repassá-los a nova geração. Dar esse suporte aos novos lutadores com o melhor que nossa classe conseguiu e, a partir daí, concluir a formação dos mesmos nas ruas, nas lutas, que é onde se conforma a têmpera dos que não aceitam o atual estado de coisas e querem transformar a sociedade, dando um fim à opressão e à desigualdade. 
Para isso é preciso reforçar a formação política das bases e das direções, pois o aprofundamentos da crise conjuntural do capital  aguça os ataques à classe trabalhadora. Por quê? Simplesmente porque a cada vez que se amplia as contradições do sistema capitalista, toda reivindicação dos trabalhadores, por mais simples que seja se reveste de uma importância política incomensuravelmente maior do que seu impacto econômico. Isso resulta do fato de que, essa reivindicação, mínima, vai de encontro à lógica de poder do capitalismo, impede a apropriação e a reprodução da mais-valia em escalas cada vez maiores.
Compreender esse movimento geral pode nos abrir os olhos para a complexa engrenagem, que de uma ponta a outra do sistema precariza o trabalho e nos lança, a nós, a classe produtiva, na mais ignominiosa indigência. Assim, o trabalhador será capaz de relacionar os ataques que sofre diariamente no seu local de trabalho, com os ataques mais gerais sofridos por toda a classe. Ele vai avançar de uma perspectiva individualista, para uma coletiva, identificando-se enquanto classe trabalhadora, sob ataque em todos os locais de trabalho, sejam fábricas, sejam escolas, sejam repartições públicas, sejam escritórios. Impõe-se as direções sindicais que se desejam novas a necessidade de se fazer esse trabalho de formação, um trabalho hercúleo, mas que ao fim trará frutos, pois preparará os trabalhadores para o futuro levante que  esmagará de uma vez por todas a exploração do homem pelo homem!
Assim, não podemos permitir que nossos sindicatos assumam um papel que deveria ser do governo, ou seja, não devemos assumir os custos com saúde, educação, e outros direitos, devemos cobrar que os mesmos sejam bancados pelos patrões e pelos seus representantes no governo!
Não se trata aqui de negar todo e qualquer auxílio que o sindicato possa dar à sua base, nada disso. Mas se trata de fazer retornar ao topo das prioridades do sindicato o que é mais importante: a sua atuação política, retornar ao seu posto de instituição eminentemente política! É construir em cada sindicato a resistência. 

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