sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Uma pergunta em aberto ou o que fiz com cinco anos da minha vida

Fui pastor evangélico por 5 anos. Posso dizer que foi uma experiência única, tanto pelo inusitado da atividade, quanto pelas dificuldades encontradas. Primeiro, devemos admitir que ser evangélico no Brasil é ser mal visto. É ser taxado de fanático, preconceituoso e tolo (não importa quão fanaticamente, preconceituosamente e tolamente a pessoa defenda essa visão, terá sempre alguém tão inepto quanto ela que concorde). Depois o evangélico brasileiro conta com o corpo sacerdotal de mais baixo preparo que se pode imaginar. Gente que se orgulha de não ter estudado e que não dá a mínima pras sutilezas teológicas de sua própria religião. Muitos não consegue entender a rebuscada linguagem usada por algumas traduções da Bíblia e disparam pérolas de humor disfarçadas de Teologia.
Mas voltando ao assunto, minha experiência, eu ingressei como Pastor auxiliar em uma das grandes Igrejas neopentecostais em 2000. 20 ano incompletos, muito desejo de servir a Deus e uma vontade imensa de aprender.
Primeira frustração - Não há o que aprender. Nenhum curso bíblico, nenhuma aula de teologia. Apenas a exigência de fidelidade cega e o repasse de velhos cacoetes e coreografias. O altar nada mais era do que um palco, onde eu deveria representar durante uma hora, uma hora e meia, a grande luta do bem sobre o mal... Para isso deveria usar de orações, cânticos, efeitos sonoros diversos e pessoas em transe, incorporadas com as entidades que acreditavam estar destruindo suas vidas.
Segunda frustração - A obra era de Deus, mas realizada por homens. Lutas por poder, inveja, brigas, desentendimentos, havia de tudo entre os pastores. Havia homens probos, sim, pastores que buscavam mesmo viver em santidade, consagrados, mas havia outros que, bem, não davam tão bom exemplo. E havia a questão da cobrança... não por almas, não pela pregação do evangelho, era uma outra bem mais humana... Resumindo, um pastor com quem trabalhei costumava me dizer: "No altar somos pastores; Descendo do altar devemos ser administradores".
Terceira frustração - O silêncio do Céu. Durante cinco anos eu não fui capaz de perceber o agir de Deus. Não vi o seu tão propalado poder. Não sentia sua atenção às minhas súplicas e às súplicas daquele povo desamparado que chegava à igreja em busca de ajuda... Se você que me lê é um homem de Fé, vai ser fácil imaginá-lo apontando o dedo para mim e me culpando por isso. Mas não quero condenação, nem tampouco absolvição de quem quer que seja. Você amigo, será mais feliz quando parar de julgar de acordo com seus parâmetros, afinal eles se encaixam a você, são sua visão de mundo, não servem para outras pessoas...
Perdi minha Fé. Ainda fiquei um ano inteiro como pastor. Amorfo. Empurrando com a barriga, como em um trabalho qualquer. Atormentado por uma pergunta que reverberou em minha cabeça nos últimos dias:
- O que é pior, descobrir que Deus não existe, e que portanto, nós estamos sós, ou descobrir que ele existe, mas que, definitivamente, não se importa conosco?
Independente da resposta, a vida continua, então, busquemos felicidade e quando a encontrarmos que  possamos com sinceridade atribui-la a quem mais lutou e se esforçou por ela: nós mesmos!
Hoje, anos depois de ter largado o altar, olho para esses anos com nostalgia, mas sem desejo algum de repetir a experiência. 

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