Vivemos dias verdadeiramente confusos. Confusos na medida em que, cada vez mais, estamos deixando de ser cidadãos de um Estado Democrático de Direito para nos tornarmos consumidores. É algo assustador perceber isto. É assustador ter que recorrer a um plano de saúde porque você não consegue vagas na rede de saúde pública. Assustador porque, mesmo que você esteja com seu plano rigorosamente em dia, você pode ter seu acesso a saúde negado pela administradora do plano. Isso quando o plano já não é destituído de diversos procedimentos, porque foi pensado para a população de baixa renda, consumidores de segunda classe que merecem atenção até o momento em que assinam a adesão...
É assustador ver que nossas crianças estão nas escolas, mas que em poucas delas existe realmente esforço e estímulo para que essas crianças aprendam. E você se vê obrigado, caso queira que seu filho tenha resultados positivos na vida escolar, a matriculá-lo nas empresas de educação, disfarçadas de escolas, que imprimem nele um espírito individualista e competitivo, que o acompanhará em toda a vida escolar. É assustador o número desses jovens que tiveram uma educação de ponta, nessas empresas educacionais e que são desumanos para com os demais.
Tudo porque ideólogos decidiram que direitos tradicionalmente ofertados pelo Estado para sua população não são direitos. São privilégios. E que devem ser ofertados como serviços, pela iniciativa privada, tecendo loas ao mercado e antevendo um futuro brilhante para esse admirável mundo novo.
Mas existe resistência, Aqui e ali vozes dissonantes são ouvidas. Isoladas ainda. Mas a maré está enchendo. Aos poucos trabalhadores dos campos e das cidades, sem terras e sem tetos, desempregados, e outros atores sociais, quase sempre esquecido nas planilhas dos grandes ideólogos começam a juntar-se e dizer não! Não para a perda dos direitos, não para a desumanização da vida, não às dívidas impagáveis dos cartões de crédito, cheques especiais, consignados e congêneres!
Essas vozes não querem só o retorno do antigo. Querem algo mais. Querem o novo! E é esse novo que os responsáveis por todas essas mudanças (mudanças que levam para trás, que buscam nos regredir ao passado) querem impedir que nasça! Mas tão certo como o sol nasce mesmo depois da noite mais escura, um dia poderemos dar um basta a toda essa tentativa torpe de nos reduzir a números frios da planilha do burocrata!
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