domingo, 29 de janeiro de 2017

Consumidor ou cidadão?

                Vivemos dias verdadeiramente confusos. Confusos na medida em que, cada vez mais, estamos deixando de ser cidadãos de um Estado Democrático de Direito para nos tornarmos consumidores. É algo assustador perceber isto. É assustador ter que recorrer a um plano de saúde porque você não consegue vagas na rede de saúde pública. Assustador porque, mesmo que você esteja com seu plano rigorosamente em dia, você pode ter seu acesso a saúde negado pela administradora do plano. Isso quando o plano já não é destituído de diversos procedimentos, porque foi pensado para a população de baixa renda, consumidores de segunda classe que merecem atenção até o momento em que assinam a adesão...
               É assustador ver que nossas crianças estão nas escolas, mas que em poucas delas existe realmente esforço e estímulo para que essas crianças aprendam. E você se vê obrigado, caso queira que seu filho tenha resultados positivos na vida escolar, a matriculá-lo nas empresas de educação, disfarçadas de escolas, que imprimem nele um espírito individualista e competitivo, que o acompanhará em toda a vida escolar. É assustador o número desses jovens que tiveram uma educação de ponta, nessas empresas educacionais e que são desumanos para com os demais.
               Tudo porque ideólogos decidiram que direitos tradicionalmente ofertados pelo Estado para sua população não são direitos. São privilégios. E que devem ser ofertados como serviços, pela iniciativa privada, tecendo loas ao mercado e antevendo um futuro brilhante para esse admirável mundo novo.
               Mas existe resistência, Aqui e ali vozes dissonantes são ouvidas. Isoladas ainda. Mas a maré está enchendo. Aos poucos trabalhadores dos campos e das cidades, sem terras e sem tetos, desempregados, e outros atores sociais, quase sempre esquecido nas planilhas dos grandes ideólogos começam a juntar-se e dizer não! Não para a perda dos direitos, não para a desumanização da vida, não às dívidas impagáveis dos cartões de crédito, cheques especiais, consignados e congêneres!
           Essas vozes não querem só o retorno do antigo. Querem algo mais. Querem o novo! E é esse novo que os responsáveis por todas essas mudanças (mudanças que levam para trás, que buscam nos regredir ao passado) querem impedir que nasça! Mas tão certo como o sol nasce mesmo depois da noite mais escura, um dia poderemos dar um basta a toda essa tentativa torpe de nos reduzir a números frios da planilha do burocrata!

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